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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
HELDER D´ARAUJO

HELDER D´ARAUJO

 

Meu nome é: Helder D'Araújo. Sou escritor. Já tenho publicado um livro sobre ética nos relacionamentos na internet, em especial, o uso responsável de redes sociais. "É preciso saber usar a internet" (Editora Multifoco) é o título de minha primeira obra. Faço licenciatura em filosofia no instituto Claretiano. Me aventuro a escrever crônicas, contos e possuo blogs de resenhas e resumos de livros nos mais variados assuntos. Endereços: parere1.blogspot.com.br  e livrosemfim1.blogspot.com.br

 

Foi pensando na dor de existir que fiz estes versos. Dimensão essa inescapável da experiência. Faço, também, uso das palavras de Álvares Azevedo: “Perdoe-se, pois, os cantos primeiros deste pássaro.”  HELDER D´ARAUJO

Outro blogue com textos do  poeta:  http://dedicoversos.blogspot.com.br/

 

HELDER D´ARAUJO

 

Para Savonarola

 

Não mais o vês, Pó [rio]

Teu monstruoso Colosso

Em meditatio e oratio

Derramando-se na cinza, no pó.

 

"És homem, pó, húmus

Barro modelado do Criador

Que desassistido de Seu sopro

Não passarias de estrumo."

 

A pira trovejava sobre-humana

No ardor grandiloquente;

Espada afiada e trespassante

Saia do arauto Savonarola.

 

O fervor pela Florença amada

 Nos espasmódicos vaticínios

Forjava na sanha o martírio

No pó da flama não apagada.

 

 

HELDER D´ARAUJO

 

        Lacrimosa

                  (Para William Blake)

 

Luz tremeluzente

Árduo fardo

No charco existente

Fogo fátuo.

Oh, poderosa Mente!

Chama toda luzente

verbum perennis

Acudi-nos; Náufragos.

Leviatã, o terrível

Comove o íntimo

Dos inundados

Ao marulhar do lago.

Danação comovente

No ruído inconfundível

Das gentes

Devoradas até os ossos.

 

 

 

Estrela D’alva

 

Ó estrela D'Alva! As trevas te extraviaram!

No profundo abismo afundaste tua alma.

Cegaste teu coração na vil impiedade

As falanges do Alto te fizeram embate.

Caíste sem remédio, do céu, como raio

De portador da luz tornaste o diabo execrável.

Apesar de esmagado pelo santo crucificado

Tua sanha para com o Altíssimo é indomável.

Aquele que pelos filhos de Adão se fizera maldito.

Porém, sem pecado, aplacou a ira divina.

Moído pela gravidade do inquebrantável delito

Mergulhou o templo vazio no túmulo sem vida.

Dragão antagonista! Acorrentado, mas não morto!

Garante no fetiche de teu sibilo que ainda conquista

Da rebelião celeste, anjos caídos e tantos outros

Filhos endurecidos na chaga incurável de tua sina.

 

VII ANUÁRIO DA POESIA PARAENSEAirton Souza organizador.  Belém: Arca Editora,     2021.  221 p.       ISBN 978-65-990875-5-4    
                                                                     Ex. Antonio Miranda

 

Toque de Musa

Eis que o toque de Musa me é beatífico!
Leva-me ao daimon já num voo de bruxa
como que manietado, e em mão vão à luta,
no translado pelo Éter do Céu Empíreo.

Em transe órfico falo de mistérios.
Deixo o corpo nas trevas dos desejos
enquanto subo no deífico, no enlevo
Inefável de arcanos mui secretos.

Doce é o delírio de Mnmose.
Êxtase cabalístico. Ain Soph!
Já ouço todo o sibilo de Lilith:

[Eden, lost Paradise, Céus e inferno.
Adentro pelo auxílio do etéreo
sonho de Blake e o súcubo ser Nuit.


Cigarra

Singra longe o zunido da Cigarra
Como magia de perfume da pessoa amada.
Adentra pela porte as imagens
Como noiva em noite de núpcias.

Melodia que comunga
Com o calor e chuva desejada.

A Sabiá solitária acentua incansável no tom
O desamor que acasala com a dor do nostálgico.

Misturam-se multifários em seus botes
Todos os aromas do cerrado
Como ondas numa frequência
Que envia uma única mensagem:

Te evoco, fragor de águas!
Já faz milagre.
As nuvens plúmbeas
Preparam as copiosas lágrimas.

Devido ao chicote dos recitais
Que a açoitaram por toda a estiagem.

Cana a Cigarra.
Murmura a Sabiá nostálgica
Em busca da tempestade.
Orquestra a saudade.


D´ARAUJO,  Helder.   Dois poemas para Balkis.  Ilustração: Luiz Reis.   Brasília: Nautilus, 2023.   28 p.  ilus.  16 x 12 cm.   
ISBN 978-65-9978062-4-0       Ex. doado por Salomão Sousa – DF


 

Fragmento

Eis  aqui, nossos corpos,
 Juntos,
 Porém, fugidios.

Faces de uma única moeda
       Embora de lados opostos.

De corpos
Unidos,

Mas separados todas as vezes,
Duas cabeças num corpo estranho.

Vontades conflitantes
Diferentes do início:
 Uma só mente.
 Uma só, somente.

Não! Este não é meu corpo
       Tampouco teu corpo,
 Ou carne da mesma carne.

É apenas um jogo.
Um entregar-se

sem nunca se entregar.
Um nu não desnudo.
Moeda sem efígie.

Paradoxo.
Divórcio.
Cama de Procusto.

De um lado, meu lado,
Esticando o corpo.
Do outro, o teu lado,
Amputando ossos.

 

*

Página publicada em julho de 2023

 

 

*


 Página ampliada e republicada em Março de 2022

 

 

 

 

Página publicada em maio de 2018


 

 

 
 
 
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