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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

OSWALDO MARTINS

 

Nasceu em Barbacena, Minas Gerais, em 1960. Formou-se em Letras pela PUC-Rio. Mestre em Literatura Brasileira pela UERJ. Publicou os livros: desestudos (2000), minimalhas do alheio (2002), lucidez do oco (2004) e COSMOLOGIA DO IMPRECISO (2008), todos pela 7 Letras.

Blog:  http://osmarti.blogspot.com/

COSMOLOGIA DO IMPRECISO

De
COSMOLOGIA DO IMPRECISO
Rio de Janeiro: 7Letras, 2008.
ISBN 978-85-7577-472-4

 

arte da deseducação

2.
pedagogia dos imbecis

as crianças brincam
de teatrinho

encenam para as mamães
que aplaudem

futuras
donas de casa.


5.
as jovens — por princípio —
as recém-descabaçadas

andam
como quem carregasse
um mundo à parte

nisto é que se reside
todo seu talento

e maldade


construto

3.
uma lição de anatomia:

o bule
enraíza

uma forma
no espaço retalhado

da prateleira
que vaga

no espaço


estudo para pinturas sacras

I
a virgem houvesse atraído o espírito santo
sobre ela


e não exangue parisse
beberíamos aos culhões do arcanjo
para que não nos faltassem forças
para que não nos faltasse o tesão

até o último dia

4.
cristo nas bodas de cana percorrido
o colo das moças


e com os olhos inebriados de tesão
tocasse aqui uma teta
ali as curvas

as portentosas nádegas
da mulher que se oferecia

mais que a morte
seria a carne

11
aquela a nos compor ritmos
como as bailoaras de Cabral

a dançar a dança dos desertos
o sol o mais exposto imposto

aquela que a cumprir tirsos
no chão nu na terra areenta

solapasse à morte o canto
fúnebre e a ele permitisse

o sol do ainda sol a pino
como se no para sempre

não se fosse a juventude

 

MARTINS, Oswaldo.  Língua nua.  Desenhos de Elvira Vigna.  Rio de Janeiro, RJ: 7Letras, 2011.  106 p.  ilus.  ISBN 978-85-7577-770-1.  “ Oswaldo Martins “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

olho vago da experiência

o quase perfil

 

do estupor

 

sento e apoio

não as mãos

não a bunda

 

mas a clareza do espaço

que o ventre infunde

 

 

 

 

a linha reta traz suas manchas curvas

talvez os pentelhos negros as pernas

em desleixo sobre um anteparo vazio

 

esta ilusão se senta tocada pela música

um pé pende para além da reta linha

outro se esconde - talvez mais nu -

 

nesta nudez translúcida que não se vê

tudo são técnicas de aparição brancas

folhas dizem menos os traços menos

 

as palavras dizem do que não haveria

do que não há e entretanto é o reflexo

do havido na sensibilidade deste oco

 

lúcido

 

 

 

escorre sobre o papel em desespero alguma sombra erradia de outra salomé dança que buscou as dádivas o espaço de manchas onde não mais se vê súbito o permanecido desejo a impudicícia ávida dos pruridos gonocócicos e este vasto cazzo a folha em branco a branca música desvela os pés faz rodopiarem os ventos os bagos irradiarem sóis brancas noites a ver chegarem as antigas damas quando ridente fianda vê vestidas as velhas putas que bordejam pelo salão e eu e eu - oculto tetrarca paulistano das madrugadas - ofereço o que do nu alcançam

 

 

Extraído de

 

POESIA SEMPRE.  Ano 13. Número 20. Março 2005. Revista trimestral de poesia.  Editor Luciano Trigo.   Rio de Janeiro, RJ: Fundação Biblioteca Nacional, 2005.  Ilus.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

        as palavras nos celebram e giram
        na alquimia do amor —

        os passos inserem-se na cidade
        há ventos e arabescos

        vãos descalço de paisagem
        rasgo de veias abertas

        a partícula da palavra gira
        onde os corpos deixam espaço

 

        lecuona

        suas vísceras vestem-me e me sento
        na calçada fria

        chove, talvez
        a cidade deslize

        aquém de todo trânsito
        de toda busca

        o beijo como a música
        compõe sobre o corpo

        do amor

 

        dante

        na aporia do amor
        teço teu dorso nu

        a voz chama em queda
        a memória das ruas

        que não cessa
        o andar
        por beatrice

 

Página publicada em agosto de 2009 ; ampliada e republicada em dezembro de 2014. Ampliada em julho de 2018.


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