RUTH MARIA CHAVES
(Nasceu a 2 de abril de 1934 em Belém do Pará. Formada em Letras Neo-latinas e Biblioteconomia. Publicou "Roda Pião", poesia, edição do Jornal de Letras em 1956. exerceU o magistério na Faculdade de Filosofia de Campos, onde passou a residir, lecionando Língua Portuguesa.)
Poemas extraídos da antologia A NOVÍSSIMA POESIA BRASILEIRA. Seleção de Walmir Ayala. Rio de Janeiro, 1963.
SONETOS DE ABRIL
(VIII)
Pelas veredas lentas desse abril
chegarás, companheiro dos crepúsculos,
e silêncio tão vasto vinga em ti
que o azul retém seus pássaros mais bruscos.
Como ficaste em mim, de mim ausente!
Que constância de ti é meu socorro
agora (é mais que amor) que és dom e és tempo
e de tempo e de adeus se fez teu ouro.
Astro livrado às vastidões, mas fixo
aceso em sombras pelo céu se esbate
teu rosto irreversível, quase um signo,
que além do tempo tange eternidades.
Somos sombras de nós, abris remotos,
e as horas entardecem nos teus olhos.
QUARTETOS Â ESFINGE
Árduo colosso
ardes deserta:
no corpo fera
face donzela.
Não te consome
o tempo. Tara
híbrida morte
quem te aplacara!
Mas te defronto,
jogo sinistro.
Teu olho — vôo
ad infínitum
(irado sono)
é raro lince
a que não ouso
valer-me esfinge.
Não me proponho
antes suplico:
diva demônio
enigma signo.
Senhora fado
mais inflexível,
último santo
dos impossíveis!
Crispo-me calo,
pássaro branco.
Renego raivo
em mim e morro
que amor não livra
meu fogo e choro.
Oh, tu! Decifra-me
ou me devoro.
CHAVES, Ruth Maria. Roda, pião! (cantiguinhas). Capa e ilustraçòes de Oswaldo Martins. Rio de Janeiro: Jornal de Letras, 1956. 64 p. 15x23 cm “ Ruth Maria Chaves “ Ex. bibl. Antonio Miranda
7 Cantiguinhas de um tempo atrás
(fragmento)
I
Ciranda, cirandinha,
vamos todos cirandar...
O vento soprou da infância,
me trouxe muito de mim;
vestia de azul e branco
mais um laço de cetim.
Éramos sete na roda,
se outros faltavam, não sei;
você era rei, eu rainha,
os cinco, os filhos do rei.
Ciranda, cirandinha,
vamos todos cirandar,
vamos dar a meia-volta,
volta e meia vamos dar.
O vento nos vai levando
no tempo de nós crianças.
Quando eu for grande (dizia)
me largo e ninguém me alcança.
Menina de azul e branco,
um dia já fui você,
agora você na roda
vai rodando e não me vê.
Ai, que vontade, meu Deus,
de roda outra vez brincar.
Ciranda, cirandinha,
vamos todos cirandar.
Página publicada em fevereiro de 2009. Ampliada em novembro de 2015.
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