Foto extraída de www.recantodasletras.com.br
NICOLLAS RANIERI
Nicollas Ranieri de Moraes Pessôa nasceu em Uberaba, Minas Gerais, em 1991.
Mestrando em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e licenciado em Letras Português-Inglês pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).
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Extraído de
POESIA SEMPRE. Número 35 – Ano 17 – 2010. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, 2010. Editor Marco Lucchesi. Ex. bibl. Antonio Miranda
Pedra
É uma pedra.
Mas a maquie aborígene,
e a vista com tecidos —
ósseos, musculares, epiteliais —
e com lã e seda e cetim;
deixe que ela ultrapasse
a forma do casulo e do caracol.
Mais que para um molde ou fantoche,
dê a ela uma vida postiça:
alfabetize-a, andrógina e lasciva;
faça disso um exercício físico.
Contudo ela é seca — frígida — hostil
e se esquiva: sua origem mineral
quer ser definitiva pelo tempos.
Ela quer se terra, areia
e alheia nada revela.
Ela se recompõe.
É uma pedra.
Predador
fecundando
ele rompe a semente útero
incinera os insetos que o observam obcecados
e logo é deglutido por um ofídio avestruz
mas insiste e reage sabotando a digestão
: facas que assaltam asas atrofiadas
— leque pavão de lâminas —
flor fundo com pétalas ásperas
lula água-viva e
formiga
esquecer para sempre
sua primeira geografia corporal
para surpreender (compreender)
sua presa
ele caranguejo fratura artelhos
ele escorpião mata caçadores
depois esconde-se no céu noturno
e com seus restos estelares
fabrica vértebras para si mesmo
bárbaro ele violenta bocas e genitais
sem conhecer sua próxima forma
lontra
sem saber ela
inicia seus jogos
(primeiro
no seu andar
dança
enigmas)
me lanço
— náufrago —
no encantamento
fulgor
— fogo —
onírico
que tatua o
pensar
música no
crepúsculo
de tudo
máscara
esfinge
— efígie —
nô— non
sense
Página publicada em setembro de 2018
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