Fonte: www.ufmg.br/boletim
MÁRCIO SAMPAIO
Nasceu em Santa Maria de Itabira, Minas Gerais, em 1941. Artista plástico, crítico de arte, poeta, curador, professor e escritor. Criou o Grupo Ptyx, de literatura e arte, publicando dois cadernos que marcaram presença no movimento literário de Minas Gerais. Participou da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, na Reitoria da UFMG (1963), e da criação do Suplemento Literário do Minas Gerais (1966).
"Se duas palavras podem definir a obra de Márcio Sampaio, estas são surpresa e originalidade. Ao longo de toda a sua trajetória de artista plástico, multimídia e multímodo, Márcio construiu ambigüidades, incertezas, desambientes, desestruturas e castelos no ar, que se transformavam em altas peças de elaborada edificação estética", testemunha seu contemporâneo de lutas vanguardistas, o poeta-escritor-editor Sebastião Nunes.
Ver também: POESIA VISUAL DE MÁRCIO SAMPAIO
PALAVRA
todo o mundo fala as mesmas palavras
eu não sei falar todas as palavras
nem sequer sei falar algumas palavras
mas elas estão dentro de mim como água
prestes a se despejar sobre o encanto de um sofrimento.
eu não sei se as minhas palavras voarão
nem sequer sei se elas são pássaros
ou triste granada no campo inimigo
mas elas estarão um dia junto ao mundo
e transformarão alguma coisa em nada.
é por isso que o meu poema vem num corcel vermelho
entregando espadas de fogo aos tristes dias
É POR ISSO QUE A DOR DESTA ENTREGA É SANGUE.
com que se escreve a palavra: MORTE.
Extraído de Novíssima Poesia Brasileira, org. de Walmir Ayala. Rio de Janeiro, 1965. Cadernos Brasileiros.
SAMPAIO, Márcio. O Tempo em Minas (1963-1974). Belo Horizonte, MG: Coedição Prefeitura Municipal – Imprensa Nacional, 1975. 88 p. 15,5x20 cm. “Prêmio de Literatura “Cidade de Belo Horizonte 1974” “ Márcio Sampaio “ Ex. bibl. Antonio Miranda
O TEMPO EM MINAS (II)
(apropriação dos termos da tabela
de exposições à luz para filmes
plus-x pan da Kodac)
Pleno sol
ou sol ve-
lado em
areia branca.
Pleno sol
ou sol ve-
lado (som
Brás defin-
idas) sobre
montanhas.
Débil sol
velado (som-
bras suaves).
Nublado claro
(sem sombras)
Sombra no
descampado
(denso nu-
blado) onde
se escondem
morte e espanto
MORTOS DE MINAS
Já difuso,
o som desta harpa
em desuso
me escapa.
Me escapa
o sentido
desta espada
sem fio.
Jaz no frio
da noite
o gesto vazio:
o gasto açoite.
NOTURNO DE ITABIRA
Teus heróis já estão mortos:
nada te resta senão a traça
roendo a memória:
Nesta hora tardia, o príncipe
com o fio da espada acorda o relógio.
Mas o tempo não marca as estações,
nem pára o trem na curva
onde há pouco esperavas
chegar o amor.
Não te consolam carros velozes,
a fórmula-um do pirlimpimpim,
o zepelim (corrida sem prêmios
nas pista esfalfada).
Nem te consola a doce carícia
de tua íssima amante.
Os heróis mortos: cisnes, fadas,
lobos. Famintas galinhas
barganham o ouro do ventre
por um prato de feijão-tropeiro.
A noite é profunda; mole e lenta
move-se a lesma
sobre a resma de papel
em que recolhes
teu último poema.
Dois poemas textuais de Márcio Sampaio do livro
SAMPAIO, Márcio. Declaração de bens. Belo Horizonte, MG: Edição do Autor, 2008. 268 p. ilus. col. 16x23 cm. Projeto gráfico de Marconi Drummond. Edição especial, capa dura revestida de tecido. ISBN 978-85—909357-0-4 Ex, bibl. Antonio Miranda
Obs. Os poemas visuais deste livro podem ser vistos em>>>>
Página publicada em dezembro de 2008; página ampliada em outubro de 2017.
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