Foto: Foca Lisboa
SÔNIA QUEIROZ
Sônia Queiroz é natural de Belo Horizonte. Fez a graduação e o mestrado em Letras na UFMG, onde é professora de Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa. No doutorado em Comunicação e Semiótica, na Puc-SP, desenvolveu pesquisa sobre as edições do conto oral no Brasil, com ênfase no processo de transcrição e transcriação das narrativas orais.
Como poeta, além de poemas em jornais e revistas, Sônia Queiroz publicou, entre outros, o livro O Sacro Ofício (Prêmio Cidade de Belo Horizonte, 1980). Como contista, publicou o livreto Madrinha (Ed. Dez Escritos, 1987; segunda edição pela. Edições Bichinho Gritador, 1998), em que divulga uma experiência literária realizada com a língua da Tabatinga.
“Seus poemas, no que se convencionou chamar escrita feminina, publicados com anos de espaçamento, trazem forte ligação com aspectos de tradições socioculturais do estado, no que se refere ao papel social da mulher e às mudanças que tais tradições sofreram nos tempos atuais. A poesia de Queiroz resgata, transformando-a, a memória coletiva, em suas implicações literárias e culturais. Taz à tona o que ainda está vivo na consciência do grupo, para o indivíduo e para a comunidade. Deve ser entendida, pois, nos aspectos intercruzados da memória mítica, social, inscrita em práticas e da construída pelo historiador.” MARIA DO CARMO LANNA FIGUEIREDO & GLÁUCIA GERUSA DIAS.
Extraído de
MELHOR DA POESIA BRASILEIRA EM MINAS GERAIS, O. Seleção e apresentação Sérgio Alves Peixoto. Joinville, SC: Sucesso Pocket, 2002. 132 p. 10x17 cm.
DAS NUBENTES
é certa
a espessura do anel
em que já me terás
devida
conheces
a mesura do gesto
com que me deixarás
despida
já sabes
como amainar-me o medo
por que me tomarás
castiça
então
vais dedilhar-me o pêlo
e assim tu me farás
macia
depois
vais me cobrir a pele
e em fúria investirás
aríete
até
que romperás a porta
em água de batismo
eu pia
enfim
descansarás teu gozo
eu joia desdourada
em cio
(O sacro ofício)
ANTOLOGIA DA NOVA POESIA BRASILEIRA . Org. Olga Savary. Rio de Janeiro: Ed. Hipocampo, Fundação Rioarte, 1992. 334 p. ilus Ex. bibl. Antonio Miranda
CLÃ
minha avó assava bolos
minha mãe lições de História
minhas tias sempre rezavam
minhas cunhadas revezavam
adulações a meu pai
uma assava bolos
a outra cozia livros
uma tias sempre rezavam
as outras montavam cavalos
tratores, arados, pastos
minha avó assava bolos
minha mãe lições de História
minhas irãs sempre dizem
as outras montam tratores
livros, cavalos arados
minha mãe cozia histórias
minha avó criou cartilhas
minhas irmãs sempre dizem
as outras montam as asas
dos arados e dos livros
(morre meu pai, eis que um dia)
minhas tias sempre rezavam
minha cunhadas revezavam
adulações aos maridos
DUAS PALAVRAS:Uma publicação da Biblioteca Pública Estadual Luis de Bessa. Belo Horizonte, MG; 1983- v. 1- No. 0-Out. 1983- N. 09 838; V.1 –No. 1 - Dezembro 1984
Ex. bibl. Antonio Miranda
CINE ODEON
Maria Clara passeou seus fantasmas
por aqui
quem viu?
quem viu?
plateias de vento
aplaudem
o teatro municipal
uns homens de negócio do olhos
nas paredes
ninguém vê!
ninguém vê!
e a usura
usurpa
o papel central
pluft!
um lote vago
onde uma vez
do Cine Odeon
e logo vigas
andaimes pedras
pedreiros tratores
e o fantasma dos atores cochilando:
com pouco pano
se faz a fantasia
(pastéis de vento
alimentam
a memória cultural.
*
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Página publicada em outubro de 2021
Página publicada em janeiro de 2014;
Página ampliada em setembro de 2020
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