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LUCILO FÉNDER

 

 

CONFISSÃO DE UM CEGO

 

 

Dissera o padre ao cego confessando :

— Filho, se amaste muito nesta vida,

ajoelha-te e confessa aos pés da ungida

Virgem de Nazareth. Faze o que eu mando.

 

— Padre, responde o cego : tateando

onde piso, caminho sem guarida,

escravizei-me a uma visão querida,

a excelsa Nazareth, que vivo amando.

 

Não é essa Nazareth dos eucaristas,

é uma santa mulher, a quem me entrego,

que pude ver quando ainda tinha vistas.

 

(Pausa, reflete e ao contra-senso apela.)

Padre, perdoa, o meu amor é cego,

e eu vejo tudo pelos olhos dela !

 

 

“Nota bene — Este soneto que tem sido apontado como uma jóia da poesia brasileira, foi publicado há mais de meio século, em Belém do Pará, pelo pai de Paulo Fender, o médico, poeta e jornalista Lucilo Fender, de saudosa memória nas letras paraenses, e dedicado à sua esposa, D. Maria de Nazareth Fender, genitora do autor. A forma em que hoje se publica é a da última versão deixada pelo poeta.” Extraído do livro:
FÉNDER, Paulo.  Sonetos de Paulo Fénder.  2ª. edição. Brasília: 1960.  75 p.  16x23 cm. Impresso pelo Departamento de Imprensa Nacional. 

 

 

Página publicada em julho de 2014

 


 

 

 
 
 
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