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MARCOS QUINAN
Poeta, músico, artista plástico e de teatro, animador cultural e empresário das artes, a exemplo do empreendimento da cooperativa LADODEDENTRO www.ladodedentro.com.br
Nascido em plagas goianas, não esconde o orgulho de ter escolhido a Amazônia como o chão propício para expandir sua inspiração que o fez aplaudido compositor, artista plástico e escritor. Teve, ainda, uma passagem pelo teatro, no despertar de sua vocação artística ainda jovem, lá mesmo em Goiânia. foi ator, iluminador, diretor e dramaturgo, fundando, com Paulo Roberto Vasconcelos, a Companhia de Teatro do Autor Brasileiro. Com Roseli Naves e Nilson Chaves, nos anos 80, fundou a Gravadora e Editora Outros Brasis.
Contudo, esse “sertanista da vida, das idéias, dos sonhos” conforme o define o jornalista Edyr Augusto Proença, só resolveu mostrar-se ao público ao atingir seu meio século de vida. Antes disso, associava sua atividade empresarial a eventos artísticos, mas sem expor sua própria criação. E sua vida, hoje, está indelevelmente registrada em livros, pinturas, esculturas, músicas e letras editadas em cd’s, uma bela produção que tem recebido os mais entusiásticos comentários da crítica.
Extraído do sítio: www.festivaisdobrasil.com.br
Livros: 2006 – “Jeito de Sentidor” (2006); “Oração de floresta e rio e outros poemas” (2003); “Sertão do Reino”, contos (2003); “Sertão d’água”, romance (2001); “Sertão do São Marcos” , contos (2000); “O povo do Belo Monte” (2004);
CDs: “São José Diligente” (2005); “Rio do Braço” (2002); “Dentro da Palavra” (2001); “Canção dos Povos da Noite” – instrumental (1998);.
“Caipira pós-moderno, Quinan tem na pele uma colcha de retalhos do chão vivido em 54 anos de estrada - os primeiros 18 anos em Ipameri; 11 em Goiânia, um em Porto Alegre, outro no Rio e 23 anos em Belém do Pará. Sensibilidade, intuição, criatividade e muita pesquisa de linguagem, história e fatos pitorescos da vida do homem simples revelam-no mais que um sertanista. "Sou um autodidata que escolheu aprender o Brasil", confessa.” ANGÉLICA TORRES
Veja texto completo da matéria de Angélica Torres sobre o autor no rodapé da página.
Veja também poema de Ricardo Gonçalves, extraído do livro SUBIDOS de Marcos Quinan: http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/sao_paulo/ricardo_goncalves.html
“Gostei verdadeiramente do CD RIODOBRAÇO de Marcos Quinán, um dos mais telúricos mas sem folclorice, qualidade de raiz e de arranjos sofisticados... E letras excelentes. De se ouvir muitas vezes”. Antonio Miranda
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Porto Velho
Esturro silencioso
Esbanjando rebojos
Perfumando o ar
Vestindo a mulher ausente
Que na lembrança mora
Madeira desce madeira
Despe meu olhar
Fincando nos olhos
A imensidão
Ferindo o tempo
Da minha angústia
Limpando as terras caídas
Que tenho no coração
Segue, segue ...
Em harmonia, ramaria
Bracejando lentas
Entre estridor
E raízes gemendo
Incendidas de embriaguez
Dançando nos cantos das margens
Revejo o Madeira
Descendo madeira
Emoldurando em seus mistérios
A sensual mulher ausente
Bramindo curvas
No desenho do pensamento
Entre meu olhar e o rio
Corpo Presente
Todas as igrejas do mundo
Hão de fechar suas portas
Quando começar a madrugada
N elas há de estar meu corpo
Apodrecido para ser comido
Pelos ratos e seres miúdos
Que nos porões espreitam
A alma na carne empobrecida
Hão de roer todos os pedaços
Do que pensei ser
Disputarão nas dentadas
O que está perdido em mim
E o amor impregnado
Nos meus sentidos restará
Final como carcaça
Abandonada na escuridão
Dentes luzirão
Fantasmagóricos
Em volta do cadáver
Insepulto da minha alma
Pelos bares da cidade
Um poeta exibirá
Todos os dias
O recipiente apropriado
Vazio de minhas cinzas
Proclamando aos habituais
Era
Corpo e alma
Um filho da puta
E todas as igrejas do mundo
Continuarão a fechar suas portas
Quando começar a madrugada
Nelas estarão outros corpos
Para o apetite dos cães famintos
Que decerto também comerão
Do amor impregnado na carcaça
De alguma alma
Primavera
O verde engolia o silêncio
E invejava o instante
Inventando mormaços
Havia entrecortes de solidão
Espalhando ermos e sinais
Ali o inesperado
Era esperado
Entre suores e restos de adolescência
Como encanto conspirado
Em formas e zelos
Dois seres
Recitavam seus
Sins e nãos
Jurando um jeito de nascer
Amargura da Língua
De um mote de Paulo Fraga e para ele
Um poeta acadêmico
Saiu na sacada da frente
Olhou pra esquina da rua
E viu o povo adjacente
Não mostrou seus versos
Amestrados noutros modos
Não podiam saber entender
Receitava seus arrogos
Um país de iletrados
Não merece meu poema
Pensou, prezou e entrou
Pra dentro da sua cena
Um poeta do povo
Parou no momento da esquina
Nos seus versos de verdade
Recitou seu modo e rima
Não deixou nenhum passante
Sem lembrar alguma estima
Em seu modo postulante
Escolheu matéria-prima
Um país tão judiado
Carece do meu poema
Pensou, bradou e fincou
A vida em sua cena
Amargura da nossa língua
No jeito de dois irmãos
Um exprime tão claro
O outro não tem noção
Extraídos da obra JEITO DE SENTIDOR – maizinhas, enversados e recorrências... São Paulo: Scortecci, 2005.
QUINAN, Marcos. Vaqueiro marajoara: encantarias, chulas e ladainhas. São Paulo: Scortecci Editora, 2016.101 p. 14x20,5 cm. ISBN 978-85-366-4873-6 Ex. bibl. Antonio Miranda
No lugar Marajó
Estribo vestindo dedos
Rédea solta nas mãos
Vez em sempre
Os pés descalços
Calçando o mundo
No lugar que passado
Não é longe
No lugar Marajó
Meu sertão
Doutrina
“Onde índio se escondeu
Quilombola já se escondeu
Curiboca esconde agora”
Histórias esquecidas
Histórias esquecidas
Nas noites de fogueira
Canto de lamento
Contando a vida inteira
No mar o sentimento
No rio sobra razão
No campo o fundamento
No encanto a sedução
Surrão sempre atulhado
De trabalho e valentia
Um tanto de solidão
E outro de alegria
O rogo numa canção
São parentes por destino
Conhecem tanto o perdão
Quanto qualquer desatino
Deu-se em merecimento
Na quantia do exato
Vaqueiro quando conta
A história vira fato
Doutrina
“Cavalo quebrantado
Pelo ofício de valia
Trabalhando em dobrado
Descanso já merecia”
Ensinando navegar
Esqueleto de paricá
Braçame de pracuíba
Forro de sapucaia
Agrado para toda vida
Tatajuba serve pra tudo
Da quilha até o timão
Acabou pau amarelo
Cedro não tem mais não
Acapu já rareou
Não adianta querer tirar
Se achar ao menos um
Espere o seu serenar
Formato se faz com forma
De sapucaia e piquiá
Itaúba turu não vaza
Calafete o que furá
Depois firme o flutuo
Ensinando navegar
Afine cada balanço
E batize em alto mar
Doutrina
“Sorte pra quem partir
Descanso pra quem chegar
Seu cheiro ficou aqui
O meu eu trouxe do mar”
Pedido de amigação
Permissão de parentesco
Pediu olhando pro chão
De lá quis levar Maria
Dona de sua afeição
Ao passar pela lindeira
Sentiu um tenso na mão
Semblante empalidecido
Muita dor no coração
Finou sem um gemido
Na porta da aflição
Dentro do infortúnio
Que a vida deu razão
Restando deixou Maria
Viúva sem atenção
No amor só de aceitar
O pedido de amigação
Doutrina
“Coração bate apertado?
Pode ser algum defeito
O fim que já é chegado
Ou amor doendo o peito”
QUINAN, Marcos. Encenações. São Paulo: Scortecci, 2017. 814 p. 14x20,5 cm ISBN 978-85-366-5191-0 Ex. bibl. Antonio Miranda
"Encenações" é um livro de contos, mas alguns poemas são "proesias"... Como este:
Roupa velha
O acidente vascular cerebral o deixara com a metade do corpo sem os movimentos, o rosto quase todo paralisado. Por isso, nem era preciso fingir-se um imbecil.
Suportava, todos os dias, a rotina e o sol, a cadeira de rodas passando pelo irregular do passeio, dando solavancos.
Suportava a conversa dos amigos e conhecidos como se ele fosse um débil mental. Não se irritava.
Dentro do pensamento esbravejava dezenas de palavrões para os conhecidos e suas complacências.
Durante o dia estendia o pensamento para tudo o que gostava de fazer e fingia poder menos do que podia, reservando energia.
À noite, abria o guarda-roupa e vestia o corpo são que tivera o cuidado de guardar atrás do velho terno e saía escondido para a boemia.
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Sina do sertão
O artista multimídia goiano Marcos Quinan recria a alma do interior brasileiro em prosa, versos, canções e telas
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Angélica Torres
Especial para o Correio :Pensar
pensar@correioweb.com.br
Divulgação
Água murmurando saudades debaixo da ponte do Rio do Braço. Tropeiro na estrada ligando fatos, personagens. O padre, o dono da venda, o fazendeiro, a dona da pensão, demônios variados do imaginário popular. A ética da gente simples, suas "malezas", sua religiosidade. Esse universo, temperado com a linguagem oral do interior de Goiás do início do século passado e trabalhado com originalidade e vigor, é uma amostra da receita dos contos do livro de estréia do escritor goiano Marcos Quinan, Sertão do São Marcos, lançado em 2000.
Quinan somou suas memórias de infância e adolescência às informações de pesquisa histórica e de linguagem oral da região e escreveu os contos de um fôlego só. Criou uma Macondo muito particular sua, ao tramar personagens e histórias com liberdade de estrutura narrativa, que resultam num quase romance. Pôs o tropeiro Baldino como eixo de comunicação entre os habitantes, personagens ora inventados, ora resgatados e recriados, que vão aos poucos povoando aquele sertão, depois chamado Distrito Arraial de N.Sª. da Conceição, Distrito de Vai Vem, Município de Entre Rios, até chegar a Ipameri, onde o escritor aporta, no livro, pela via do poeta.
Os vários contos atentados por demônios são um particular na literatura de Quinan, assim como a galeria de nomes curiosos que dá aos personagens. E mais: o alumbramento que causa a fala do caipira; a melodia que emana de palavras, contextualizadas ou não, como "sabença", "parecença", "avulia" (avalia) e a graça de expressões como "pôs reparo", "pôs querença", "fizemo de um tudo". O matuto fala e pensa poesia em sua simplicidade, no ermo de seu despojamento, e o escritor requinta aquele universo com humanismo e humor.
Caipira pós-moderno, Quinan tem na pele uma colcha de retalhos do chão vivido em 54 anos de estrada - os primeiros 18 anos em Ipameri; 11 em Goiânia, um em Porto Alegre, outro no Rio e 23 anos em Belém do Pará. Sensibilidade, intuição, criatividade e muita pesquisa de linguagem, história e fatos pitorescos da vida do homem simples revelam-no mais que um sertanista. "Sou um autodidata que escolheu aprender o Brasil", confessa.
Desse seu aprendizado surgiu no ano passado uma ficção amazônica enfeixada nas aventuras de Sabá do Talho, um herói paraense desmemoriado da Guerra de Canudos. Narrado numa mescla de Português-Nheengatu, Sertão d´Água saiu no ano passado, quando mais um livro de contos do autor já estava a caminho de perfazer sua trilogia sertaneja. Sertão do Reino, que será lançado em agosto em Brasília, vem trazer o dia-a-dia dos negros forros e escravos, índios, caboclos e mestiços que fizeram a Cabanagem, única revolução popular nacional que levou o povo a assumir o poder, na então província do Grão-Pará, entre 1935-40.
"Personagem, tenho coração goiano, mãos amazônicas e a alma bem brasileira. Não descarto as influências de tudo o que freqüentou a minha vida, desde a escola, em Ipameri, quando o professor Zuzu aparecia com os novos autores para as aulas de português", diz Quinan, citando uma lista que vai de Guimarães Rosa a Bernardo Élis, de João Cabral a Cora Coralina, de Nelson Rodrigues a Plínio Marcos, entre mais uma dúzia de referências.
Músico, dramaturgo etc.
Alfabetizado pela santeira Neusa Garcia, sua irmã, Marcos Quinan entrou na escola a partir da 5ª série do ensino fundamental (à época, admissão). Seu espaço nas artes já estava traçado desde então. Transitou pelo teatro, como ator, diretor e dramaturgo, chegando a trabalhar com Ziembinski e Paschoal Carlos Magno. Enveredou pelas artes plásticas pintando telas que ilustram seus produtos e que decoram mais de 300 ambientes Brasil afora. Produtor cultural, criou a gravadora Outros Brasis, destinada a produzir artistas alternativos do país todo e que deu suporte a inúmeros músicos da Amazônia, além de também revelar o compositor Marcos Quinan.
"Fiz 50 anos e decidi mostrar minhas coisas", conta ele, que estreou em 1998 com o CD instrumental Canção dos Povos da Noite, sofisticado e simples, a um só tempo, nas seqüências melódicas e nos arranjos que evocam música de câmara e o folclore nacional. Poeta que conserva naturalmente sua delicadeza rural, Quinan recria e dignifica a música sertaneja nas suas baladas, seus maracatus-baiões e toadas gravadas noutra experiência, o CD Dentro da Palavra (2001).
Com interpretações de Flávio Venturini, Jane Duboc e Nilson Chaves, entre outros, as canções conjugam o menino e o poeta em seu universo sonoro-pictórico, como no meta-maracatu-baião Cuida da Palavra, em que canta: "Substantivos na copa das árvores/ quem foi que achou?/ Artigos nos troncos descendo no rio/ quem foi que jogou?/ Pronome que é nome dos deuses nas matas/ quem foi que encontrou?/ Adjetivos são húmus na terra/ quem foi que pisou?..."
Rio do Braço, seu terceiro CD, sai em breve, mesclando instrumental e canções, com sotaque bem goiano, anuncia.
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Trecho
"Rudiei Arrependidos evitano conferição. O sol no arto da tarde num deixava firmá as vista e no arrodeio me vi perdido. A mulada no desassussego de caminho novo, agitada, andava no ponto do disparo. I´eu num avuliava nada não, o senso ficava só no pensá em Mundica, filha mais nova de seu Tertuliano e dona Idalina, primor de donzela, fosse nas prenda ou nas anca farta, era toda buniteza vazada nos zói noturno, mostrano só iscundição."
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Sertão do São Marcos - Letraviva, R$ 22,00.
Sertão d´Água - ProjeCto Editorial, R$ 22,00.
Canção dos Povos da Noite - Produção de Eudes Fraga, 20 faixas. Independente.
Dentro da Palavra - Produção de Eudes Fraga, 17 faixas. Independente.
E-mail: quinan7@hotmail.com
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QUINAN, Marcos. Subidos. São Paulo: Scortecci, 2019.
127 p. ISBN 978-85-366-5864-3 Ex. bibl. Antonio Miranda
/Capítulo extraído do livro acima em que Marco Quinan narra uma situação em que é lido o poema de Ricardo Gonçalves que reproduzimos aqui: /
A ÚLTIMA NOITE
Na noite que antecedeu a partida se reuniram. O encontro foi de muita conversa e relatos. Eugênio, para encerrar, com seu jeito descontraído, pediu a palavra e declamou o poema "Rebelião":
Com gemidos agoureiros
Num pavoroso lamento
Lá fora perpassa o vento
Chicoteando os pinheiros
E a noite, caliginosa
De uma tristeza suprema,
E como a boca monstruosa
Da monstruosa caverna
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Chove. O arvoredo farfalha |
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Soturno o trovão ribomba |
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Como longínqua metralha |
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Depois o silêncio tomba |
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Pávido e trémulo, escuto |
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Mergulho a vista lá fora |
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E vejo a terra de luto |
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E ouço uma voz que apavora
Como um vago murmúrio
Mansa a princípio ela ecoa
Depois de um grito bravio
Que pela noite reboa
Que para a noite se eleva
Num pavoroso transporte
Como soluço de treva
Como um frémito de morte
Essa voz cheia de ameaças
De imprecações e rugido
E o clamor das populaças
É a voz dos desprotegidos Medonha, relutante e rouca
Vem desse mundo sombrio
Dos que tiritam de frio
E não têm pão para boca
Vem das lôbregas choupanas Onde em tarimbas sem nome
Há criaturas humanas
Agonizando com fome
Vem da cloaca deletéria
Em que a "Justiça" comprime Esses que a mão da miséria
Pôs no caminho do crime
Doa quartel — açougue enorme
Onde à espera da batalha
Morta de fadiga, dorme
A carne para metralha
Dos hospitais, dos hospícios
Das tascas onde ressona
A grei de todos os vícios
Que a miséria proporciona
Ah! Nesse grito funesto
Nesse rugido, palpita Um rancoroso protesto
E o povo, a plebe maldita
Que, sombria, ameaçadora
Nas vascas do sofrimento
Mistura aos uivos do vento
A grande voz vingadora
Tremei, vampiros nojentos
Tremei, nos vossos dourados
Palacetes opulentos
O sangue dos desgraçados
Sugai, bebei gota a gota
Não tarda que chegue o instante
Em que a turba se levante
Sedenta, faminta e rota
E quando comece a luta
Quando explodir a tormenta
A sociedade corrupta
Execrável e violenta
Iníqua, vil, criminosa
Há de cair aos pedaços
Há de voar em estilhaços
Numa ruína espantosa
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Página ampliada e republicada em novembro de 2017; ampliada e republicada em junho de 2019
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