PAULINHO ASSUNÇÃO
Vicente de Paula Assunção (São Gotardo, 21 de julho de 1951) é um poeta, ficcionista e jornalista brasileiro.
Paulinho Assunção foi membro da comissão de redação do Suplemento Literário de Minas Gerais no começo dos anos 80, como parte da equipe coordenada pelo escritor Murilo Rubião, e redator na assessoria de imprensa do Palácio das Artes de 1976 a 1987. Em 1976, fez parte da equipe do jornal Movimento na sucursal de Belo Horizonte, uma das principais publicações de resistência à ditadura militar.
Viveu em Córdoba, Argentina, em 1973, Lima, no Peru, em 1975, e Riverside, Estados Unidos, em 2001. Na Argentina, onde chegou no mês de março de 1973, assistiu à eleição e posse de Héctor Cámpora e à volta de Perón. Permaneceu no país até dezembro daquele ano, retornando ao Brasil por terra, de carona. No Peru, presenciou a queda, por golpe militar, de Velasco Alvarado, e a tomada do poder por Francisco Morales Bermúdez. E morava nos Estados Unidos quando ocorreu o ataque ao World Trade Center, em 11 de setembro.
Também compositor, entre as suas diversas parcerias musicais, Paulinho Assunção é autor, junto com Leri Faria Jr., de Jequitinhonha, música gravada por Consuelo de Paula, Paulinho Pedra Azul e pelo próprio Leri.
Publicou o seu primeiro livro Cantigas de amor & outras geografias, de poesia, em 1980, 2 muito embora já colaborasse na imprensa de Minas Gerais desde 1975. A este primeiro livro, seguiram-se:
A sagrada blasfêmia dos bares, 1981, de poesia, publicado pela Editora Civilização Brasileira, RJ;
Diário do mudo, 1984, também de poesia, vencedor em 1983 do Prêmio Nacional Cidade de Belo Horizonte, da Prefeitura da capital mineira.
A partir de 1987, Assunção dedica-se integralmente ao jornalismo, primeiro no jornal Diário de Minas, e, em 1989, na sucursal de Minas Gerais da Agência Estado (O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde), onde permanece até 1995.
Logo retorna à literatura e, em 1998, ganha o Prêmio Minas de Cultura (Guimarães Rosa) com o livro de contos Pequeno tratado sobre as ilusões, publicado em Portugal, em 2003, pela editora Campo das Letras, do Porto. Naquele mesmo ano começa as suas experiências com livros artesanais, pelo selo Edições 2 Luas, minieditora que Paulinho Assunção classifica como "a menor editora do mundo". Esses pequenos livros, todos feitos à mão, um a um, mediante os instrumentos mais rudimentares, já somam duas dezenas de títulos, com seus textos sempre experimentais, a meio caminho entre a prosa e a poesia.
Em 2005, foi um dos três autores brasileiros convidados (junto com Luís Fernando Veríssimo e Luiz Antônio de Assis Brasil) para o encontro de escritores de expressão ibérica Correntes D´Escritas, realizado anualmente em fevereiro na Póvoa de Varzim, Portugal. No encontro, apresentou o livro Os olhos do homem que chorava no rio, de Manuel Jorge Marmelo e Ana Paula Tavares, livro escrito a partir de um texto que Paulinho Assunção criou em seu blogue, dentro de uma série de livros imaginários.
Em 2010, seu livro infanto-juvenil O nome do filme é Amazônia, publicado pela Editora Dimensão, ficou entre os finalistas do Prêmio Jabuti e, em 2011, foi também selecionado para o Programa Nacional Biblioteca da Escola, o PNBE 2012. Também em 2010, o autor foi contemplado pela Bolsa Funarte de Criação Literária para escrever o romance A conversa dos livros na biblioteca do mágico.
Paulinho Assunção vive em Belo Horizonte, dedicando-se à escrita, ao trabalho de redator e revisor de textos para terceiros e à produção dos livros artesanais. Fragmentos de seus textos podem ser lidos em diversos blogues.
Extraído da revista POESIA SEMPRE, Número 36, Ano 18, 2012. (Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro).
CANÇONETA DA RECRIAÇÃO DO MUNDO
No princípio era o coito — e não havia trevas.
Só havia o coito — o céu e a terra, os astros
e as águas, e as gentes, das incontáveis espécies,
e havia ritmo, pois no princípio era o coito, e havia
cítaras e saxofones, rombudos violoncelos,
encapelados violinos, e flautas, e flautins, e taróis,
pois no princípio era o coito, e havia orquestra,
e havia vinhas e havia uva e havia vinho
para o curso da festa, pois no princípio era o coito,
e não havia verbo e não havia discurso, só o corpo,
e os corpos, a líquida aliança, jateantes abraços,
esguichantes tumultos, orgíacas cidadelas, e as gentes,
das incontáveis espécies, pois no princípio era o coito,
grilos e grilas, abelhos e abelhas, formigos e formigas,
todas as gentes, bípedes e quadrúpedes, voantes
e rastejantes, o fero e a fera, pois no princípio era o coito,
é o que digo, desbocado com gregório, com o elixir
do bernardo, é o que digo, no princípio era o coito
e foi assim a criação do mundo.
POESIA ERÓTICA
SAVARY, Olga, org. Carne viva. 1ª antologia brasileira de poemas eróticos. Rio de Janeiro: Editora Anima, 1984, 348 p. 14x21 cm. Capa: ilustração de Sérgio Ferro. Inclui 77 poetas ativos no final do século 20. Ex. bibl. Antonio Miranda
flor
E SE PENETRO ESCUTO Ó CONCHA DO TEMPO
MEU CANAL ECO DE MIM NO QUE FOR ESTRELA
CÁ DENTRO MINHA ENGUIA
E SE ESCUTO PARO O QUE VEM ATRÁS (?)
E O VENTO (?) É A FLECHA (?) É O RITO L(?)
Ó CALICE Ó VULVA Ó MACEGA DE PÊLOS
FLOR QUE SABE SANGRE MINHA CABAÇA DE BÚZIOS
lábios
ENSALIVO-TE LAMAÇAL O POÇO ENSALIVO-TE
ANGRAS ILHAS ONDE A LÍNGUA É O PEIXE
ENSALIVO-TE PORTAS D´ÁGUA OCEANO EM SUA
E DE SER ÁGUA ENSALIVO-TE Ó NAU
GRÃO DE SAL QUE ENSALIVO-TE DESOVA DE PEIXE
MEDUSA QUE TE BEIJO Ó COVA
ENSALIVO-TE SANGUESSUGA VENTOSA EM MIM
Página publicada em agosto de 2015;
Página ampliada em junho de 2020
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