REMISSON ANICETO
Nasceu em Nova Era, Minas Gerais, Brasil.
Página do poeta: http://www.remisson.com.br
TEXTOS EM PORTUGUÊS - TEXTOS EM ESPAÑOL
Miopia
`0-0´
Comprei um óculos futurista
de singular utilidade
Vendo a vista
pela metade
Terapia do riso absurdo
Contraídos o risório e o zigomático,
Explode em ti sonora gargalhada.
Do veneno do teu riso tão elástico
Minhas cordas também são contagiadas.
Tudo em ti é motivo de euforia
E até o vento faz-me cócegas passando.
De tudo rimos e na falsa alegria
O teu riso com o meu riso vai rimando.
Com o riso tu me enganas e eu te engano;
Se sorrimos, damos bah! para a tristeza.
Riamos, que o riso encobre o dano.
Devemos rir, pois só o riso nos sobeja.
Serão bobos? vão dizer. Somos insanos!
E talvez rindo, a triste Morte não nos veja...
Juramento
Jurei que o meu amor seria eterno
e que alguém me amaria até o fim.
Antes tivesse desejado todo o inferno
só pra mim...
Encontrei uma musa inspiradora
e no início o amor nos fez tão bem!
Poucos anos... eu pequei e ela pecadora
foi também.
Desde então, aquele eterno amor imploro,
mas fatal sina nos persegue vida afora:
presas dos duros laços do amor, eu choro
e ela chora.
O juramento que fiz, ela fizera,
querendo alguém que a amasse eternamente.
Mas o amor eterno é doce quimera
dos dementes...
Prisioneiros fatais de um juramento
que nos mantém os corações tão bem fechados,
sofremos ambos o mesmo tormento
dos condenados.
No entanto, eu juro! – estou bem certo –
que as grades do sofrer serão partidas
e os nossos corações serão libertos,
cada um seguindo livre a sua vida.
Nada
Quem pensa que eu vivi, engana-se
Quem diz que eu vivi, mente.
Passei apenas...
E passei como se fosse
um nada
que ninguém vê,
que ninguém sente...
Invólucro
Idiota! Não vês que nada és?
Apenas fina capa bolorenta te protege
da podridão. Vermes famintos te rodeiam.
Ignoras que num lance mágico, num segundo apenas
cai por terra toda a altivez e o belo
papel-presente revela a fétida massa?
O gosto amargo do fel, a visão incerta,
o entortar das pernas, o descontrole total...
tudo é inevitável!
Mais dia menos dia serás presa fácil:
o tempo é impiedoso.
O trágico fim independe de tua vontade.
A arrogância que despejas não passa
de faceta inútil das tuas diversas faces
vãs e mundanas.
Ao sol poente, o rosto murcho e os ossos corroídos
doerão mais do que naqueles que tiveram
a precaução e o bom senso de serem
simples e ocultos.
Restarão teus lindos cabelos...
E que utilidade terão teus cabelos, fios
órfãos e subterrâneos, dispersos, opacos
sobre os ossos?
Envoltura
¿Idiota! ¿No ves que nada eres?
Apenas fina capa mohosa te protege
de la podredumbre. Gusanos hambrientos te rodean.
¿Ignoras que en un pase mágico, en un segundo apenas
cae por tierra toda la altivez y el bello
papel de regalo revela la fétida masa?
El gusto amargo de la hiel, la visión incierta,
el torcerse de las piernas, el descontrol total...
todo es inevitable!
Cualquier día serás presa fácil:
el tiempo es impiedoso.
El trágico fin no depende de tu voluntad.
La arrogancia que derramas no pasa
de ser faceta inútil de tus diversas faces
vanas y mundanas.
Al sol poniente, el rostro marchito y los huesos corroídos
dolerán más que en aquellos que tuvieron
la precaución y el buen tino de ser
simples y ocultos.
Quedarán tus lindos cabellos...
¿Y qué utilidad tendrán tus cabellos, hilos
huérfanos y subterráneos, dispersos, opacos
sobre los huesos?
Transição
É tão fria a cova e tão escuro o horto
onde depositam meu corpo doente!
_ Como a cova é fria se o corpo é morto?
A partir de agora só a alma sente...
Ah! Esta cama rude onde estou deitado
e este quarto escuro e tão bem fechado!
Tento levantar, mas estou tão cansado...
Que rumor é esse ali no quarto ao lado?
Há um jardim bem perto: sinto o odor das flores.
Quero levantar, mas estou tão cansado...
Estou tão cansado mas não sinto dores.
E o rumor aumenta ali no quarto ao lado.
_ Desçam o caixão! _ diz alguém lá fora.
Quem morreu enquanto estive dormindo?
Bem perto da porta ouço alguém que chora,
lamentando a sorte de quem vai partindo.
Quero levantar, faço força tamanha
mas tenho as mãos inertes e o corpo duro.
Agora o padre reza numa língua estranha,
enquanto fico preso neste quarto escuro.
Está caindo terra sobre o telhado.
Parece que o mundo está desabando...
Falta-me o ar neste quarto fechado
e lá fora há uma multidão chorando.
Sinto um tremor leve, um breve arrepio...
Já quase nada mais estou sentindo.
Por que não me tiram deste quarto frio?
Alguém morreu enquanto estive dormindo.
É tão fria a cova e tão escuro o horto
onde depositam meu corpo doente!
_ Como a cova é fria se o corpo é morto?
A partir de agora só a alma sente...
Transición
Es tan frío el hueco y tan oscuro el huerto
donde depositan mi cuerpo doliente!
_ ¿Como el hueco es frío si el cuerpo está muerto?
A partir de ahora sólo el alma siente...
Ah! Esta cama tosca donde estoy echado
y este cuarto oscuro y tan bien cerrado!
Quiero levantarme, pero estoy cansado...
¿Que rumor es ese en el cuarto al lado?
Hay un jardín cerca: siento aroma a flores.
Quiero levantarme, pero estoy cansado...
Estoy tan cansado pero sin dolores.
Y el rumor aumenta en el cuarto al lado.
_ ¡Bajen el cajón! _ dice alguno ahora.
¿Quien murió en tanto estuve durmiendo?
Cercano a la puerta oigo alguien que llora,
lamenta la suerte de quien va partiendo.
Quiero levantarme, con fuerza tamaña
inertes mis manos y mi cuerpo duro.
Reza el sacerdote en una lengua extraña,
mientras quedo preso en este cuarto oscuro.
Va cayendo tierra sobre el tejado.
Parece que el mundo se está derrumbando...
El aire me falta en el cuarto cerrado
y una multitud está afuera llorando.
Siento un temblor leve, un escalofrío...
Ya casi nada más estoy sintiendo.
¿Por qué no me sacan de este cuarto frío?
Alguien murió mientras estuve durmiendo.
Es tan frío el hueco y tan oscuro el huerto
donde depositan mi cuerpo doliente!
_ ¿Como el hueco es frío si el cuerpo está muerto?
A partir de ahora sólo el alma siente...
Traducción: Graciela Cariello
Página publicada em julho de 2013
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