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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



YEDA PRATES BERNIS

 

Yeda Prates Bernis é mineira de Belo Horizonte, onde sempre residiu. Diplomada em Letras Neolatinas cursou também Canto e Piano no Conservatório Mineiro de Música. Tem poesias musicadas por Camargo Guarnieri, sob o título Tríptico de Yeda, além de poemas traduzidos para o italiano, inglês, espanhol, francês e húngaro.  

Bibliografia e prêmios:
 

Enquanto é Noite - Imprensa Oficial – BH, 1974; Palavra Ferida - Editora Veja – BH, 1979;  Pêndula - Editora Massao Ohno – SP, 1983 / Editora Itatiaia, 2ª edição, 1986; Grão de Arroz - Editora Itatiaia - Belo Horizonte, 1986; .Menção especial no Prêmio Jorge de Lima, 1995, da União Brasileira de Escritores, RJ; O Rosto do Silêncio - Editora Cuatiara - BH, 1992/Editora Cuatiara, 2ª edição; .Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras; Prêmio Alejandro José Cabassa - União Brasileira de Escritores do RJ;Personalidade Cultural, da UBE/R; À Beira do Outono -Editora Phrasis - BH, 1994; .Prêmio Hors-Concours Jorge de Lima – 1995, da UBE do Rio de Janeiro; Anotações sobre Zen e Hai KaiEnsaio - Editora RHJ - BH, 1996

Entre o Rosa e o Azul - Editora O Cruzeiro, RJ – 1997; Prêmio Cidade de Belo Horizonte; Encostada na Paisagem -Editora Phrasis - BH, 1998; Prêmio Conjunto de obras da UBE do Rio de Janeiro, 1999; Medalha Auta de Souza da UBE do Rio de Janeiro, 2001; Cantata – Antologia Poética - Edição da Autora, 2004; Viandante - Edição da Autora, 2006.

 

“Seu Grão de Arroz é das criações poéticas mais delicadas que já se fizeram entre nós. Nada lhe falta, em emoção contida e limpidez na forma. Cada uma das pequenas composições cintila como pedra preciosa e ressoa como inefável melodia”. Carlos Drummond de Andrade

 

 “Tenho lido e relido Grão de Arroz com o maior encantamento. É dos tais livros que deixamos à mão para poder abri-los quando vem o desejo de uma experiência poética que redima o correr do dia. Afino muito com sua poesia, cujo convívio é para mim cheio de graça. Este livro, me parece, alcançou o limite admirável onde a poesia diz o máximo, o maior dos máximos, com o menor e mais perfeito dos mínimos”. Antônio Cândido

 

“Que coisa boa surgir um novo livro de autêntica (e inspirada) poesia! Li de uma só vez, reconfortado ao descobrir que Minas ainda produz grandes poetas”. Fernando Sabino

 

“Yeda: poesia para habitar corações!” Henriqueta Lisboa

“Evidente se faz que Yeda Prates Bernis se identifica com uma abelha a sugar os néctares do mundo e a transmuta-los para nós no mel diáfano de intuições inesquecíveis”. Oswaldino Marques

 

Leia poemas das seguintes obras: 


De

Grão de Arroz

Ah! Claro silêncio do campo,

marchetado de faiscantes

pigmentos de sons! 

O coração da aranha

se desfaz em geometria

de seda e mandala.

 

 

Manchas de tarde

na água. E um vôo branco

transborda a paisagem.

 

 

Neblina sobre o rio,

poeira de água

sobre água.

 

 

Imóvel,

o barco.

No entanto, viaja.

 

 

Lavadeiras de beira-rio.

nas águas, boiando,

cores e cantos.

 

 

Cai da folha

a gota dágua. Lá longe,

o oceano aguarda.

 

 

Na poça dágua

o gato lambe

a gota de lua.

 

 

De púrpura, seu mergulho

no aquário. No coração,

o mais antigo azul.

 

 

Escorre pela folha

a tarde imensa,

pousada em gota dágua.

 

 

Noite no jasmineiro.

Sobre o muro,

estrelas perfumadas.

 

 

Um marcador japonês

no livro de hai-kais

– silencioso conluio.

 

De Grão de Arroz, Editora Itatiaia Ltda. (BH, 1986). 

 


De

O Rosto do Silêncio

 

 

ECLESIASTES

para Oswaldino Marques

 

A tarde levita.

Um sino de cristal

irisa o peito.

 

Bordo lírios

em pura

sda.

 

Uma voz aporta

com sua bagagem

de lembranças,

 

estilhaça o cristal,

tinge de vermelho

os lírios do bordado.

 

 

QUANDO O AMOR SE ACHEGA

 

Quando o amor se achega

e, no outro, não encontra

espaço aberto,

ele, humilde, se aconchega

a si mesmo. E descoberto

se agasalha com pesado manto

do temor, dúvida e espanto.

 

E a tempo pede

que o acalente,

à desventura

que o sustente

não mais que o prazo certo,

e a um vento

inexistente que o leve

em momento brando e breve.

 

 

A PEDRA 

Paira a pedra

Sobre um templo

de esquecimento.

Pulsam-lhe artérias

de lavas e destemor,

isentas do diálogo

com homens e coisas.

Pássaro sem asas,

disfarça ânsias.

Na prístina carne

Engravida os séculos.

Fito-a.

Soberana,

me contempla

com olhos porosos

de eternidade.

 

 

FOGUEIRA 

Espio à beira

do que chamam de minha alma.

Fingindo calma,

vejo no poço uma fogueira

queimando o já tão pouco

do muito edificado.

Não como um louco

mas como quem não presta

atenção, despejo gasolina.

 

Tudo o que resta

é um choro de menina.

 

 

De O Rosto do Silêncio, Edições Cutiara (BH, 1992).

 

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De

À Beira do Outono 

 

VARIAÇÕES EM TOM MAIOR

 

A noite, trêmula,

com seu fardo de sombras

nos ombros.

 

Ponteiros invisíveis giram,

esgarçam, pouco a pouco,

um fado de opaca tristeza.

 

Um galo, voz claríssima,

chameja em prata

espaço entre as trevas.

 

Borboletas brincam de roda:

sobre um sino

acordam o silêncio de bronze.

 

Uma azaléia

molhada de cristal

ensaia o vôo.

 

Asas de andorinhas

salpicam no céu

claridades e levezas.

 

 

ESPELHO

 

Lençol claríssimo,

estendo a alma

sobre um lago.

 

Peixes me navegam

nuvens me perpassam

sóis me lucilam.

 

Encharcada de prata,

sou regaço de pérolas

e berço de quietude.

 

 

CANSAÇO 

Tratei a dor

com luxo

de rainha

 

Até que a joguei

no lixo

da agonia

 

por me esgotar

e se esgotar

para a poesia

 

 

A OUTRA MENINA

 

Quando passas por mim

e segues descuidada

e sem vê-las,

fico cansada

de tanto varrer no chão

essa poeira de estrelas

 

 

RITMOS

 

Pêndulos do relógio

e do coração

ritmos díspares

de emoção e mecânica

não marcam juntos

o canto da minha partitura:

entre os dois por vezes pairo

num tempo suspenso

indissolúvel         imóvel.

 

MARITMO 

Barco é a noite

onde a alma navega.

O sonho é marinheiro.

 

No oceano do momento

o amor é timoneiro.

O mais é entrega.

 

 

De À Beira do Outono, Editora Prahis (BH, 1994).

 

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De

Encostada na Paisagem

 

 

RECEITA PRA UM HAICAI

 

Se você quer compor um haicai,

à moda de Bashô, mesmo imperfeito,

verifique primeiro se já viveu inúmeras vidas.

Comece por despojar-se do supérfluo

                                             das vestes da alma:

paletó de esnobismo

camisas de inquietude,

agasalhos de orgulho,

meias de apegos.

Deixe o espírito, em síntese, aquietar-se

desnudo.

Perceba o cintilar da essência de tudo

                                              que o rodeia.

Veja o mundo com o olhar dos anjos,

faça de seus ouvidos concha de

                                                  inocência,

imite o Poeta Francisco.

Deixe que o silêncio

seja sua própria carne.

Junte, no embornal da viagem

às sendas de Oku

da vida, poucas palavras:

lua, folhagem, templo, relva, primavera,

        garça, brisa.

E, por que não?

pulga, piolho, o mijo de um cavalo.

Derrame sobre elas

um punhado de estrelas

e as espalhe no papel.

 

*

Neblina.

Papel de seda embrulha

a paisagem.

 

 

DA PRAIA

 

 

Noite praia mar

e um navio iluminado

a passar.

 

Miragem

ou meu sonho a navegar.

 

 

MOMENTO

 

A custo, ergo

e sustento a tarde

em minhas mãos.

 

Vem a noite

e a tarde cai

estilhaçada de emoção.

 

E a vida estanca

numa esquina de sombras

afogada em sombras.

 

 

PERCURSO

 

Ao Homem,

grão de areia,

o Cristal do Tempo

seu percurso traça.

 

Inútil lutar

por glória e poder.

Tudo escoa:

um grão a mais

que passa. 

 

 

De Encostada na Paisagem, Editora Phrasis (BH,1998).

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De

Cantata 

ALQUIMIA 

Enterrei meu canarinho

Junto à roseira.

Agora, a primeira rosa

vai amanhecer

cantando. 

 

PRESÉPIO MODERNO 

Uma estrela-guia     

de laser.

Na manjedoura

  mãos ao alto –

um menino.

 

Os animais,

a vegetação,

onde estão?

 

Três reis

e suas oferendas

de nêutrons.

 

 

A UMA MENINA

 

Quando chegares,

sacode lá fora

teus sapatos

tua roupa

teus cabelos.

Não magoes

meus olhos

com este excesso

de luz.

 

 

SABEDORIA

 

Aborrecem-me as mulheres de lantejoulas

e as coroadas com tiaras de diamantes.

Nem mesmo invejo as que muito leram

e extraíram dos livros o sumo

da desesperança

ou as que misturaram palavras,

pincéis e pautas

às linhas de suas vidas.

 

Fascinam-me as mulheres do campo

que acordam de madrugada,

coam café com rapadura

para os maridos e lavram a terra

com enxada, suor e amor,

ou as lavadeiras de beira-rio

quarando suas roupas com canções

e coração:

sábias, não meditam sobre a fugacidade

das horas, fazem de cada instante

a doação perfeita, a morte é sua

verdade sem temência

e suas vidas são plenas

como árvore absorvendo o sol das manhãs.

 

 

A GRAÇA

 

O que há de mais alvo

a graça é garça

pousada no alto da alma.

Em profundas águas

mergulha

e claridades instala.

E a fala

da graça é silêncio,

a vida, um momento,

e o gesto da graça

abraça

o claro sentimento.

Prendê-la, impossível;

voa e passa

em alçar do vento.

 

 

FACE

 

O amor te plasmou

a máscara primeira.

O relógio

esculpe

a mutação continua

de tuas linhas,

jogo inexorável.

És única e plural:

Refletes

a ínfima / infinita

glória

de ser.

 

 

ASTRONAUTA

 

Que imensa dor, a tua,

quando vens

molhado de azul

e ancoras neste nosso sombrio mundo

que já não te pertence.

Pois agora

mais que homem

és estrela.

 

 

MIGRAÇÃO

 

Chegas do poema de Prévert

impregnado de sortilégios.

Não te batizo

de canário ou pintassilgo:

pouco importa teu nome

se qualquer substantivo pesa sobre tua

leveza de pensamento puro,

estás acima de todas as palavras.

E te enfeitiço com manhãs de abril,

te ilumino em ouro e canto,

te celebro a inocência.

Viajo em teu enigma,

vislumbro o azul em teus andares,

te alimento com sementes de amplidão,

e te pouso, com cuidado,

na gaiola aberta

deste poema.

 

 

De Cantata -Antologia Poética -Edição da Autora, 2004.


 

 BERNIS. Yeda Prates.  Palavra ferida.  Prefácio por Alphonsus de Guimaraens Filho. Belo Horizonte:  Editora Veja, 1979.  91 p.                                 Ex. biblioteca de Antonio Miranda

 

Alcançando a unidade através de variado tom, Yeda Prates Bernis
afirma ainda uma vez em Palavra Ferida — título vivamente signi-
ficativo do que contém, do que irradia este novo e belo livro seu —
a paixão da poesia, da poesia que se mostra, nestas páginas, como
de resto já se mostrara em anteriores poemas seus, em sintonia
com a sua maneira e a capacidade de, mesmo reconhecendo-lhe as
arestas e asperezas, envolve-la de amor e de esperança.
                                             ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHO

 

 

      O ESQUIZOFRÊNICO

       
O sol
      — uma lua
      enlutada.

      O passo
      — o espaço
      de um quarto
      sem porta e janela.

      Feridas gotejam
      de mente
      roxa — mente.

      A angústia
      — fluxo e refluxo
      de oceano.

     Centelhas de cristal
     perfuram-lhe
     a sensibilidade

     inútil
             mente:
     é pássaro
     de asas cortadas.


      FACE

      O amor te plasmou
      a máscara primeira.
      O relógio
      esculpe
      a mutação contínua
      de tuas linhas,
      jogo inexorável.
      És única
      e plural:
      refletes
      a ínfima/infinita
      glória
      de ser.

 

 

       MATURIDADE

      
Percepção de caminhar
      coerente, cósmico,
      aura pelo mister de descobertas,
      palavra mais que som,
      silêncio mais que palavra.
      O amor, outrora fruto-oferenda
      em carne rubra
      à gula imediata,
      hoje requinte de delicadeza
      em seu perfume essencial.
      E o tempo, antes agora,
      muito mais eternidade.


      RECEITA

       
Um poema
      se faz em contenda
      de mente e palavra
      (à mente à procura,
      a palavra esquiva).
      Depois de cativa,
      que a palavra trema
      de encontro a uma outra.
      Um poema
      carece de amor
      e do inusitado
      (a seta apontando
      um alvo certeiro
      mas desconhecido).
      E o sangue convulso
      em largas artérias
      abraçando o mundo,
      inundando a vida.
      Um poema
      — solidão, angústia —
      é canto em silêncio.

 

*
Página ampliada e republicada em maio de 2024.

 

Página gentilmente preparada por Angélica Torres Lima,

publicada em janeiro de 2008.



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