RENATO TRAVASSOS
Poeta e jornalista, nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, e faleceu em 30/03/1960.
INFINITO
Um delicioso anseio me atordoa,
Nestas lindas manhãs de primavera;
Em mim não me contenho, pois quisera
ter asas para voar sem rumo, à toa!
Os olhos pondo na azulada esfera,
Toda ave invejo que, liberta, voa:
Como seria, sendo livre, boa
A vida que me prende e desespera!
Nestas manhãs de luz maravilhosas
Em que sorrindo, desabrocham rosas,
Quem me dera dispor de duas asas, —
Para, contente, voar do vale à serra;
Para, louvando o que existir na terra,
A um tempo além pairar das coisas rasas!
De: Oração ao Sol: obra completa, Renato Travassos,
Rio de Janeiro, José Olympio: 1946, 3ª edição, p. 97.
BARROS, Jayme de. Poetas do Brasil. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1944. 231 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
“O snr. Renato Travassos permaneceu fiel à escola parnasiana, indiferente à renovação modernista (...)”Oração ao Sol” é, na verdade, um imenso poema, com cerca de dez mil versos, lançados com uma segurança rara, na nobre cadência característica de seu estilo poético
Uma ideia da maneira do snr. Renato Travasso encontramo-la neste soneto:
Por certo o coração da criatura
Para melhor sentir os seus amores
E ter na vida extremos de ventura,
Precisa ser sulcada pelas dores...
Ao bálsamo precede a queimadura;
Antes do gozo, veem os dissabores;
— deve revolver a terra dura
Que se cobre, depois, de lindas flores!
Sofri... Não mais, agora me atormento,
Paguei o meu tributo ao sofrimento;
Vivo cantando, cheio de alegria...
Por muito haver sofrido eu me bendigo;
Quem avaliar seus prêmios saberia,
Se não tivesse tido algum castigo?
Página publicada em novembro de 2019
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