JURANDYR BEZERRA
1928 – 2013
(José Jurandyr de Araújo Bezerra)
O poeta Jurandyr Bezerra, nascido em Belém do Pará em 1928, e radicado no Rio de Janeiro de 1960 até seu falecimento em 2013, publicou apenas um livro, Os limites do pássaro, em 1993. Jurandyr é o menos conhecido dentre os poetas modernos do Pará que consolidaram obras ao longo da segunda metade do século XX.
Ainda assim, mereceu a atenção de leitores como Carlos Drummond de Andrade e Antônio Olinto que, em 1958, premiaram-lhe. No arquivo do paraense, vinculado a sua biblioteca, ambos conservados na casa onde vivia na zona norte carioca, permaneceram oito livros de poesias inéditos – As águas de Mara, A lâmina convexa, Configurações, Superfície, O rio da minha aldeia, O signo transverso, A rosa de Jericó e outras notícias da morte e Sombra submersa: recordações da Amazônia –, manuscritos em que se distinguem os trajetos do processo criativo. Ali está também um exemplar de trabalho de Os limites do pássaro, e a boneca da seleta inédita organizada pelo autor, sob o título O verbo não conjugado – 100 poemas.
Extraído de
POESIA SEMPRE. ANO 8 . NÚMERO 13 – DEZEMBRO 2000. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 2000. ISBN85-901646-1-6 Editor Executivo Ivan Junqueira. Ex. bib. Antonio Miranda.
Tempo
No vaso,
a rosa vermelha
de minha avó.
O espaço ocupado
pela rosa é tão vermelho,
quanto o tempo.
Mas o tempo
busca (em si mesmo),
alguma coisa
quem não seja
nem rosa,
nem vermelha.
A paisagem
Fotografia,
áspera,
do lado avesso.
Um declive,
uma pedra,
uma sombra.
Nenhum rastro
das mãos, além
da cicatriz,
atrás da sombra.
Ontem,
neste mesmo lugar,
a paisagem
era um gesto.
Fragmentos para uma canção de ninar
Na mesa, uma laranja.
Ao tocá-la, corto-me. Fundo,
onde descubro o momento
da flor
(da laranjeira),
da filha (ou fruta)
cultivada.
(...)
Não colhida (laranja),
nem violada
por pássaros.
Não trazida, no cesto
(ou braços), até a margem.
Bailarina (no ar) Adormecida.
(Madura, sobre a mesa).
Entre a doçura e nada.
Página publicada em maio de 2018
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