INÁCIO OLIVEIRA
Inácio Oliveira nasceu no dia 13 de julho de 1989, na cidade de Óbidos – Pará. Escreve poemas, crônicas e contos. Seus textos foram selecionados para a Antologia “Novos talentos da crônica contemporânea” e “Novos talentos da poesia contemporânea” da Câmara do Jovem Escritor do Rio de Janeiro nos anos de 2006 e 2007. Entre outras antologias, foi selecionado pelo concurso anual do SESC no Amazonas para compor a antologia de contos no ano de 2008. Atualmente mora em Manaus onde é graduando pela Universidade Federal do Amazonas.
Site: http://recantodasletras.uol.com.br/autores/inacioobidos
Não é sempre que se apresenta a oportunidade de apresentar um jovem poeta, em seu nascedouro, com talento e fertilidade. Inácio sabe a que veio. Aposto nele, sem reservas. Parafraseando o jovem poeta: “Eu, maduro, perdido do que hoje sou /
acordo cedo para revelar um poeta nascendo com o dia / e me apresso para mostrá-lo aos amigos.” ANTONIO MIRANDA
PEQUENA ELEGIA PARA O PAI
Meu pai trabalhou muito,
Dançou muito,
Bebeu muito,
Amou muito,
Sofreu muito
E foi muito feliz.
Depois ele foi se cansando,
Hoje ele me olha mas não me vê.
Já não me abraça,
Perdeu a força,
Perdeu a graça,
Perdeu o tato,
Ficou preso no porta-retrato.
Quando você me vem
Para Lidy, meu amor.
Quando você me vem
me arrumo todo
varro a casa,
ponho a mesa
e ajeito a cama;
me lavo
e até penteio o cabelo,
me torno limpo
e bom
como um homem que nunca sofreu.
Enquanto te espero
— coração aberto na janela ansiosa —
descubro o tempo
e as horas que passam
são coisas brancas que se espocam no ar.
Quando chegas
já não somos apenas você e eu
somos tudo e tudo sentimos
- Eurídice e Orfeu -
somos como antes nunca ninguém foi.
Mas quando você se vai
sou outra vez trilho abandonado na paisagem
por onde o trem já não passa.
Infância
Eu, menino, perdido do que hoje sou
acordava cedo para roubar a aurora
e ir correndo mostrá-la aos amigos.
Minha mãe preparava o café
de encher a manhã inteira,
meu pai ordenhava o dia
no amanhecer do curral
e uma felicidade de sol na varanda
Atravessava a vida da gente.
O viajante
Eu não tenho nada,
Sequer um pensamento
Que vigie a vida.
Tudo em mim
Já está de partida.
Tudo que eu tenho
São caminhos sem mapa,
Festa sem data
E esta manhã
Que sempre irrompe
Entre o sono e o som
Entre o sonho e o sol.
Eu não devia ser assim
Eu não devia ser assim
Andando a esmo,
Sempre triste,
Sempre louco,
Sempre eu mesmo.
Eu não devia ser assim
Desse jeito.
Não devia nem te dizer
Dessa noite,
Dessa lua,
Dessa várzea em meu peito.
Talvez um deus sonhe comigo
Talvez um deus sonhe comigo
E me inveje
Porque sou mortal
Sou breve
E hei de ser nada
Mas como este instante
Cresce dentro de mim.
Eu tenho cometido tantos erros
Eu tenho cometido tantos erros,
Eu ando tão errado
De tantos absurdos pecados.
Eu tenho tanta culpa,
Ando assim meio doido meio puta.
Eu que nunca começo nem acabo,
Estou sempre entre deus e o diabo.
Mas quem ousará me condenar
Se estas tardes sempre me perdoam.
Oração da piedade
O Satan, prends pitié de ma longue misére!
(Les Litanies de Satan - Les Fleurs du Mal )
Charles Baudelaire
Oh! deus tem piedade de mim
e o demônio também tem piedade de mim,
deus e o demônio tenham piedade de mim
que eu sou um homem triste e sem remédio -
prostituído quando amo,
violentado quando sonho.
Tenham piedade de mim
oh! deus e o demônio.
Haikais
INÁCISMO
Na saliva do mendigo
Escorregou o gênio,
Nada digo, nada tenho.
O COLHEDOR DE SONHOS
Quando amanhecer
Vem, recolhe meus sonhos
E pendura-os no varal.
Camisa-de-Vênus
Putas a mais putas a menos,
eu fui salvo
por uma camisa-de-Vênus.
Eu que não creio
Eu que não creio,
rezo
a um deus alheio.
ESSA VIDA
Essa vida é uma luta
tão sofrida e difícil
como orgasmo de puta.
Página publicada em janeiro de 2010 |