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PAULO VIEIRA
Nasceu em São Miguel do Guamá, Pará, em 1978. É engenheiro florestal. Mestrado sobre o cotidiano de vida na floresta amazônica.
Infância Vegetal - Prêmio IAP de Literatura 2004
Orquídeas Anarquistas - Prêmio IAP de Literatura 2007
Neto de agricultores familiares expulsos de suas terras, por uma enchente provocada pela instalação de barragem no Estado do Paraná, na década de 1970, Paulo Vieira nasce em São Miguel do (rio) Guamá, no Pará, e muda-se para Belém com a mãe e os avós, em 1980, aos dois anos de idade. Vive uma infância amazônico-urbana (criado pelos avós) passada na periferia da cidade, entre os restos de uma floresta perdida na poeira do caos, ouvindo a voz arfante do avô lhe descrever aquele pedaço de chão que um dia ainda vai conseguir... Seus primeiros versos surgem nessa época, marcada pela ausência do pai. Movido por uma devoção a Zé Terra (o avô), Paulo cursa Engenharia Florestal, época em que descobre seu amor pela Amazônia,
Blog do autor: http://vieiranembeira.blogspot.com
"Paulo Vieira dá-nos o poema ágil, como pedia Oswald de Andrade." Benedito Nunes
água do Ser
No mar das palavras
compondo
a canção submarina
de meus dias de chuva
a feiticeira
águas
março
mar aço
das pedras
decompondo folhagens
ao furor das cheias
em minhas jovens veias de peixe
Infância vegetal (2004)
fraturas do tempo
sinto a correria dos anjos,
os pequeninos anjos na escada, onde vão?
(exasperado, não sei o caminho:
as fraturas
do tempo
expostas
em minha
carne)
Ibidem
visão do ninho
eu não queria voar como os pássaros
mas confesso
sinto inveja dos passos calmos
do dia que (azul) carrega-os nas costas
Ibidem
tempoema
o poema me curva
para o açoite do tempo.
quebro a ampulheta
mas o espelho turva.
Ibidem
Detalhe
o desencanto embrutece os lábios
sem saber que o beijo
paira entre
borboletas
.
Passeio no Bosque
foste passear no bosque
- as árvores passeiam em tua sombra
Sétimo Suicídio
Em mim
apunhalei
o último
de mim
Poema
Ao submeter-me à geografia da noite
aceito meu alqueire de solidão
Primeiro Canto
Meio-dia:
revivo a voz morta
do galo
e vou para casa
almoçá-lo
De
Paulo Vieira
livro para pescaria com linha de horizonte
Ilustrações d´Arcy Albuquerque
Belém, PA: Embrapa Amazônia Oriental, 2008
Edição conjunta: impressão textual e em Braile, com o apoio da Fundação Dorina Nowill para Cegos. Formato 18x30 cm
ISBN 978-85-87690-70-8 e IBSN 978-85-7383-403-1
(à venda na loja virtual: www.sct.embrapa/liv
Os poemas foram premiados no IV Concurso da Casa de Cultura Mário Quintana.
“é nesse mundo vegetal que a infância continua pescando. quando paulo vieira fisga alguma coisa, no seu anzol vem, palavra após palavra, o horizonte, feito linha e peixe.” BENEDITO NUNES
quando a tarde pontualmente
cai na cova escura e fria
torna-se a própria semente
que mais tarde será dia
comércio
as formigas operárias trocam
as folhas que carregam
por cristais de açúcar
no mercado verde
inscrição para uma praça
aqui
repousar os pés sobre a grama
não devia ser proibido
(a pretexto de um cuidado falso)
devia era ser exigido
mas descalço
Página publicada em dezembro de 2009. ampliada e republicada em julho 2011. |