NILO APARECIDA PINTO
filho de Antonio Pinto e Maryland de Morais Pinto, nasceu em Caratinga/MG em 23.06.1915 e faleceu no Rio de Janeiro em 15.01.1974. Publicou vários livros, sendo um de trovas: "Meu coração em cantigas". Residiu por bom tempo no Espírito Santo. Trovador de raro talento. Foi tabelião.
“Poeta que se destacou na sua geração, acha-se hoje Nilo Aparecida Pinto (1915-1974) praticamente esquecido. Mineiro de Caratinga, exerceu o cargo de auxiliar direto de Juscelino Kubitschek na Presidência da República. Passou os primeiros 20 anos de sua vida em Vitória do Espírito Santo, onde se formou em Direito e iniciou sua carreira de jornalista e de escritor.
Mudou-se para Belo Horizonte, onde sua poesia fez sucesso, tendo ingressado na Academia Mineira de Letras. Possuído de uma "angústia de viver" que atinge muitos poetas, superou-a através de uma poesia pessoal, com palavras simples que, num ritmo seguro, surgem como as únicas possíveis em cada verso. (...) Uma das primeiras qualidades que Nilo Aparecida Pinto mostra possuir é exatamente essa unidade, essa coesão de palavras, de sons, de ritmo, dentro de um sentido poético primitivamente natural e de profunda originalidade” (...) ANTONIO OLINTO
TEXTOS EM PORTUGUÊS – TEXTOS EN ESPAÑOL
O bambu como muita gente
se parece, no feitio:
Por fora - é belo e imponente,
por dentro - é oco e vazio...
Fonte: vendavaldasletras.wordpress.com
Eu, se de amor, ando louco,
culpados somos iguais:
tu - me querendo tão pouco,
eu - te querendo demais!
O ocaso traz tantas mágoas,
que o mar, buscando esquecê-las,
espana o espelho das águas
para o baile das estrelas.
Das dores que o tempo aguça
a mais triste, eu desconfio,
ser a da mãe que soluça
junto de um berço vazio...
Tua bênção, Pai Celeste,
à minha casa desceu,
com a esposa que tu me deste,
com a filha que ela me deu.
Sendo o violão de madeira
há de entender nossa dor,
que também foi de madeira
a cruz de Nosso Senhor.
Talvez Deus em mim pensasse,
ao moldar teu lindo rosto.
– Deu-te ao moreno da face
as sombras do meu desgosto.
Na minha saudade imensa,
tendo alguém nas minhas mágoas,
sou como a fonte que pensa
prender a lua nas águas!...
Pelas olheiras, suspeito
de quem diz não ter desgosto:
- Quem chora um amor desfeito
traz sempre o luto no rosto...
Maria não parte um ramo,
mesmo fraco e pequenino...
- E Maria, se quisesse,
dobraria o meu destino!...
Coloquei o teu retrato
no meu relógio, querida:
- Faze, agora, o que quiseres
das horas da minha vida.
(Esp. Santo 1938)
A MULHER NA POESIA DO BRASIL. Coletânea organizada por Da Costa Santos. Belo Horizonte, MG: Edições “Mantiqueira”, 1948. 291 p. 14x18 cm. Capa de Delfino Filho. “ Da Costa Santos “ Ex. bibl. Antonio Miranda
MULHERES E ÁRVORES
Ai da mulher que .nunca foi beijada,
Ai daquela que amou, mas, que, infeliz,
Não pôde ter humilde e desprezada,
A existência gloriosa que ela quis!
Ai daquela, também, que, sendo amada,
Desprezou seus impulsos feminis,
E que, sozinha, ao termo da jornada,
No seu próprio destino se maldiz!
Elas são como as árvores doridas
Que se exilando, estéreis e esquecidas,
Na tristeza dos bosques incolores,
Vivem, à sombra dos ramais abrutos,
Intimidadas por não terem flores
E envergonhadas por não darem frutos! ...
TEXTOS EN ESPAÑOL
Extraídos de
ANTOLOGÍA DE POESÍA BRASILEÑA. Preparación, traducción y prólogo de Gabriel Rodríguez. Caracas: Fundación Editorial Popular de la Cultura; Fundción Editorial El Perro y la la Rana, 2008. 437 p. Col. Poesía del Mundo. Série Antologías. Col. A.M.
MÚSICA PERDIDA
A cavatina tiene sabor la noche.
Con el viento viejo imaginando pavanas,
inflaman lumbre a los faroles de esquina
mis proustianas reviviscencias.
El río tiene desasosiegos gitanos.
Se ilumina la sala de la memoria,
evocando detrás de las persianas,
las casonas ardientes en la neblina.
En mis sueños el pozo que dibuja
bajo balcones la cara de mujeres,
al restablecer retablos de serenata:
diálogos de flauta y de abandono.
Minuete de hojas amarillas.
íarao de luna en los salones otoñales.
SONETO PARA MI PADRE
Siempre llegas así: no por la senda
en que buscaste la inviolada aurora.
Vienes de los pórticos del sueño, como antaño
cabalgabas en las brumas de la finca.
Llegas como te revela la memoria:
tu caballo sangrando por la espuela.
Igual como te vi en la infancia, ahora eterno,
me visitas así, cristalizado en leyenda.
Tu sombra plena la noche, al galopar
en los dominios del viento, por las grutas
de la inmóvil soledad. Y te oigo cuando
inflamas mi ser, al frente una aureola,
como si me arrastrase para batallas
el arranque marcial de tu caballo.
(Sol do Abismo)
SONETO DEL SUICIDA
Un hombre y su tedio, y nada más
allá de la noche que se refugia
en su revuelta. Ajeno a los puertos,
ajeno a la superficie que presagia
el blanco e inútil testigo- la fría
luna que dialoga con los cristales,
ahora ese hombre que se decide
entre veneno, pólvora y cuchillos
agujerea su noche y en angustia
un dédalo se ofrece para el salto
que busca porque la mañana le veda
otro disfraz para insistir.
Y quiere caer tan hondo en su caída
para que no quede más donde caer.
(Reino Interdito)
EL FANTASMA Y EL CABALLO
Con el caballo que sobresale sobre el monte
ahora salido del plantío de paz
(mallas de horizonte, cascos de luna)
el fantasma galopa a retaguardia
de los pliegues de la distancia, y se complace
con ser su abismo, ser su puente,
pues entre presura y descanso, tanto importa
que escuche viento y soledad y fuente,
la música del derrotero es siempre aquella
de la casa amaneciendo, y del portón
que fiel a su anuncio en los atajos
resuena en mí este tropel sin huellas
con que en su caballo de trozos,
la memoria del padre visita al hijo.
SONETO EN EL ATRIO DE LOS PROFETAS
Deja el rollo en las manos de Jeremías,
no hables al león de Daniel
ni incites las frías bocas de piedra
ni las furias que propalan amargura
y tampoco a la tempestad que ruge
en ese azote, en ese cenizo,
en ese carro de Elias que no vuela
porque el Señor petrificó el viento.
No te detengas ante los prisioneros gritos
del coral de silencios en que Amos
apacienta contrario a sus cameros
los rayos que inflamó con su palabra.
Ahora sólo el otro te mantiene
y aplaza el caer de esa tormenta.
(Lua dos Confl¡tos)
COMPANHEIRA
Grande é a palavra Companheira!... Quanta
Ternura, quanta, ela exprimir não ousa!
Ao murmura-la eu sinto qualquer cousa
Que me faz crer que essa palavra é Santa!
Repito-as: É a luz que enleva, o som que encanta!
Mais do que Amada, Amante, Irmã Esposa,
Parece que ao dizê-la, ela me pousa
A música dos anjos, na garganta!...
Por isso mesmo é que, na minha estrada,
Eu vos peço, Senhor, desta maneira:
—Que Aquela que couber-me, na jornada,
Para os acasos de uma vida inteira
Seja —mais do que Esposa, Irmã e Amada,
A que eu possa chamar de Companheira!
A MOÇA FEIA
Talvez, por não ser linda, ela trazia
Uma rosa na trança... e, assim, Consuelo,
Apesar de ser feia, me prendia:
Eu namorava a flor do seu cabelo...
Coitada! Ouvindo a sua voz macia,
Mal eu punha em seu rosto o olhar de gelo...
E, em resposta, a julgar que a flor me ouvia,
Somente a flor mostrava o meu desvelo...
Um dia, ela partiu... não era linda...
Mas, de todas que amei, só ela ainda
Vem perturbar a minha vida mansa.
Pois, sinto, ao recordá-la, distraído,
Um murmúrio de pétalas no ouvido
E um perfume de rosa na lembrança!...
TROVAS 4 - [Seleção de Edson Guedes de Morais] Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, 2013. 5 v. 17x12 cm. edição artesanal, capa plástica e espiralada.
Ex. bibl. Antonio Miranda
*
VEJA e LEIA outros poetas de MINAS GERAIS em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/minas_gerais/minas_gerais.html
Página publicada em setembro de 2021
Página publicada em janeiro de 2014.
|