PAULO FENDER
(1912-1981)
Poeta, nasceu no dia 14 de abril de 1912, em Belém, Pará. Exerceu as profissões de médico, jornalista e professor. Como suplente do senador Lameira Bittencourt assumiu o cargo no dia 02 de janeiro de 1960 devido a morte do titular. Permaneceu no cargo até 31 de janeiro de 1963. Foi membro do Partido Republicano Mineiro (PRM), do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e do Movimento Trabalhista Renovador.
FÉNDER, Paulo. Sonetos de Paulo Fénder. 2ª. edição. Brasília: 1960. 75 p. 2ª. edição. Brasília: 1960. 75 p. 16x23 cm. Impresso pelo Departamento de Imprensa Nacional.
O SONETO
As catorze colunas deste augusto
e majestoso templo de Petrarca
assombrado transponho, olhando a custo
cintilações que a vista não abarca.
Mas, a missão maior, vencido o susto,
com a qual minha alma, imperturbável, arca,
é a de imprimir ao templo a minha marca,
razão por que as imagens nele incrusto.
E eis-me no apostolado de um convento,
enquanto ao culto da Arte me submeto
e a perfeição, lavrando o verso, tento
na oficina da quadra e do terceto,
onde vibro o cinzel do pensamento,
pela imortalidade do SONETO !
A SECA
Os sertões, estiolados, se esbraseiam,
lastra a seca infernal, volante e bruta,
sobe a poeira voraz da terra enxuta,
a fauna e a flora, exaustas, se derreiam.
O homem, descoroçoado, já não luta
contra os imponderáveis que o rodeiam.'
O suor e a sede... Enfim, preces se alteiam
da alma emigrante, trôpega e impoluta.
Entre a gente, que a seca desbarata,
eu disse/certa vez, a um retirante:
-— Que linda terra, a sua ! Mas, ingrata!
E ele, dentre os seus trapos, respondeu,
estremecendo ainda o torrão distante:
— Não é da terra, não, moço ! É do céu ! '
A POROROCA
A canoa veleja em rota escura
e corta águas revoltas, empopada,
enquanto ao leme vai, de mão segura,
o caboclo, adentrando a madrugada.
Súbito, joga, à fúria da nortada,
geme o velame, ganha o rio altura,
partem-se vagas, cede a quilha dura,
e a nau rebenta e afunda, destroçada !
O homem, vencido pela pororoca,
O amazônico instinto satisfeito,
para reinar, depois, a antiga calma.
E o episódio fantástico me evoca
o estraçalhar de amores no meu peito,
antes da paz que agora me vai nalma.
Página publicada em julho de 2014
Palavra-chave: metapoesia, poesia sobre poesia.
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