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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

 

POESIA MINEIRA
Coordenação de Wilmar Silva

Fotógrafo: Glenio Campregher

 

RENATO NEGRÃO

Poeta e composistor mineiro.

 

NEGRÃO, Renato.  Vicente viciado.  Belo Horizonte: Rótula, 2012.  72 p.  11,5x20,5 cm. ISBN 978-85-9137380-0-2   Imagem da capa: Leonora Weismann. “28 poemas extras ¨ordinários do poeta Renato Negrão + de carona, 4 letras papo reto & sof esticadas do rapper das quebradas.  Col. A.M. (EA)

 

Voz
vida
novelo

eleva-se a flor
sem segredo

revelo

leve
é vê-lo

 

ANTES

 

antes que eu fique mudo

antes que eu tente de novo

antes do próximo eclipse

antes que a grama cresça

antes que a água da chuva toque o solo

 

antes do próximo intervalo comercial

antes do jornal

entre o toque da chave na ignição

e o motor entrando em combustão

antes que o olho soletre as palavras

que a boca não diz

no silêncio entre a vogal

e a conso-

antes que o ar

que respiro entre no nariz

 

antes que a trava vire treva

antes que não haja futuro

antes que não seja passado

antes que eu pare no meio

antes do final do recreio

 

interrompo o tempo e te digo

te amo e quero que fique comigo

 

 

 

UM BELO PAR

 

eu

e o bar

 

 

DESENROLANDO BARTHES

 

no início era o referente e o verbo

e o processo incessante

de produção de sentido

a isso se deu o nome de semiose

cadeia - ou galeria -

infinita e incessante

do discurso e da cultura

labuta poética sobre o sentido

de se produzir sentido sobre as coisas

 

dois performers escrevem no chão

- utilizando rolos de barbante

uma mesma frase do semiólogo roland barthes

 

a frase escrita é modificada ou subvertida

por meio de fluxos de pensamento e/ou

ocorrências sonoras

 

- conversas onomatopéias -

vívenciadas no local

logo duas frases diferentes surgem

no espaço expositivo

 

as linhas são ligadas a pessoas da audiência

e em seguida deslocadas pelo chão da galeria

em direção à rua até o termino do barbante

 

o que a audiência fará com as linhas que os ligam?

haverá tempo para que â audiência

leia a frase escrita no chão?

a que fim levara o fim da linha?

 

 


ENTRELINHAS , VERSOS CONTEMPORÂNEOS MINEIROS.   Organização: Vera Casa Nova, Kaio Carmona, Marcelo Dolabela.  Belo Horizonte, MG:  Quixote + Do Editoras Associadas, 2020.  577 p.  ISBN 978-85—66236-64—2            Ex. biblioteca de Antonio Miranda

 

               
                Movediça

 
      caio na tua movediça
       pulas no meu vulcão
       passeia por dentro da minha baleia
       que eu entro e acampo no teu tubarão    
       desce no balde da minha cisterna
       que eu me jogo no centro da tua cratera
       toque as paredes do meu bueiro
       que eu vou pelo ralo do teu banheiro

       me encontre no sítio do picarelo amapau
       que eu te acho no centro do nepal
       se esconda na espuma do meu travesseiro
       que eu viro a minhoca do teu canteiro
       arranque as agruras da minha gruta    
       que eu estanco as neuroses da tua cuca
       na mandala conte a história da nossa sorte
       e eu te persigo com um jato do globo da morte



Dadá

...
futebol é o seguinte
chegou ali e tem tranquilidade
é só aplicar o sutil o mirabolante
a raiz quadrada o labirinto
que não tem jeito pro goleiro não
é cair e levantar para buscar
o caroço lá dentro

...que negócio é esse de sutil
mirabolante e raiz quadrada

...não posso dizer é
segredo profissional
outro dia criei mais um gol
o independência

—poesia é o seguinte
chegou ali e tem tranquilidade
é só aplicar o sutil
o mirabolante
a raiz quadrada o labirinto
que não tem jeito pro leitor não
é cair e levantar para buscar
o caroço lá dentro

—que negócio é esse de sutil
mirabolante e raiz quadrada

—não posso dizer
é segredo profissional
outro dia criei mais um poema
o independência

Coreografia

O espaço coreográfico da palavra
e sua aplicabilidade  semântica
são pensados como estímulo
a outras configurações corporais

nossos corpos merecem e podem
dar respostas mais criativas
aos textos urbanos para além
de suas palavras de ordem
e de consumo

gesto como construção
transitoriedade como eixo
dispersão como método

1. mapa afetivo dos textos urbanos

deslocar por um percurso urbano
cuja cartografia se dê por um viés afetivo
estabelecer um relacionamento
gestual poético sensualizado
com um ou mais textos urbanos
que encontrar

2. Pele

seus sons seus átomos suas células
seus órgãos internos sua pele
sua roupa sua casa sua cidade
seu mundo
como camadas da sua epiderme

3. o pensamento disparado milton santos

o mundo como um conjunto
de possibilidades não apenas
um conjunto de realidades e sua convicção
de eu outros mundos poderiam ser criados
a partir dos mesmos materiais

4. Dança

crie na cidade
—a partir da seleção de palavras
encontradas por intermédio do seu desenho
da sua materialidade gráfica
dos contornos espaciais dessas palavras
e da dimensão poética e sensualizada
dos seus significados —
outros estímulos corporais
abrindo no horizonte
novas perspectivas
com os textos urbanos


Eu comi o Morrissey

muitos
disseram


tentei

fundo de fábrica
Manchester

só agora eu sei

embaixo da ponte
belo horizonte

yesterday

eu comi
o Morrissey
 

 

Partida do sensível

o patético é,
por assim dizer, o limite do drama.
e o trocadilho, ah! essas ocorrências
de semelhanças ortográficas —
abóbodas de abóboras dum ebó do forrobodó!
a que se dá o nome de paronomásia
e homonímia — significados múltiplos
partilhados num mesmo vocábulo.

um jogo de tênis que se joga
não com raquetes e bolas,
mas com os próprios tênis
dos participantes é a metáfora visual
de um trocadilho do carilho
o jogo ordinário, a armadilha
do signo,
o fenômeno performance.

cada lance inventa suas regras,
que jamais abolirão o acaso
que não cessa a cada ramagem.
o acaso é sua destreza e sua destreza é
o acaso
e seu entorno

essa partida de tênis,
sob narração de uma outra partida
de algum em roland garros
— ou de partidas de tênis de mesa
sem o sons dos quicares da bola —
serve-se do ridículo
como fundamento do processo criativo

ocaso, instalação, ready made,
no horizonte patético,
que é o limite do drama.


*
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/minas_gerais/renato_negrao.html

Página publicada em maio de 2024

 

 

Página publicada em julho de 2012


 

 

 
 
 
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