MARCELO COSTA BAIOTTO
Nasceu em Belo Horizontem Minas Gerais, em 1971. Formado em Artes plásticas, pós-graduado em ensino e pesquisa em arte e cultura, trabalha com literatura, vídeo e fotografia. É de sua autoria Movimentos rápidos de retina (2009).
Extraído de
POESIA SEMPRE. Número 35 – Ano 17 – 2010. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, 2010. Editor Marco Lucchesi. Ex. bibl. Antonio Miranda
há um colar de escamas perdidas na
transparência do nado nossos contatos
transplantes nosso sono colapso eu devia
reclamar não aceitar até que me atendam
protestar nas portas cerradas quebrar umas
propriedades privadas fazer merda devia
partir a leveza do ar em tantas plumas
quantas fossem necessárias para matar o
canto que eu não quero calma deita em mim
um visgo fosco um amor pelo ódio quase primordial
*
para que cada gesto rumine o
frio não sei mais acreditar nos
planos nas placas nas palavras na
paisagem quanto mais abro os
braços menos me sobra espaço
um sólido bloco de gelo cerca a
minha fornalha por isso não lhe
seguro mais o rosto não sinto
sequer uma calma por isso não
lhe ouço em vão os temperos os
passeios as cachoeiras as
madrugadas não sinto sequer o
gole d'água
*
assim que a música dos eletrodos
invadiu os meus ouvidos o curto-circuito das
falas o gosto de pólvora na língua uma península
de ar em cada palavra que sustenta o muro
é para o meu sémen cada verso de amor ferido
e seu sangue é tinta fresca no portão do meu
abrigo minha casa herege minhas terras de sal
com tantas janelas sem vidro por onde entra
o vento que embala o trigo do meu quintal
Página publicada em setembro de 2018
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