VINICIUS MEYER
Nasceu em Pouso Alegre a 27 de setembro de 1906. Bacharel em Direito. Laureado pela Academia Brasileira de Letras pelo livro “Poemas caboclos”.
A POESIA NA ESCOLA. Coletânea das poesias sugeridas pelos programas de Ensino primário elementar. Belo Horizonte: Secretaria de Educação, Estado de Minas Gerais, Imprensa Oficial, 1956. 177 p. 14x21 cm. "Para distribuição gratuita às escolas primárias do Estado." Col. bibl Antonio Miranda
Poesia infantil recomendada para leitura em classe
– 4ª. SÉRIE:
Imagem: https://www.facebook.com/euamoarvores
IPÊ
Quando, no mês de agosto, as árvores descansam
e se envolvem, a dormir, num lençol de fumaça,
tudo é árido e triste e no ar se embalançam.
galhos secos de nus contra a paisagem baça.
É então que bum milagre bom da natureza,
que por certo os guardou no mágico tesouro,
que, nas várzeas e campos, esparzindo beleza,
surgem os ipês florindo as suas flores de ouro.
E o contraste chocante enche os olhos da gente:
— de um lado a cinza, a névoa, a morte, a solidão;
é, no meio de tudo, o ipê refulgente
como um sol vegetal que brotasse do chão.
Assim, também, no mundo, entre o luto e a guerra,
quando tudo agoniza em pungente gemido
e o fumos dos canhões envolve toda a terra,
fulguras — oh Brasil — como um ipê florido.
SAUDADE
... e o canto dolente
Da gente da terra,
Monótono e longo,
Findando-se em ais!
... e as noites tão longas,
Cruzadas de luzes,
Pejadas de gritos,
Inçadas de cruzes!
... e o sol que requeima,
E a terra que arde,
E o eito escaldante
Nas horas da tarde!
... E os olhos morenos,
Nostálgicos, ternos,
Que nele pousaram,
Dormindo silentes!
Tudo acompanha o estrangeiro triste,
Que, da popa do navio,
Lança os olhos,
Como mãos aflitas,
Para a terra que some,
Que some entre praias ardentes.
Saudade, por que acompanhas o estrangeiro triste<
Por que o acompanhas aos países frios,
Tu que moras nas terras tropicais?
Saudade:
Passageira da popa dos navios,
Esperança que olha para trás...
(Poemas caboclos)
BENTO-QUE-BENTO
Um “bolo” estala na mão aberta
Do que chegou por último, a correr.
E começa, de novo, o alegre brinquedo,
Alegre e simples, como vão ver.
O Pai — que faz de “mestre” — está atento,
E grita logo, com voz bem forte:
— “Bento-que-bento!”
Respondem os filhos com alacridade:
“Frade”!
Torna o “mestre” a gritar, olhando em torno:
— “Na boca do forno!”
Respondem os filhos, como num eco:
— “Forno”!
— “Fareis tudo que “seu mestre” mandar?”
— “Faremos todos!”
Então o “mestre” pega a inventar:
—“Cada um... cada... cada um vá ao ribeirão
E traga um pouco dágua na mão!”
Correm todos, vão tropeçando,
Pegam a água, voltam zunindo,
E quando chegam ficam esperando
O caçulinha, que lá vem vindo.
Chega por último, de mãos vazias.
—“Que é da água que foi buscar?”
Pergunta o “mestre” fechando a cara.
Responde ele, fazendo beiço para chorar:
— “Seu mestre”, a água caiu no chão,
Não houve meios de a carregar...”
— “Vai tmar “bolo”! — o mestre ameaça,
E para dá-lo levanta o braço,
Mas olha o filho, — tão pequenino” —
E, ao invés do “bolo”, lhe dá um abraço...
ALBUM DE POESIAS. Supplemento d´O MALHO. RJ: s.d. 117 p. ilus. col. Ex. Antonio MirandaZ
Página publicada em julho de 2015; AMPLIADA em março de 2019.
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