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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

WILSON ALVARENGA BORGES

1922 - 2007

 

 

SONETOS  v. 3.  Jaboatão, PE: Editora Guararapes EGM, s.d.   303- 458 p.  
11 x 16 cm  Inclui 57 brasileiros e portugueses, em língua portugusesa.a  Editor: Edson Guedes de Morais.  Edição artesanal, tiragem limitada. 
Ex. bibl. Antonio Miranda

        

         A CHAVE DESSA FORÇA...

         A chave dessa força está no tempo
e nele é que me escuto, sinto as várias
transmutações do sonho: me laboro
enquanto me conheço – e o pensamento

         de ver-me libertado das malárias
me ampara e me abastece o sentimento
em que me reconheço: assim me escoro
no tempo, e me preparo em meu silêncio

         e dou-me às águas, sinto-as conquistadas
no que descubra em mim, e me inauguro
na paz assegurada: grave e lento

         sinto achegar-me a mim (recuperadas
as horas por urdir o meu futuro),
que a chave em se fez – é o meu alento.

 

         FORMOU-SE NO MEU SER...

         Formou-se no meu ser essa cobiça
de perscrutar meus dias, dar-me ao lento
e lento desfolhar dessas manhãs
em que me encontro, sinto o pensamento

florir-me na memória: esta premissa
de voo para a conquista do meu tempo
(sem cultivar em mim as coisas vãs
mas nelas, por guardar-me, estar atento)

a premissa, dizia: aconchegar-me,
deixar-me livre por bastar-me o encanto
deste escutar silente dos meus dias,

em que me vejo em paz para durar-me
e conquistar-me inteiro no meu canto,
apaziguado, isento de porfias.

 

         E A VIDA ÀS VEZES PESA...

         E a vida às vezes pesa como chumbo
mas não me nega a força de ganha-la,
e sempre me convido, nas conquistas,
a mais retemperar-me nos naufrágios;

         Porquanto, me reforço em meu triunfo,
por mais me pertencer e apaziguá-la:
é que me recomponho à minha vista
nos horizontes graves de presságios,

         e faço conduzir-me às fontes claras
e nelas, por delir-me nas andanças,
sentir que em todo o tempo me carpia

         e mais me conduzia e me guardava:
sem nunca deslembrar da relutância
que um tempo dissonante me nutria.

 

RETORNO

Por tantos desencontros já passei
que me encontrei comigo solitário.
É assim que se revela a prontidão
daquele que procura o alvor do tempo.
Bordei-me de silêncios, e marquei
os rumos de um fecundo itinerário:
por ele eu me revi, pisei um chão
nas curvas de um secreto pensamento.
Então me transformei nessa procura
que mora no meu ser, me recupera
das brumas de um passado impertinente.
E achei-me num desgaste que se apura
em cada dia: armei-me desta espera,
sem olvidar meu tempo na carência.

        
ANUÊNCIA

 Por esta entrega à minhas bases
eu me abasteço no que penso:
estou por mim reconhecido:
a tarde escuta os meus silêncios.

Não labutei em provas várias
num labirinto de clemências;
tento alcançar-me, e sou servido
neste aconchego sempre isento.

Sei escutar-me em minhas fontes
e delas teço os anteparos
que são regentes nos intentos.

Aceito os retos horizontes
e os labirintos que se aclaram
no ser e estar do entendimento.

 

         BUSCAR-ME EM MIM

Buscar-me em mim o quanto me suporte
e me preserve o sonho; dar-me ao verbo
o quanto nele estou para durar-me:
amar o que de mim cristalizor-se.

Que mágoa em mim plasmou-se para a mora
Que angústia ou que damor em mim conserva:
Que coisa permitiu aconchegar-me?
Que mais se fixou em minha face?

€stou de mim desperto; indo me escuto
formar-me nesses anos turbulentos,
e refazer-me em paz e sem alarme.

Pois deixo conquistar-me; sei que luto
consoante faz-se a fúria desses ventos,
e aceito essa porfia, por buscar-me.
       

                                                                                                                
 

BORGES, Wilson AlvarengaPastoral. Poema.  Rio de Janeiro: Edições Jornal de Poesia, s.d.  55 p.   13,5x19 cm.    Autografado pelo autor em 1959.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

(...)

 

Cavalos galopando nas estradas,

as crinas levantadas pelos ventos,

cavalos relinchando, éguas flavas,

e potros molengotes reclinados;

nos dias, pelas tardes, noites fundas,

galopam estes belos animais.

 

Nas grotas, nas veredas e ribeiras,

pululam as serpentes venenosas

e existem cascavéis enrodilhados,

corais e jararacas abundantes;

contudo estas serpentes são formosas

e são descomunais, algumas vezes.

 

 

 

                                            (...)          

 

Também havia a rosa, o pensamento

constante como pedra ou como espada

ou como rosa mesma: era uma árvore

frondosa a despojar-se dos seus frutos

 

E havia o céu distante e o movimento

de coisas delirando, entrelaçadas,

e tão vivas estavam nestas órbitas

que só por apreendê-las me encantava.

 

Também havia o ar purificado

de coisas contempladas: eram vales

e rios e florestas, descampados

 

onde irmanavam aves, certas vozes

veladas, na pureza destes campos,

de que fundei as bases do meu canto.

 

Cássia, setembro, 1958.

 


REVISTA DE POESIA E CRÍTICA    No.  6 – Brasília – São Paulo – Rio  -
Setembro  1979  Diretor  José Jezer de Oliveira.    120 p.
Ex. doação do livreiro Brito – DF

 

         ANTEPARO

O tempo te liberta
pelo sonho que vives;
só essa condição
isenta-te do exílio.

O tempo rasga o véu
do que se faz mesquinho;
por essa condição
é que mais te prevines.

O tempo te persuade
a decifrar o enigma;
é nessa condição
que teu ser se ilumina.

O tempo não amarra
aquilo que se exibe;
e nessa condição
teu sonho é que define.

O tempo (sabiamente)
teu sonho não dissipa;
é nessa condição
que munes tua vida.



AS EVIDÊNCIAS

Sábia é a fonte.
Não vos assusteis quando souberdes,
embora tardiamente,
que sábia é a fonte.

Certa é a vontade,
límpido é o saber,
intuitiva, insinuante e grata
é a memória.

O tempo vai e vem, se recupera
e não se desmente.
Nele, cada um de nós
estipula a sua verdade.

Múltiplas são as fases
e as faces: elas guardam
a ciência do tempo.
Guardai-vos; aceitai-as sem alarde.

Porfiam em nós
as realidades cruas, imperativas.
Não vos assusteis, quando souberdes
que sábia é a fonte.


O OSSO

Pois era e é, será preciso roer
esse osso, roê-lo até que se triture
a vida — ei-la pedinte em suas extrema
vontade, que no tempo continua.

E róise que se rói, pois cada ser
possui um osso próprio, em seu reduto,
na construção profética do poema
(não deste, mas do poema do futuro):

No tempo é que se colhe o duro exemplo,
a mágica extensão, a prova insana
do ser, em cujo drama não se extingue.

E o osso que se rói se torna imenso,
amargo e enegrecido; mas os danos
são pontes para o ser que se redime.


INFÂNCIA


Pois era um tempo surdo e sem freios
quando se campeava
um vento sem sul nem norte
e ele soletrava
os débeis anúncios do futuro.

Depois de estranhas fadigas
abriram-se-lhe as fúrias
de vária fonte
e se apresentou outro tempo, concebido
na edificação de outra realidade.

Fluiam-se-lhe as dádivas da memória
quando ele, assustado, se reconhecia.



*

Página publicada e republicada em fevereiro de 2023

 

 

 

 

Página publicada em 2017, ampliada em 2019.


 

 

 
 
 
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