VALÉRIA D´MOREIRA
Nascida em Brumadinho, Estado de Minas Gerais, Valéria D´Moreira mudou-se para Belo Horizonte em 1986 em busca de realização profissional, tornando-se servidora pública estadual naquele mesmo não. O objetivo de bacharelar-se em Direito que se conclui, fora adiado pela opção de educar os filhos, mas os versos sempre a perseguiram. Desde a adolescência, o que lhe chega à cabeça pode parecer-lhe poesia. Preocupações transportadas em palavras naquilo que estiver à mão num momento de inspiração.
COLETÂNEA DE POESIAS – PRÊMIO SESC DE POESIA CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE 2008. Brasília. DF: Serviço Social do Comércio do Distrito Federal SESC DF, 2008. 185 p. Ilus. fotos dos poetas e do júri.
IMPERTINENTE
Atravessou a rua com nome de poeta:
Gonçalves Dias.
Aquele que cantou nossa terra
com palmeiras, bosques, sabiás
e aves que gorjeiam
como não gorjeiam as de lá.
Lembrou das rosas na praça:
uma amarela no meio das vermelhas.
Imaginou-a sobre sua mesa.
Decidiu a colher, acolher.
Mas os prédios antigos olharam:
conservadores.
As palmeiras imperiais olharam:
ilustres.
Os pássaros olharam,
desconfiados.
A menina olhou:
prudente.
Até o palácio do governo olhou:
imponente.
Assim a rosa lá ficou,
entre suas irmãs de outra cor,
até chegar o tempo de desfolhar e cair
tempo em que a natureza lhe furtou
a feição perfeita da flor
Mesmo depois da amassada
junto à poeira do chão
entre pombos, rolinhas
pinheiros e manacás,
aquela rosa amarela permaneceu,
eterna e encantada,
no canto da alma de alguém.
Mas foi deixada ali
livre e impertinente.
Uma única rosa amarela
no meio das vermelhas
na Praça da Liberdade.
Página publicada em agosto de 2020
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