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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


RITA ESPESCHIT

Rita de Cássia Espeschit Braga nasceu em Belo Horizonte e seu primeiro livro de poesias foi Gardênias & Tarântulas. Ganhou o prêmio Cidade de Belo Horizonte de Poesia em 1987. Autora de textos infanto-juvenis, já ganhou o Prêmio Jabuti. Vive em Edmonton, Canada.

Os poemas a seguir foram extraídos da antologia A POESIA MINEIRA NO SÉCULO XX, org., introd. e notas de Assis Brasil. Rio de Janeiro: Imago Ed. 1998.
 

MATURAÇÃO

Cresci quase em silêncio.
Apenas os pulmões enchendo
e murchando ruidosamente.

Fora isso não incomodei ninguém.
O mundo explodia inaudível,
temporal nas têmporas.

Havia também meus pais.
Me lembro deles como
de um filme na TV.

Às vezes os assistia
entre pipocas, quadrinhos
e outras ocupações sonolentas.

Entre os primeiros namorados.
As segundas intenções.
As terceiras dimensões.

Me lembro de meus pais.l
De como doía seu idioma
nosso silêncio compartilhado.


         (Par-ou-ímpar, 1997


MENON

Me lembro, enfim,

do começo do mundo.

A estrutura das estrelas
a álgebra das algas:
o saber é a memória
do que não conheci.

A idéia das coisas
se torna visível.

Implode a pedra abstrata.
A alma condensada se prepara
para o próximo big-bang.

Doem as dores do parto.
Da ignorância do homem
nasce o sabor dos deuses.

         (Par-ou-ímpar, 1997

 

ESPESCHIT, Rita.  Lua gorda.  Ilustrações de Sebastião Nunes.  Sabará, MG: Ed. Dubolsinho, 2012.  112 p.  ilus.  14.20 cm.  ISBN 978-85-7109-041-2   Col. A.M.

 

SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA

 

Quando você me deixou, meu bem

Fiquei melodramática e pensei:

"Nunca mais!", depois inundei

De lágrimas os diques domésticos

Tomei ansiolíticos e analgésicos.

 

Tive cólicas renais, meu amor

Acessos de gripes semanais

Contraí febres de toda cor:

Fiquei verde, amarela, lilás

Me suicidei em câmaras de gás.

 

Hoje estou mais calma.

Abri um tratado de fisiologia

Na página 1.993 e descobri

Que com + algumas extrassístoles

E crises de asma alérgica

Estarei definitivamente curada

Pronta para outra

Pronta para outro.

 

 

PRETÉRITO COMPOSTO

 

Do meu amor mais atento

Trago lembranças amenas

E remendos amarelos.

 

Tenho passado roupa, cola e tempo

Enquanto espero meu namorado

Virar passado.

Seu bigode virar remoto

Seu beijo virar segredo.

 

Tenho passado saudades

Mansas e imensas

Tenho passado saudades

Sem hora marcada.

 

 

O AMOR

 

O amor é cego

Surdo, mudo

Paralítico e barrigudo.

 

 

Extraído de

 

POESIA SEMPRE – Ano 5 – Número 8 – Junho 1997. Revista semestral de poesia.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional de Livro.  Editor Geral: Antonio Carlos Secchin.  Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

 

         Terra azul

 

         Pasta na superfície das praças
         O bando solitário e bípede.

         O singelo pascer dos homens
         espécie delicada e estúpida
         que se perdeu no planeta.

         A Terra é azul
         e insuportavelmente
         distante.

 

 

        Inverno

 

        A Terra degolada pelos deuses
         em dias de festim:
         raios da cólera maiúscula
         decepam a memória do mundo.

         Árvores se curvam
         e os rios quedam-se.
         Dia dos deuses
         sacudirem o pó dos séculos.

         O olhar pluviométrico do deus
         se repartiu em dez?
         Naquele tempo, havia gigantes
         sobre a Terra. Afogaram-se.

         Hoje, a amnésia visita nossa morada
         e sussurra doce os mistérios
         do tempo presente.

         Estamos surdos e esperamos
         a pequena nave louca em que viajaremos
         dilúvio afora.

 

 

         Pescaria

 

        O poema em vão jaz no mar de Platão.
         Dois mil anos em ócio de oceano.

         Heidegger, o pescador de ostras, erra a mira
         e arpoa o poema em extinção.
         O barco iça a carcaça dos versos.

         O pescador, convertido, se ajoelha
         ausculta, faz primeiros e segundos socorros
         decreta: pagãos! respira ainda a poesia!

 

Morre a filosofia na era do instante clip
Dois mil anos enfim na lâmpada de Aladim.

 

Página publicada em janeiro de 2009, AMPLIADA e republicada em maio de 2013. Ampliada em março de 2018

 


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