Rogério Salgado é escritor. poeta e jornalista. Natural de Campos dos Goytacases/RJ. reside em Belo Horizonte/MG desde 1980. Tem trabalhos publicados no país e no exterior. Tem mais de 20 livros publicados.
João Carlos Taveira e Rogério Salgado, participantes da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, 3 a 7 de setembro de 2008.
Casado com Virgilene Araújo, natural de Januária/MG, professora de teatro, que faz parte do NEPPCOM! Núcleo de Estudo e Pesquisa do Pensamento Complexo- FAE/UFMG. Autora dos livros: Uai Poético Pesquisando os Raízes e Veios Poéticos (Belô Poético-2001) e Brincando de Representar (Belô Poético-2001), em parceria com Rogério Salgado.
Ver também POEMAS VISUAIS Rogério Salgado
O TREM
E corre o trem por um caminho perdido
Maria Fumaça sem rumo sem nada
e eu desconhecido de mim mesmo
não encontro minha estação portuária
apenas vejo trilhos e brilhos e trilhos
por um lugar que não gostaria de estar
são paisagens ora felizes
ora tristes que me acompanham
dia adentro noite afora
sem saber aonde chegar
túneis passam trilhos certos
e eu sem me achar por aí
vou buscar explicações
para o que não entendo
o que me vem pela frente
passado presente futuro
só vendo só vendo
"Volúvel Fado" é nome forte para uma poesia ou mesmo para a publicação comemorando quatro décadas e meia de uma carreira inteira, íntegra e visceral."
Trechos do prefácio da escritora paulista Anita Costa Prado.
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Um samba curto sem rima
para Benjamim Moloise
A afro descendência
é um nó cego
engravatado numa corda
em que há numa extremidade
um ideal
e na outra extremidade
uma vida desfeita em dizer verdades
com poesia.
Rogério Salgado
...aos críticos de plantão
... uma reticência é um nada
numa palavra que não nos diz nada
porém uma mistura de nada
diz muito mais aos intelectuais
do que aos mais simples dos mortais...
Rogério Salgado
O favo e a vela
A vida deveria ser mais doce
feito uma saia rendada de abelhas
depositando mel a cada instante
adocicando detalhadamente
sentimentos de cada um de nós
e feito paz, branca
sobre a mesa, acesa
iluminando novos caminhos
do porvir.
Rogério Salgado & Virgilene Araújo
Cegueira Celular
Oi
Claro
que Vivo
de Tim
panos
ligados
pra só
ouvir a
voz do
mercado.
(Virgilene Araújo)
Jardim Amor
Para Zanoto
Uma cena cinematográfica
faz-se raiz
entre um cinemascope
e uma cena @
Um filme de Neville d'Almeida
diz-me que plantar sementes
seria criar um jardim
no coração de quem amo.
(Rogério Salgado)
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De
SALGADO, Rogério.
Trilhas.
(Incluindo o livro inédito No Brasil tudo acaba em...) Belo Horizonte, MG: Belô Poético Produções Artísticas, 2007. s.p. “ Rogério Salgado “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Rogério Salgado veio participar da I BIP – Bienal Internacional de Poesia de Brasília com este seu último livro, do qual extraímos:
Conceito
Para Otávio de Campos
Sou o que representa
a febre, a dor
a expressão exata
a corda que desata
todos os nós acorrentados
aos conceitos do que
querem que a poesia seja.
Canto a canção ferida
daquilo que é doido
tenho olhos de vidros partidos
e a imensidão de compor.
Não me estabeleço
amanheço, entardeço, anoiteço
na forma mais concreta.
Sutis diferenças
(Trovinha)
Meu pé esquerdo caminha
enquanto o direito fica parado.
Um quer seguir sua linha
o outro quer ficar sossegado.
Poeminha próximo de uma fábula
Observando a formiga que
carregava uma enorme folha
por um longo caminho
minha preguiça sentiu-se
profundamente envergonhada.
Masoquismo
Bata-me, antes de entrar.
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SALGADO, Rogério; ARAÚJO, Virgilene. Tipo exportação. Imagens de Neuza Ladeira. Belo Horizonte: Belô Poético Produções Artísticas, 2004. 61 p. Livro inconsútil, em caix de papelão. " Rogério Salgado
Inconformismo
(ou Provérbio II)
O destino quis assim:
Mas. eu não quero!
Poeminho próximo de uma fábula
Observando a formiga que
carregava uma enorme folha
por um longo caminho
minha preguiça sentiu-se
profundamente envergonhada.
Provérbio
Tapar o sol com a peneira
é ver o pavão preto e branco
Fingindo ser colorido.
Evidências
Caiu de pára-quedas
no sistema burocrático
Prático seria
se não fosse a burrice
caricata e declarada.
Textos extraídos do livro-objeto TIPO EXPORTAÇÃO, em formato de caixa de papelão com folhas soltas no interior, com textos escritos em parceria pelo casal de poetas. Rogério Salgado já publicou uma obra intitulada In/Sacando a Poesia, com poemas distribuídos dentro de saquinhos de embrulhar pães.
SALGADO, Rogério. Sais. Belo Horizonte: Belô Poético Produções Artísticas e Literárias, 2012. 46 p. ilus. 21x15 cm. “ Rogério Salgado “ Ex. bibl. Antonio Miranda
OITETO AMOROSO
Ser teu corpo, meu
ter teu beijo, mel
sentir estar no céu
de um crer tão ateu.
Criar palavras, sorte
dizer de amor, seu
encerrar este mote
dizendo apenas, valeu
SALGADO, Rogério. Poeta ativista. Memórias 1975-2015. Incluindo o livro inédito Sopro de Deus e outros poemas. Belo Horizonte, MG: RS Edições 2015. 175 p. 14x21 cm. “ Rogério Salgado “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Folia
Um pierrot observa a dança
enquanto a colombina alcança
entre confetes e serpentinas
no brilhar das purpurinas
o seu solto carnaval.
Pra mim, chega
(40 anos sem Torquato Neto)
O sol amarelado de todos os dias
nas chuvosas noites dentro de mim
mostraram o desejo do que poderia ter sido
se no peito não houvesse um vazio e
o ensejo do fim.
Um caminhar sem rumo
um doce amargo sem sumo
da vontade de não estar aqui!
Belo Horizonte, 11/11/2012
O TREM
E corre o trem por um caminho perdido
Maria Fumaça sem rumo sem nada
e eu desconhecido de mim mesmo
não encontro minha estação portuária
apenas vejo trilhos e brilhos e trilhos
por um lugar que não gostaria de estar
são paisagens ora felizes
ora tristes que me acompanham
dia adentro noite afora
sem saber aonde chegar
túneis passam trilhos certos
e eu sem me achar por aí
vou buscar explicações
para o que não entendo
o que me vem pela frente
passado presente futuro
só vendo só vendo
”Volúvel Fado” é nome forte para uma poesia ou mesmo para a publicação comemorando quatro décadas e meia de uma carreira inteira, íntegra e visceral.”
Trechos do prefácio da escritora paulista Anita Costa Prado.
STARLING, Rodrigo, org. Cem Poemas: Cem Mil Sonhos. – Homenagem aos 50 anos da Passeata
dos Cem Mil: maior manifestação popular contra a Ditadura Militar no País. Belo Horizonte: Starling, 2018. 176 p. No. 09 814
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda
Foto: google.com
CANDELÁRIA
Nos degraus frios da noite
crianças que cresceram
chupando balas chitas
nas esquinas da sociedade
encurtaram suas vidas
e covardemente perderam o sono
a balas calibre 22 e 38
nas mãos de animais.
BALADA PRIMAVERIL
É preciso que se abram os olhos
e não deixem que nos tirem a liberdade
como quem tira pirulito de uma criança
a noite ainda é clara
(apesar de algumas vezes, cinzenta)
e os antúrios ainda nascem
como as manhãs, de frente pro sol.
Numa praça, homens de fardas
ameaçam uma humilde pessoa
— justamente por ser somente
uma humilde pessoa —
enquanto homens de ternos e gravatas
fazem do planalto central
um puta carnaval.
Que o tempo prossiga
sem medo de envelhecer
mas que as pessoas sejam
como as crianças
desfraldadas do medo de envelhecerem
e que possamos sim, sem plena democracia
sentirmo-nos livres no ato de ir e vir
como meninos que brincam no quintal
à espera que o mundo seja
algo além daquele muro.
Que a vida (nossa)
não seja uma fantasia
além do que deveria ser
mas que possamos viver sem medos
caminhando nas calçadas
enquanto os homens de terno e fardas
caminham em busca da felicidade
que (talvez) ainda
não a tenham encontrado
*
Página ampliada e republicada em maio de 2025.
Página atualizada em julho de 2015. Ampliada e republicada em janeiro de 2021
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