POESIA MINEIRA
Coordenação de WILMAR SILVA
Fonte: www.tvcultura.com.br
RONALDO POLITO
Nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 5 de abril de 1961. Fez Licenciatura em História (UFJF) e mestrado em História Social pela Universidade Federal Fluminense (Niterói, RJ). Professor do Departamento de História da Universidade Federal d Ouro Preto. Foi professor visitante da Tokyo University of Foreigb Studies, Japão, em 2004.
Livros de poesia: Solo, 1966; Vaga, 1997, Intervalos, 1998 e de passagem, 2001.
Veja também: RONALD POLITO – POESIA VISUAL
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
OPACO
Noite foi-te,
engaste de negro sobre negro,
cofre com fundo
falso.
Pedro, no escuro,
charco turvo,
senda, trilhos, cancela.
Cerco de montanhas para solo sem lume
e coda em carpo letal.
De Solo, 1996
ÉXTASE
a primeira palavra
diria: casa
pesada e breve
no sentido que ela cede
a palavra primeiro
para partir inteira
a dúvida de urna esquina
deflorada mina
a palavra primeira
seria: cunha
e fenda -sem eira
nem beira-funda
De Solo, 1996
VÃO
Essa pele de luz que banha
as plantas, a varando, e se arremessa
em espirais de fluxos,
vertigens, centelhas de lendas
indecisas, colares de deslizes,
penetrando sem pedir licença
para trazer tudo á tona,
á sua própria lancetada superfície,
essa fimbria de palidez
e desprendimento que passa
de olhos fechados maculando
com maquinarias de sombras
os móveis, quadros, aposentos, não,
não há como deter o espanto,
o corpo que salta sem asas
de sonho turro para o trabalho
indecifrável (seu segundo turno
no escuro) de reconhecer,
tateando, os pontos cegos
e mecanismos, o inespecífico,
aglomerações de cinzas.
De Intervalos, 1998
DISTINÇÃO DO INSTANTE
Agora, aqui, quando já respira e
mesmo, se quiser, talvez caminhe,
vá até a janela como quem vai ao
quarto do filho, e seus
olhos pairem sobre tudo não
ausente, nem pactuantes, apenas
pousem como um pássaro, um punho,
um pensamento sobre a paisagem antes
oscilante ma afinal reconhecida,
e os caminhos de ida e volta ficam
franqueados, e não há mais chaves,
portas, grades que impeçam, bloqueiem,
apartem os elos e as cadeias,
e se refundem todas as ligas,
estão no ar todas as linhas.
Extraído da obra O ACHAMENTO DE PORTUGAL. Wilmar Silva, org. Belo Horizonte: Anome Livros, 2005. 112 p.
Sísifo
A noite cai no dia
cai em si
é dia
O dia sai da noite
sai de si
é noite
Iluminação Artificial
esta noite
o mar
cava
com força
um milímetro
a mais
e repousa
a mil milhas
daqui
vem me levar
os campos agora fumegam
um firmamento de cinzas
o deserto depois começa
uma sirena longínqua
aqui eu
estou em minha
jaula de jalnes
Zero
Nada amplia esta noite finda.
A mera menção da palavra
poesia me arrepia.
Quando é o fim por um fio
continua afora / agora
que nã acaba
mais.
Diminuir é difícil.
Perco pouco a pouco as partes
da composição e entã
sou menor que um cisco, um drama,
sou muito menos que qualquer lema.
Tão mínimo como um indivisível
.
poemas do livro SOLO
ººº
Por Pouco
nada mais subjetivo
que não falar de mim
nada mais parecido
com qualquer coisa assim
como que um si contido
não sendo não nem sim
mas só comum e esquivo
mesmo a seu próprio fim
Vaga
pulso fora do ritmo
diminuindo
o horizonte no fim
por certo
oceano
Muda
silêncio sem fim
um grito em um estojo
— para não esquecer —
entre suspiros afora
rumores de golpes
— ruídos
Poemas do livro VAGA
Por pouco
nada mais subjetivo
que não falar de mim
nada mais parecido
com qualquer coisa assim
como que um si contido
não sendo não nem sim
mas só comum e esquivo
mesmo a seu próprio fim
Um estranho
Difícil sabe o que sente,
se está distante ou mesmo rente,
mais ainda supor que pensa
numa mudez nunca suspensa
Em seu mundo-bolha de ar
(dentro o coração lapidar)
que mal acaba de nascer,
se vai crescendo até morrer
Sem luz, só frio, e este momento
pinçado por um instrumento
agudo e áspero, aparenta
reter a memória ou tenta
Uma mímica, uma surpresa
(não é fácil qualquer certeza)
que volta a si, passa adiante,
ainda, ausente, antes, distante.
Jejum reforçado
Lembrar pode ser
mais doce
que qualquer coisa
que fosse.
Menor
é rever sempre
siempre o presente
adiante.
Melhor seria
mesmo o que não
houve.
Comigo repete:
se possível
esquece.
Entre duas dispersões
noite anódina
um minuto segundo
uma hora
(o telefone me toca)
nenhum número disponível
um sedativo
ou senda
cedo ainda
cedo tudo
o olho seco
fixo vendo
nada ubíquo
POLITO, Ronaldo. de passagem. São Paulo: Nankin Editorial, 2001. 51 p. (Coleção Janela do Caos poesia brasileira) 12x18 cm. Capa e projeto gráfico: Fabio Weintraub.; Foto da capa: Mário Rui Feliciano. ISBN 85-86372-31-5 “ Ronald Polito “ Ex. bibl. Antonio Miranda
QUESTÃO DE GÊNERO
Em outro poema estava
a noite (por um momento)
absoluta. E a respiração
que (de dentro)
o ouvido escuta.
E alguma lição
a se tirar disso
esquecida.
Em outro poema.
EQUIVALÊNCIAS
Não é fácil ficar na posição
de um manequim por muito
tempo.
Tem uma grande parte que é
mecânica e pode simular
animação.
O maior problema continua
sendo o da substituição de
componentes.
ESTÂNCIA
Um sinal de mais vezes
Um de menos
Um equação de erros
Em termos
Um contraste entre o mesmo
E o idêntico
Uma causa gémea
Da consequência
Um conceito suspenso
Sem elementos
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TEXTOS EN ESPAÑOL
Tradução de Adolfo Montejo Navas*
RONALDO POLITO
(Juiz de Fora, Minas Gerais, 1961) A pesar de vivir retirado de los círculos literarios, su poesía goza de un notable prestigio, vive de su propia esencia, replegada en los límites estallados de su imaginación muchas veces mate, puro mineral, pero de gran fuerza expresiva y tonal. Lírica ensimismada y de alto valor plástico al mismo tiempo. Es traductor de Joan Brossa y de Poetas/escritores de otras literaturas y también creador de interesante poesía visual.
OBRA POÉTICA: Solo, 1996; Vaga, 1997; Intervalos, 1998.
OPACO
Noche fuiste,
engaste de negro sobre negro,
cofre con fondo
falso.
Piedra en lo oscuro,
charco turbio,
senda, rieles, cancela.
Cerco de montañas para suelo sin lumbre
y coda en cuerpo letal.
De Solo, 1996
ÉXTASIS
la primera palabra
diría: casa
pesada y breve
en el sentido que ella cede
la palabra primero
para partir entera
la duda de una esquina
desflorada mina
la palabra primera
sería: cuña
y hendidura -sin ton
ni son- profunda
De Solo, 1996
MUDA
silencio sin fin
un grito en un estuche
para no olvidar—
entre suspiros afuera
rumores de golpes
-ruidos
De Vaga, 1997
VANO
Esa piel de luz que baña
las plantas, la terraza, y se arroja
en espirales de flujos,
vértigos, centellas de leyendas
indecisas, collares de deslices,
penetrando sin pedir permiso
para traer todo a cuento,
a su propia lancetada superficie,
esa orla de palidez
y desprendimiento que pasa
de ojos cerrados maculando
con maquinarias de sombras
los muebles, cuadros, aposentos, no,
no hay cómo detener el espanto,
el cuerpo que salta sin alas
de sueño turbio hacia el trabajo
indescifrable (su segundo turno
en lo oscuro) de reconocer,
tanteando, los puntos ciegos
y mecanismos, lo inespecifico,
aglomeraciones de cenizas.
De Intervalos, 1998
*De Correspondencia celeste. Nueva poesía brasileña (1960-2000). Introducción, traducción y notas de Adolfo Montejo Navas. Madrid: Árdora Ediciones, 2001 – Obra publicada com o apoio do Ministério da Culta do Brasil.
*Nota: o tradutor Adolfo Montejo Navas é amigo comum nosso com Wagner Barja, e o convidamos a participar da exposição OBRANOME 2 no Museu Nacional de Brasília, durante a I Bienal Internacional de Poesia de Brasília 2009. Montejo Navas prometeu-nos suas traduções ao castelhano e só na Espanha, em viagem, é que conseguimos os originais que estamos divulgando parcialmente no nosso Portal de Poesia Ibeoramericana, com os agradecimentos.
Textos extraídos de la revista TSÉ=TSÉ, n 7/8 otoño 2000, Buenos Aires, Argentina.
[Traducciones de Aníbal Cristobo y R.J., revisadas por R.P.]
Por poco
nada más subjetivo
que no hablar de mi
nada más parecido
con cualquier casa así
como que un si contenido
no siendo no ni si
sólo común y esquivo
aun a su própio fin
Un extraño
Difícil saber lo que siente,
si está distante o cercano,
más aun suponer qué piensa
en una mudez nunca suspensa
En su mundo-burbuja de aire
(dentro el corazón lapidar)
que mal acaba de nacer,
se va creciendo hasta morir
Sin luz, sólo frio, y este momento
pinzado por un instrumento
agudo y áspero, aparenta
retener la memória o intenta
Una mímica, una sorpresa
(no es fácil cualquier certeza)
que vuelta a si, pasa adelante,
aún, ausente, antes, distante.
Ayuno reforzado
Recordar puede ser
más sulce
que cualquier cosa
que fuese.
Menor
es rever siempre
siempre el presente
adelante
Mejor sería
lo que no
sucedió
Conmigo repite:
si es posible
olvida.
Entre dos dispersiones
noche anódina
un minuto segundo
una hora
(el telefono me toca)
ningún número disponible
un sedativo
o senda
temprano aún
temprano todo
el ojo seco
fijo viendo
nada ubícuo
Página publicada em novembro de 2008; ampliada e republicada em junho de 2009; ampliada em abril 2010; ampliada e republicada em janeiro de 2015.
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