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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

WELLINGTON FERNANDES

Nasceu em Itajubá, Minas Gerais, Brasil, em 1972. Professor de literatura no ensino médio.

 

SALAMANDRA – REVISTA DE POESIA. Número 1.  Campinas, São Paulo, Outubro de 2001.  Editores: Pablo Simpson e Pedro Marques. Capa e diagramação: Pablo Simpson.  Apoio: Instituto de Estudos da Linguagem e do Centro Acadêmico de Letras e Linguística – UNICAMP.   Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

         As sereias       
se chorassem
seriam apenas
lágrimas doces
de seus olhos mareados;
e os incautos,
absortos,
morreriam
afogados.

         *

 

       Trazia o mar
nas mãos de menino.
Cerradas, macias conchas
levadas ao ouvido.
Insistente, o rumor dessa água
inconsútil se dissipa.
Quando?
Ao aceno da partida.

         *

 

         Porque sou de Minas eu sinto
esse gosto de café na boca
e medo de assombração.

         Porque sou de Minas
sei que cheiram a fumo
as roupas dos meninos.

         Porque sou de Minas
falo baixo, olho pra baixo e durmo encolhido
porque em Minas há montanhas.

         Porque sou de Minas eu espreito.

         Porque sou de Minas, esse jeito,
esse orgulho ancestral
e essa humildade esperada.

         Porque sou de Minas
sei que a Morte visita pessoas
antes de levar os seus parentes.

         Porque sou de Minas fui embora
de minha terra pra sentir
saudade.

         *

 

         Te ver dormir me tira o sono.
Decoro tua lenta coreografia.

         O tempo que passa empalidece
os cabelos e muda tuas fotos.

         Algumas rugas nos rostos, e retratos
desfigurados na memória.

         Estreita minha cela
e é inútil unhar as paredes.

Te ver dormir me tira o sono.

Talvez fechar os olhos
ou cruzar os braços como dar um nó.

Mas fico seguro em teus braços
menino sob o cobertor.

*

 

A maneira como ela senta,
as pernas, delicadamente, abertas
faz-me sentir inveja
da anatomia dos golfinhos.

As mãos, pensas nas extremidades,
são fragmentos de um outro tempo
que não esse de taxi e talão de cheque.

Em movimentos breves,
de precisão fugidia,
como que acariciando,
a invisível brisa,
redesenha contornos para o dia.

— Mãos impossíveis — ao toque e à luva

antes, borboletas deslocadas:
breves, dissonantes, arredias,
das que, noturnas e indefesas,
embarcam frágeis nas paredes frias.

*

 

Os graves suspensórios de papai
fazem-me tolo.
Tolo como um quebra-cabeça
ou um velho palhaço, trapezista.

Os sapatos de papai
que não me servem,
demarcam esse caminho
invisível,
pra que os meus pés
desavisados e tão míopes
não pudessem perder-se neste abismo.

 

 

Página publicada em setembro de 2019

 

        

        

 


 

 

 
 
 
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