(Foto: Redação VejaBH)
SILVIA RUBIÃO
(1952- )
(Belo Horizonte, MG), é jornalista e editora. Em 2005, publicou seu livro de poemas Tangências.
Extraído de
POESIA SEMPRE. Ano 18. 2012. Número 36. Edição dedicada a Minas Gerais. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura, Fundação Biblioteca Nacional, 2012. Editor Afonso Henriques Neto.
O OURO DA RUA
Quando vai alto o estio
e o outono se impõe
assolado em ventos
tudo se revela definitivo e inútil
Tempo de deitar os fardos
percorrer a antiga rota
retomar as pegadas
lá onde o ar respira mangas e magnólias
as cigarras enchem as tardes de lamento
Tempo de subir a serra recortada no azul
revolver o musgo e a terra
reencontrar a dupla fonte de meu rio
lá onde se afundam os poentes
é se ergue a velha casa cor de rosa queimado
Tempo de ver
réguas de luz nas venezianas verdes
a mesa posta
vozes de pranto e riso
pedras a rolar o ouro da rua
Lá onde o meu cálice brilha e não há respostas
MULHERES EMERGENTES. O sensual em cartaz.
Ano 20 No. 74 - Abril 2009. - No. 10 081
Belo Horizonte, MG. Blog: http://mulheresemergentes.blogspot.com
Ex. bibl. Antonio Miranda
Por muito pouco
Creiam, por muito pouco
Arrumar gavetas
é formar mosaicos
pequenos pedaço de ontem
estranhos no encaixe
retomam antigas pegadas
de um caminho que não segue, nem volta.
acaba em mim.
Relíquias de papel
pétalas ressecadas
rumos de passos em viagem
regressam, recolhem instantes
de um passado
que não se basta
repousa em mim
Artesã do tempo
chego para recriar na fotografia
a noite clara da partida
cenário de todas as certezas
Tremo ao ver-me
enluarada, rumo ao norte
Creiam-me, por muito pouco fui feliz
(in Tangências, editora 7Letras, 2005)
P
Página publicada em agosto de 2015; página ampliada em outubro de 2020
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