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Foto: http://smcanto.blogspot.com.br

JOÃOZINHO GOMES

 

Joãozinho Gomes nasceu em Belém do Pará, no dia 20 de outubro de 1957. Aos 12 anos escreveu algo que imaginou ser um poema, descobrindo assim, sua vocação para a poesia.

A vida o guiou para a música popular brasileira. Hoje é autor de mais de quinhentas músicas compostas ao lado de seus parceiros (alguns consagrados no cenário musical do pais). São eles: Chico César, Luli , Lucina , Cláudio Nucci, Jean Garfunkel, Jane Duboc, Eudes Fraga, Nilson Chaves, Walter Freitas e tantos outros artistas da nossa região amazônica. Ao longo de sua trajetória, parte de sua obra foi gravada por variados intérpretes, entre eles: Leci Brandão, Vânia Bastos, Leila Pinheiro, Selma Reis, Flávio Venturine, Renato Brás, Geraldo Azevedo, Jane Duboc, Vital Lima, e etc. Joãozinho Gomes, prepara o lançamento do CD “Constelação de Parentes” em parceria com Val Milhomem, compõe ainda o musical “O Canto (Em)Cantado de Oirãdedê”, com Sérgio Souto e Colho Cura (extraído do livro “Sertão do Reino” do escritor e compositor Marcos Quinan) com o próprio Quinan e Sérgio Solto. Prepara ainda o seu primeiro livro de poesias, intitulado “A Flexa Passa“. 

GOMES, Joãozinho.  A flecha passa: e poemas diversos.  2ª ed. revista e ampliada.  Belém, PA: FCPTN / CENTUR, 2013.  159 p. (Selo Ildefonso Guimarães de Literatura) 14x21 cm.  Desenho da capa: Uirandê Gomes, Brenda Failache.  “ Joãozinho Gomes “  Ex. bibl. Antonio Miranda


O Arco Retesado

O arco retesado arremessa-a...
(a flecha passa e corta o infinito,
o aço ao osso é puro atrito)
e cai ao solo um moço: é Nesso!

E eu com isso? Dejanira nua
é todo o universo, e eu a mereço!
Multiplicar-me-ei em seu regaço,
e quanto mais diverso, mais

devasso, e quanto mais devasso
mais perverso. Danem-se Hera
e Nesso! Héracles, salvarás
Dejanira do falo desses versos?

 

O Espinho de Ferro e a Carne

Para que morras com a flecha encravada no peito
e a minha carne sangre por ti, atravessei a tempestade.

Do teu sangue nascerá um astro incolor
e perfumará o universo — o mênstruo de Hera —
a bélica rosa aos lábios de Ares, e brotará na pedra
feito o cacto à ambrosia; flor do fogo,
                              (o Espinho de Ferro e a Carne!)
a rosa da morte tatuada em teus seios,
o beijo de Ares em ti. E a cega paixão do arqueiro?

Para que morras com a flecha encravada no peito
e a minha carne sangre por ti, atravessei a eternidade.

 

O Impacto do Teu Coice Estremece o Infinito

Pastarás comigo neste campo
coberto de cactos. Égua de inigualável coice!
Saborearás espinhos,
                                 foi este o nosso pacto.
Que tu venhas, agora,
esplendorosamente nua,
num galope compacto
ao par com quem compactuas,
                                    saborear os cactos,
e comungar comigo
aos destroços desta noite.

O impacto do teu coice estremece o infinito!

 

Mártir

Foi necessário escrever-te para levar-te à morte,
foi necessário o grifo sanguinário de uma pena
assassina: e assinar-te com sangue às ásperas
aspas vespertinas; — para enfim levar-te à morte.

Foi preciso fazer-te mártir, apenas a tua morte
poliria a minha arte, e eu não hesitei em matar-te,
te impus o corte ao lúcido instante de criar-te,
e escrevi-te vitimado pela mão do teu carrasco.

Não tive tempo de arrumar-te, de levar-te ao mar,
de lavar-te as letras e, entre espumas, soletrar-te
— foi triste não declamar-te, ah, poema mártir! —

à véspera da tua morte (às mãos que mais amaste)
foi necessário escrever-te para; enfim, matar-te!
Não viveste por amar-te, morreste por amor a arte.

 

 

A seguir, um poema extraído de http://www.mallarmargens.com/ - REVISTA DE POESIA CONTEMPORÂNEA. 

 

Ilustração: Jacek Yerka 

 

É DIFÍCIL

 

É difícil erguer

edifício no espaço, não é fácil

guardar

                              o mar em orifício,

meu ofício é lidar com a flor do lácio

e lhe dar

a minha lida em sacrifício,

antes de achares fácil o meu feito

mais difícil...

 

 

 

Página publicada em março de 2015; ampliada em novembro de 2016

 



 

 

 
 
 
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