MARIA DO ROSÁRIO TELES
Maria do Rosário de Morais Teles nasceu na cidade de Goiás, no dia 29 de dezembro de 1933. Filha de Sebastião da Cunha Morais e Tereza Correa de Moraes.
Fez os estudos secundários no Lyceu de Goiânia. É formada em Letras pela Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de Goiás. Foi professora de Língua Portuguesa no Instituto de Cultura Uruguaio-Brasileiro em Montevideu, de 1966 a 1970.
Foi bolsista do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, em Portugal, de 1984 a 1986.
Fez cursos avulsos na Université de Haute Bretagne , em Rennes, na França.
É tradutora e revisora de várias editoras do Rio de Janeiro.
Menção honrosa da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro em 1975, com o livro de poemas Cristal do tempo, 2ª. edição aumentada, com o título Cristal do tempo e outros poemas, 1999. É esposa do escritor Gilberto Mendonça Teles.
TELES, Maria do Rosário de Morais. Cristal do tempo. Goiânia: Editora do Cerne, 1982. 90 p. 11x15 cm. Col. Bibl. Antonio Miranda
AGORA, QUE FAZER DESTA TRISTEZA,
se estou cansada de buscar no rio
a sombra da memória?
Agora, que fazer dos ombros curvos,
se os olhos se resvalam na paisagem?
Esta tarde que acaba me entristece
e ninguém mais me pode devolver
meu sonho muito a medo revelado.
Agora, que fazer da minha angústia?
Cai sobre mim a lâmina da tarde
e um desespero fundo se estremece
na minha solidão.
QUANDO AMANHECE, ÁRVORE,
timidamente sorris
nas tuas mínimas folhas.
E quando o sol cai
sobre a tua fronde
e te contempla a beleza
rápida dos pássaros,
o teu sorriso se expande
e balanças loucamente
teus ramos, como remos
nas ondas de luz.
Mas quando a tarde
se aninha na tua sombra
e o céu se incendeia
nas tuas frutas amarelas,
quem sabe de teus ramos
e dos rumos que recolhes
na tua solidão?
AS AVES, POR ONDE ANDARAM
as aves nesta manha
de sol, de nuvem, de areia,
de tanto mar de brinquedo?
Que céu saíram buscando.
se o voo que elas habitam
se fecham e se aderem ao sonho
que um vago mito criou?
Por que saíram as aves,
por que de novo regressam
sobre os rastos que deixaram
nesta praia de brinquedo?
TELES, Maria do Rosário. Cristal do tempo & A Cor do Invisível. Segunda edição aumentada e A Cor Invisível. Goiânia: Kelps, 2013. 116 p. 14x21 cm. ISBN 978-85-400-0832-8 “Menção honrosa da União Brasileira de Escritores, Rio de Janeiro, 1975.” Col. Bibl. Antonio Miranda
ESFINGE
Braços caídos ao longo do corpo,
assisto calma ao sol sangrando o céu
e sigo rindo o sonho redivivo
e as aves que regressam.
Andei passeando ao longo do oceano
para encontrar meu tempo, e agora escuto
este rumor de amor onipresente.
Lábios calados, meu pensar de esfinge
nem desconhece as ânsias do atropelo.
Entrego-me ao sonhar — sou plena e viva
e cheia de ternura.
MATINAL
Na brisa que passa,
no pássaro leve,
na manhã perdida
nesses horizontes,
no orvalho da serra,
no vapor do rio,
no ramo perdido
junto à margem úmida,
eu sinto a beleza
simples de viver.
NOTURNO
Quem será esse pastor
que alegra o canto da tarde
e reinventa o silêncio
nas pontas da música?
Mas que me importa o pastor
se é doce a sua música,
se o que ouço arrebata
todas as estrelas da noite?
A COR DO COTIDIANO
Invisível como a rosa sonhada
é a cor do cotidiano
o rastro da estrela infinita,
o sorriso do menino que passa,
que nada busca, nada idealiza
na correnteza dos súbitos
acontecimentos.
Mas alguma rosa brotou
do invisível ideal do homem
que dormia na porta da igreja
e cultivava a sua solidão.
Página publicada em fevereiro de 2014
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