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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


MARIA ÂNGELA ALVIM

MARIA ÂNGELA ALVIM

 

Nascida a 1° de janeiro de 1926 na Fazenda do Pouso Alegre, Município de Volta Grande em Minas Gerais, veio a falecer no Rio de Janeiro a 19 de outubro de 1959. Publicou em vida um único livro "Superfície", impresso para as Edições João Calazans.

 

Publicou-se em 1962, sob orientação de Lélia Coelho Frota, a obra inédita da poetisa mineira, juntamente com o livro "Superfície", num volume intitulado "POEMAS". (Fonte: A NOVÍSSIMA POESIA BRASILEIRA: seleção de Walmir Ayala. Rio de Janeiro: 1962 / Série cadernos brasileiros, 2)

 

 

CARTA A MARIA CLEA

 

Embora faça sol, a dor oprime a altura.

Converso com você, mas sei que é conjetura.

 

E sendo aqui montanha, verdade aprofundo:

Por quê? Por que nos nutrirmos deste mundo?

 

Deste mundo, exilio, — porta de nossas perdas

onde o tempo nos soma pelas horas esquerdas.

 

Não sabemos talvez, ou em saber não bastamos

que o mundo é sedento e nós o desalteramos.

 

Secam rios de pranto onde a sede se apura

e desagua o labirinto de uma carne obscura.

 

É preciso nos nutrirmos deste mundo, — quantos

somos, sirvamos à sua fome, — fome de tantos.

 

******

 

Só, — enquanto a vida

mais distante esmaecia

e prosseguir — tão só — era oriente

(o caminho é sem retorno, se não existe

nenhum instinto além que o reconheça,

e o passo gratuito pronto ignora

o outro passo)

só, eu prosseguia.

 

Num fim remoto, silêncio ensurdecera

— quem sabe a paz, memória resignada

que tantos sentidos deslembraram?

Quem sabe o adeus de um deus que se prepara?

 

E, sem saber,

num espaço meu

ou de loucura,

— só, estranha em mim,

eu regressava.

 

 

ESTOU E NÃO ME RESPONDO

 

Estou e não me respondo.

Assisto. Em mim se decide

um inútil afã e se some

a vida que me preside.

 

E passo, ainda... Meu nome

há muito não coincide

comigo se estar se consome

e tantas vezes me elide.

 

Me move o tempo mais frio

de tanto pranto afogado

num quase mito de mim.

 

Vou morando em desvario

quase em sonho inaugurado

para um começo, meu fim.

 

 

         (De Superfície; Toda Poesia, 2002)

 

 

A VOLTA

 

Tão só em prosseguir busquei sentido

e o caminho é sem regresso a quem caminha

por nenhum instinto além reconhecido.

Espaço meu ou de loucura, era sozinha.

 

Vinha de não sei onde, lar perdido

de mim mesma, ou infância. Vinha

quando apenas vi que recobrara o ido

antigo estar em tal estância, minha.

 

E tudo que abandonei, o a que deu termo

muda solidão pairando em grito ermo,

largo deserto visto em falso medo,

 

tudo que abandonei, faz companhia.

Enquanto, indo, um ocaso brando me assistia

eis que amanheço em mim, volto a ser cedo!

 

 

         (De Superfície; Toda Poesia, 2002)

 

 

 

ALVIM, Maria Ângela Poemas seguidos de Carata a um Cortador de Linho.   Apêndices: Notícias literárias – Carlos Drummond de Andrade: Um estudo – Alexandre Eulalio.  3ª ed.  Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1993.  152 p.  (Coleção Matéria de Poesia).  20x21 cm.   ISBN  85- 268-0283-6    Col. A.M. (EA)

 

Soneto ao amigo

 

Procure ao largo de alma o lenitivo

para este mal da vida, sem promessa.

O corpo vive alheio a se ter vivo

quando fome maior nos arremessa.

 

Temos todos, enfim, um amor cativo

que tudo pode e inflama e tudo cessa

quando liberto em si vê seu motivo

a este amor dê tudo e nada peça.

 

Cante em sua voz o rito e os dissabores

do tempo e acontecer mas abstraindo

aspecto transitório e fáceis cores.

 

Só amor, enquanto é, nos anistia:

sem ele, seres, coisas, verso vindo;

são refúgios do medo sem poesia.

 

 

Mar e Maria Lúcia

 

Um sonho fugaz

entre verde e absinto

outro sonho perfaz.

 

Num tempo — mas este

mais longo e sucinto

o instante prendeste.

 

Ah! sempre acordar

na face a neblina

de ver sobre o olhar

que em nós se obstina.

 

E o verso declina

das coisas do mar:

 

— apenas retina

de ser e pensar.

 

 

ALVIM, Maria ÂngelaSuperfície  Toda Poesia.  Apresentação de Max de Carvalho.   Lisboa: Assírio & Alvim, 2002.  159 p.  14,5x20,5 cm.   ISBN 972-37-0747-0  Col. A.M.

 

Inútil, inútil, inútil,

quem lê no ar brusco?

Capricho, a flor é fútil

num vaso etrusco.

 

Inútil, inútil, inútil

voltejo no asco.

Argila, és inconsútil

 

pouso de um frasco!

 

Nesse bojo profundo

há noites germinadas,

rosas do mundo.

 

Sorvo em treva o remédio

e cavo as esplanadas

do raso tédio.

 

 

 

 

ALVIM, Maria LúciaXX Sonetos de Maria Lúcia Alvim.  Capa de Jean Guillaume. Gravura de Mário Carneiro. Desenho de Enrico Bianco.  Sâo Paulo: Seção de Obras da Fundação Cásper Libero, 1959.  s.p.  16x22,5 cm. Impressa sob a direção de Wison Boccato.Gravura colada em folha do miolo.  Col. A.M.   (LA)

 

 

NARCISO

I

EM SENDO MAIS DO QUE SOU

JÁ NÃO ALCANÇO MOMENTO

QUE SOBRELEVE PAIROU

SÓ NO QUE SOU-PENSAMENTO;

BUSCARA EM MIM PADECENDO

TUDO QUE NÃO ME CONSINTO

COISAS QUE NUNCA SABENDO

SOUBERAS! EM TUDO QUE SINTO;

ESBARRO TÃO TRANSPARENTE

NESTE FUNDO QUE FICOU

ONDE TUDO PASSA RENTE

QUANDO TÃO ALHEIA ESTOU

QUE PERCEBI DE REPENTE

VIDA POR M1M QUE PASSOU.


 

 

 

 

 

 

Página publicada em fevereiro de 2009; ampliada em março 2012.

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