TARZAN LEÃO DE SOUSA
nasceu em 1965, na cidade de Ipueira-RN. No ano de 86 deixou o Grande Estado do Sertão e, em terras mineiras, fez-se frade dominicano, largando o hábito seis anos depois. Membro da Academia de Letras do Noroeste de Minas, duble de músico e radialista, atualmente é assessor da Prefeitura de Paracatu- MG e professor substituto de Antropologia Cultural, Introdução ao Pensamento Filosófico e Cultura Brasileira na Faculdade do Noroeste de Minas-FINOM.
SOUSA, Tarzan Leão de. Aboios. Paracatu, MG: Mansarda dos Leões Editores; Movimento Cultural de Paracatu, 1998. 93 p. 16x19,5 cm. Capa: Humberto Torres e TLS. Col. A.M.
SINA SERTANEJA
A peleja é a mãe
de de nossos passos,
a esperança:
que um dia a cerca cairá.
Nós que trabalhamos essa terra,
a nossa paga é a morte e o penar.
Quem nos mata é a cerca, não há seca!
Quem nos mata é a cerca, não a seca!
Seu doutô nóis lavradô quer um pedaço
da nossa terra
donde o sinhô nos expulsô.
O sinhô é invasor e já tem chão demais,
muito mais do que a sua precisão.
Essa terra que o sinhê vê sempre
foi nossa:
é a herança do finado meu avô.
Agora a cerca a dividiu em mil pedaços
mas vou lutar pra de novo ela ser nossa.
Poema composto e musicudo em parcería com Sergio Ramalho
SENDAS GERAIS
Ipueira,
a um dia distante do mar,
seus riachos só enchem no inverno
e depois seca vem visitar.
Me criei nessas ruas descalças,
eu descalço à procura do mar.
Menino pobre andando nas ruas
com carrinho ou cavalo de pau.
O meu sonho era um dia crescer
e sair mundo à fora — cigano! —
retirante e amante da paz.
Ipueira,
se não pude ser um vaqueiro,
nem tropeiro igualzinho ao vô Chico,
hoje sou cantador de outras terras,
violeiro das sendas gerais.
E quando um dia a saudade apertar,
e de tanta dor não puder nem cantar.
Assossegue que eu estou voltando,
para os meus que deixei a chorar.
Estou voltando, me espere, eu te amo,
seu moleque andarilho voltou.
VIRGINAL
Para Júnia Santana
O beija-flor
de flor em flor
deflora por
um beijo alado.
Voo ligeiro,
é mensageiro:
guarda o segredo
da flor sugado.
A flor tão leve,
de vida breve,
sabe os encantos
de sua tez:
brisa suave,
o toque da ave,
entrega o néctar:
primeira vez.
Página publicada em novembro de 2013
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