SÉRGIO WAX
Sérgio Wax nasceu na Itália mas radicado em Belém do Pará. Segundo a poeta e antologista Olga Savary, ele é autor de uma poesia heráldica, "impregnada de um clima amazônico pleno de mistério, sombra, floresta, noite..."
O livro "33 experimentos e uma suite" é a estréia do poeta, com ilustrações de Josael de Oliveira, em preciosa edição do (já lendário) Massao Ohno, com Roswinta Kempf, em 1982. Peça hoje de colecionadores. Digna de registro.
I
ESTRELADA
(de Três Imperfeições sáficas)
Constelações irônicas cercando
florestas liquefeitas, turvo âmago
da violência da noite. Um vento prófugo
do sul vem arrastando
altas cortinas d´água filiforme
para um outro amanhã. Padeceremos
mais um dia de esperança, viveremos
a cinzenta, uniforme
angústia do passado, o sacro medo
das horas que virão. Amargurante
grito do nosso sangue, lento enredo
um sorriso de amante.
SONETO ANTIGO
As sombras lentas andam sobre o muro
deserto do quintal. A fome verde
do cachorro se deita. Como um puro
reflexo de exaustão que se perde
na solidão da noite. Vem um grumo
de nervos silenciosos, quase um grito
parado na garganta, áspero sumo
da violência da dia. Sem atrito
a faca fria do tempo recorta
mais um pedaço triste de vitória.
Aos poucos, deslizamos até à porta
da madrugada, amor que já me prendes:
só podemos viver a leve história
impalpável, a luz que tu me rendes.
GRITOS E SILÊNCIOS
No ruir das coisas:
o seco abater-se dum adeus
deixa silêncios calcinados.
Brancos.
No ruir das coisas:
a eclosão vermelha dum grito
abre a boca a tremores subterrâneos.
Férteis.
No ruir das coisas:
gritos e silêncios.
Tremores no deserto.
Águas antigas, correndo nas raízes.
Página publicada em maio de 2010 |