YMAH THÉRES
Nascida em Lima Duarte (MG), em 1939, Ymah Théres formou-se em jornalismo pela antiga Faculdade de Filosofia e Letras (Fafile/UFJF) e viveu em Juiz de Fora, onde faleceu em 2008, aos 69 anos.
Durante mais de 30 anos, Ymah – Imaculada Therezinha Miranda Ribeiro – colaborou como articulista em inúmeros periódicos mineiros. Membro titular e fundadora da Academia Juizforana de Letras, a escritora teve seu talento reconhecido por meio de inúmeras premiações e menções honrosas recebidas em concursos literários.
THÉRES, Ymah. Flor de outono. Poemas e prosa poética. Juiz de Fora: 1999. 45 p. Ilustração da capa: Nivea Bracher. “ Ymah Théres “ Ex. bibl. Antonio Miranda
THÉRES, Ymah. Elegias. Juiz de Fora, MG: Esdeva Gráfica, 1973. 81 p 16x23 cm. “ Ymah Théres “ Ex. bibl. Antonio Miranda
III
Deixarei que descrevas um percurso
além do que sonho menos que vida
e que fiques em mim
abrigo ponte e absinto
— dor primeira —
e que recolhas a fome
antiga, e que faças dormir
a estrela, e que saibas apenas o meu nome
de outrora.
v
Tudo me fiz e em vão:
— estou deserta —
onde meu som que escolheste
e a febre dos hinos imortais?
Quero, sim, a inútil palavra
tão simples no desespero,
tão pura nesse abismo.
VII
Não que eu busque, mas vem
não que eu queira, mas há
um carinho no longe ou perto
da estrada do exílio.
No instante geminado
digo e dizes, na vida
travada impossível.
x
Exauro o silêncio, como quem
se enamora do nunca mais
— tão triste andar assim
caveira possuída de abismos
musgo em busca de musgo -
Conheço andanças vagas,
mas o destino eu sei:
todos os gerânios estão mortos.
THÉRES, Ymah. Na concha do ouvido. Juiz de Fora: 1991. 57 p. 15,5x22,5 cm. “ Ymah Théres “ Ex. bibl. Antonio Miranda
DE UM ROSTO SÓ, NESSE ESPELHO
A solidão - fruto perto
de minha mão - todo o riso
escancarado da boca
não é vero. Rarefeito
no mais que triste, desfeito.
Mas o que resta no peito
senão ternura e mais não?
A solidão - fruto imenso
que mitiga o coração.
A solidão desnudada
de andar inverno/esse tempo
de um rosto só, nesse espelho:
Faz-se a ruga Faz-se
o ritus que marcam
horas/nuanças
de quanto amor
consumido
18/05/78
THÉRES, Ymah. Musgos e gerânios. Poemas em prosa e verso. Juiz de Fora, MG: Esdeva, 1988. 62 p. 16x23 cm “ Ymah Théres “ Ex. bibl. Antonio Miranda
ADÁGIO IV
Amanhã simplesmente
como miséria ou como agonia
de andar avariado e sempre motivo febril.
Amanhã menos ou mais do que hoje
sombra que não amanhece
fagulha que se apaga
ao vento da vida.
ADAGIO II
Não que eu me envolva
mas é preciso morrer;
Não que eu saiba
mas é antigo todo este mistério da morte;
Não que eu escolha
mas a espera fez de mim sua mísera escrava.
THÉRES, Ymah. Treze cartas dos ventos de agosto. (Prosa poética). Juiz de Fora: 1993? 24 p 12x20,5 cm. “ Ymah Théres “ Ex. bibl. Antonio Miranda
A PROPÓSITO DA CAPA
RETRATO EM SEPIA
De resto, asas jungidas da infância,
quando noites de maio foram percorridas por anjos e virgens
e indo era belo na nívea roupagem
e no ornato de altares de MARIA
na Igreja de São Mateus do velho Bairro.
Asas com penugens, penas e arminho.
E um anjo sério demais, no retraio antigo.
(Era como se aquele cetim nos acariciasse a pele.
Veste longa pregueada sobre o corpinho de cinco anos
(brotávamos) e de nós, de nossos cabelos encaracolados
exalava perfume de sabonete
na maciez do contato materno
na tepidez de mãozinhas postas
na prece de um anjo de carne e osso.)
Anjos morrem, porém. E, com eles, o doce mistério do ontem
quando foi a primeira rosa que o jardim redomou.
Diluíram-se asas, na amarfanhada inocência.
Hoje, que é das flores?
Talvez haja um anjo perdido de si mesmo
na louca invernada do tempo.
Julho de 1992 - Inverno
THÉRES, Ymah. Menina em flor. Poemas. Juiz de Fora, MG: 1994. 21 p. 12x21 cm. “ Ymah Théres “ Ex. bibl. Antonio Miranda
MENINA COM FLOR
Que foi que esquivou da rosa
a mão da menina em flor
que vinha em tom de ansiosa
beber na fonte o calor?
— o amor.
Que soledade espinhosa
desvencilhou seu palor
na menina e sua rosa
seu mistério seu candor?
Que leva a menina ao vento
despetalando dulçor?
— o ramalhete do intento
de rabiscar só de cor.
Que nuvem breve de andeja
aparentando vi cor
traz à menina bandeja
de mel e fel flor em flor?
A menina andou mimosa
todo o rumo desse olor.
Que viu no fim do destino
carregada em tom de andor?
— a dor.
Que a menina sabe inteira
do desvendar-se do amor:
toda flor beirando a beira
do cadafalso da dor.
Outubro de 1994
Página publicada em junho de 2015
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