Belém, eternamente, amada
Em tenra idade, numa cidade serena,
ouvia vozes em tom de novena
a exaltar a tua exuberante beleza.
Beleza, simetria perfeita de tua realeza.
Eu, em minha fértil imaginação,
via-me a descortinar o brilho de tua feição,
via-me a passear por tuas curvas,
Deixando minhas vistas quase turvas.
Via-me entrar nos teus castelos dourados,
alimentados por teus produtos imaculados,
Cujos reflexos iam lentamente aquarelando,
o meu pálido ser que, assim, ia se fortificando.
Via-me embaixo de tua paisagem frondosa
a contemplar a sinfonia gloriosa,
pela fauna verde orquestrada.
E, por ti, ficava ainda mais fascinada.
Meu corpo foi se transformando,
com ele, meu desejo aumentando
de ver face a face a tua majestade
e, tê-la como minha magna cidade.
Desejo ardiloso, destemido, inconsequente,
que com sua cartola colocou-me a tua frente.
Mesmo estonteada, era possível perceber
as águas da Baía do Guajará a proteger o teu ser.
Ao entrar em tua veneziana arquitetura,
sendo ainda ingênua criatura,
a cambalear de forma sonolenta,
perdi-me em tuas artérias cinzentas.
Tocada por um dos teus filhos nato,
Consegui acreditar: estava em ti, de fato.
Consegui vislumbrar a tua real nobreza,
A incorporar a harmonia de tua natureza.
E tudo isso só me fez acreditar:
É em ti que quero habitar!
Por muitos anos, domingos esperados:
passeios por teus bosques consagrados,
por tuas históricas praças arborizadas,
Por tuas vias divinamente encantadas.
Hoje, teus filhos estão se multiplicando,
com elas a pressa da vida aumentando.
Não há mais tempo para eu te enxergar,
Não há mais lugar para eu te contemplar
Filhos, conduzidos por ideia insana,
fizeram do teu corpo depósito de gana,
fecharam-te de alongados pavimentos,
Privando-te do labor do amigo vento
Tuas artérias outrora polidas,
hoje, por dejetos estão entupidas.
Não seduzem mais minhas retinas.
Não sinto mais o teu cheiro de menina.
Sãs lembranças de tuas artérias libertadas.
Hoje, centenas de conduções emparelhadas,
a estimularem o meu furor, antes adormecido,
a dilacerarem o meu estômago, antes irrompido.
Sãs lembranças das saídas às madrugadas.
Hoje, milhares de vidas desalmadas.
Não desnudo mais teus Castelos retumbantes.
Não deleito mais tuas estrelas fascinantes.
Imersa em profundas reflexões,
busco arduamente possíveis soluções,
para salvar-te de mortal congestão.
Não vejo outra, a não ser a Educação.
Com a educação, por ti estarei a lutar,
para que dessas doenças possas te livrar
Assim, terá fim minha crónica insônia.
Assim, deleitar o Portal da Amazônia.