MÁRCIO GALVÃO
GALVÃO, Márcio. Outono. Belém, PA: Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, 2014. 84 p. 13,5x20 cm. Prefácio de Antonio Juracy Siqueira. “Prêmio Dalcídio Jurandir de Literatura 2013 – Categoria Poesia” Ex. Biblioteca Nacional de Brasília
“Por vezes com versos avessos ao amor e afáveis ao funesto da vida, Márcio Galão da Silva é biólogo, sonetista, nascido em Belém do Pará, e cultiva a métrica e burila a rima como elementos essencialmente imprescindíveis à sua produção literária”. (Extraído da orelha do livro)
DEFENESTRADO
No meio da madrugada, desperto,
Reabro as janelas do meu mundo;
Nas asas do crepúsculo fecundo,
Exponho-me ao luar no céu aberto.
Não me preocupo em manter-me discreto
Aos olhos daqueles que passam à rua;
Perco-me absorto a cortejar a lua
Como quem mira a trajetória de um inseto.
Penso no meu longínquo amor incerto,
No meu confuso amor distante,
E pulo da janela, delirante,
Na ânsia louca de chegar mais perto.
ANTAGÔNICOS
Sou de poucas palavras,
Poupo o verbo e odeio interjeições.
Tu és de falar pelas tetas
E fazer mil indagações.
Sou de papai e mamãe na cama
E gosto das coisas normais.
Tu és de rolar pela lama
E arrancar as plantas dos mangais.
Corro por detrás das ribanceiras;
Não sou montanha, sou ladeiras
Que rolam pedras pros mananciais.
E o teu fascínio é trepar o Evereste,
E já não sabes se vestes ou despes
As roupas sujas de nós tão desiguais.
Página publicada em março de 2015
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