KLEFFERSON LOUREIRO FARIAS
Nasceu em 1979 no município de Santarém-novo, nordeste paraense. Participou de movimentos culturais como teatro mambembe, capoeira e danças folclóricas. Licenciado e bacharelado em História pela Universidade Federal do Pará, atua em escolas públicas e particulares desde 2007.
FARIAS, Klefferson Loureiro. Rios amargos. Olhares perdidos. Fragmentos poéticos. Belém, PA: Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, 2014. 127 p. 13,5x20 cm. “Prêmio Dalcídio Jurandir de Literatura 2012 – Categoria Poesia” Ex. Biblioteca Nacional de Brasília.
DISFASIA
Rios à noite são labirintos
São muitos braços estreitos e compridos
Todos me agarram
São como os teus, não onde terminará a entrega
Mergulho onde a luz não alcança, onde nada me devora.
Continuo neles, braços, rios, águas escuras
Fonte inexaurível de prazeres
Deslizo o corpo; enche a margem úmida
Mas, ainda com sede
Bebemo-nos.
Palavras em minha boca ganham vidas incompletas
Morrem antes de eu pensar em encontrar a saída
Não há tempo para discursos.
Soltamos na correnteza
O que pode flutuar
E o que não flutua, afunda e no fundo fecunda
Outros seres.
Encho o pulmão de líquido como a um peixe
Os ossos encharcados resistem.
Permaneço neles compulsivamente.
Rios imensos
Teus lábios se abrem em riso
Pela força das águas
Que no teu ventre gira com a força da lua
Morremos juntos com nossos desejos
No silêncio que deixa a maresia quando passa.
Palavras incompletas de sons dissonantes param
Suspiros
Embarcamos nelas
Até o rio mais largo
De onde só se vê céu e estrelas
E as palavras encontram sua
Completude e sonoridade.
PESCARIA
A garça pesca o peixe
À margem do rio silencioso
O caboclo pesca o fim da agonia
Quando o peixe vem no anzol dançando
O rio tudo vê
Tudo sente
O que nele deságua
Ele sabe que alguém espera paciente
Pelo homem inocente que amanheceu remando
“Nada de mal acontecerá”
Reza ansiosa a mãezinha
De pés ainda úmidos
Chega em casa na metade do dia
O caboclo ri. Todos riem.
Até os peixes.
Página publicada em março de 2015
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