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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA MINEIRA
Corrdenação de WILMAR SILVA


LUIZ RUFFATO

LUIZ RUFFATO


Nasci em Cataguases (MG), em fevereiro de 1961, filho de um pipoqueiro e de uma lavadeira. Sou formado em Comunicação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). Já fui, nesta ordem, pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro-mecânico, jornalista, sócio de assessoria de imprensa, gerente de lanchonete, vendedor de livros autônomo e novamente jornalista, profissão que exerço atualmente em São Paulo, onde moro há dez anos. Publiquei dois livros de contos, "Histórias de Remorsos e Rancores" (1998) e "(os sobreviventes)" (2000), ambos pela Boitempo Editorial, de São Paulo. Tenho um livro de poemas inédito, "As Máscaras Singulares".

 

IN ITALIANO

 

MAIO

o despertador marca
o minuto perdido
por entre os dedos
na mão fechada.
o despertador marca
o movimento contínuo
da passagem das nuvens
da morte inadmissível
das rosas e do sol
que se multiplica
geometricamente entre as
folhas dos pinheiros
o despertador marca
principalmente o caminho
da solidão percorrida
nas conversas modorrentas
após o almoço em família
frente à televisão
o caminho da solidão
percorrido pela fumaça
do cigarro que se
evola incondicionalmente
em direção às nuvens
o despertador marca
o minuto contido
e o peito opresso
na varanda
no quarto no quintal
o despertador marca
os limites da solidão
atravessada na garganta
doída na raiz do dente
enfiada — dedo —no ânus
a solidão implacável
que desce como um guerreiro
medieval em minha direção
neste domingo de maio
em minha casa


O RIO APASCENTA A NOITE
(segunda versão)

à noite o rio
se torna de vidro.
como uma serpente
digere a escuridão
e não mais se move
e o barulho que se ouve
é apenas o eco do bater
de suas águas
nas pedras
o dia inteiro
e o som não consegue se desvencilhar
da barreira formada pelas árvores e touceiras de capim
de suas margens
mas mesmo tendo certeza de sua paralisia vitral
ouvimos o som monótono
e ao mesmo tempo fluídico
que se labirinta pelos nossos ouvidos
e nos faz parte dele.
a noite torna-se morta
passo
a
passo
a cidade se esvai pelos poros
das janelas e portas das casas ribeirinhas
a noite agoniza
perde sangue
assassinada pelo punhal da lua amarelo-
laranja que se descortina por detrás das
nuvens
deixando-nos apenas antevê-las
                                                               adivinhá-la
encapuçada.
neste
rio lanço
a pedra fundamental
de minha sepultura.

Extraídos de POESIA EM MOVIMENTO – ANTOLOGIA, org. de JORGE SANGLARD. Juiz de Fora, MG: EDUFJF, 2002.  224p. 

Luiz Ruffato

De
Luiz Ruffato
AS MÁSCARAS SINGULARES
 São Paulo: Boitempo Editorial, 2002
ISBN  85-7559-016-2

 

II

Habitam as sombras a cidade que habita
um corpo que nela habita num momento, esse.
A cidade retornar é diverso de nela
permanecer, mesmo que em pensamento.
Volver: nas ruas subsumir a própria face
espelhada. Estar no porão da cidade todo
tempo: ela mesma reconhecer-se, objetos
olvidados na memória reordenar. Os olhos
de Medusa enfrentar e torná-la pétrea.

V

Onde quer que estejas, em teu país
ou em outro, és estrangeiro: ninguém
tua língua compreende. Só, o deserto
de estranhas veredas percorres.
Conservas, no entanto, dos primeiros anos
o albor, quando tua cidade, madrasta e mãe,
teus sonhos na noite fresca velava.
A grande mão que afagou-te esmaga o peito agora.
Ah! Somos apenas o que somos. Apenas.

 

IN ITALIANO

 

Luiz RUFFATO è autore di Eles eram muitos cavalos (2001 ), Prèmio APCA e Prèmio Machado de Assis [Come tanti cavalli, 2003], De mim já nem se Umbra (2006) [Di me ormai neanche ti ricordi, 2014], Estive em Lisboa e lembrei de voce (2009) [Sono stato a Lisbona e ho pensato a te, 2011], Flo¬res artificiais (2014) [Fiori artificiali, 2015] e del progetto Inferno Provi-sório, composto da cinque volumi: Mamma, son tantofelice (2005, Prèmio APCA), 0 mundo inimigo (2005, Prèmio APCA), Vistaparcial da noite (2006, Prèmio Jabuti), Olivro das impossibilidades (2008) e Domingossem Deus (2011, Prèmio Casa de las Américas), tutti romanzi. Oltre a questi, ha pubblicato: As mdscaras singulares (poemas, 2002), Minha primeira vez (crónicas, 2014) e A história verdadeira do Sapo Luiz (infantil, 2014, Prèmio Jabuti). E pubblicato in Germania, Francia, Italia, Portogallo, Fin¬landia, Macedonia, Stati Uniti, Argentina, Colombia, Messico e Cuba. E stato scrittore residente dell'Università di Berkeley (USA), è consulente dell'Instituto Itaù Cultural e scrive una rubrica settimanale nell'edizione brasiliana di «El Pais».

Le poesie di Luiz Ruffato sono state tradotte in italiano

da Emma De Luca

 

 

INCONTRI CON LA POESIA DEL MONDO. ENCONTROS COM A POESIA DO MUNDO. Antologia poética bilíngue. Italiano – Português.  Antologia poética bilíngue. A cura di Vera Lúcia de Oliveira; Paula de Paiva Limão.  Perugia, Italia: Edizioni dell´Urogallo / CILBRA – Centro di Studi Comparati Italo-Luso-Brasiliani, 2016.  242 p. Em colaboração com o Programa de Pós-Graduação em Literatura, Universidade de Brasília.   ISBN 978-88-97365-41-9  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Os mortos vivos

 

1. A mãe

 

Minha mãe sepultou as parcas alegrias
em uma lata colorida de biscoitos,
que diziam de origem dinamarquesa:
três filhos que vingaram, um que não,
sombria matemática de outros tempos;
a água fresca da mina em seu rosto;
uma viagem de carro à praia longínqua,
quando enfim estabeleceu dessemelhanças
entre areia e ondas, entre ruínas e posse;
o mugido de vacas tangendo a alvorada;
um cachorro de nome Peri, outro, Veludo;
vizinhas engraçadas, vizinhas sisudas;
a comadre que se foi para São Paulo.

 

Suas mãos queimadas de água-sanitária
jamais colecionaram retratos ou sorrisos.
Guardavam imagens, que se extraviaram
incendiando as nuvens desta tarde clara,
que a tudo ignora, eterna em seu mutismo.

 

 

I morti viventi

 

1. La madre

 

 

Mia madre seppellì le parche allegrie

in una scatola colorata di biscotti,

che ritenevano di origine danese:

tre figli che misero radici, uno no,

oscura matematica di altri tempi;

l'acqua fresca della sorgente sul suo volto;

un viaggio in macchina verso la spiaggia remota,

          quando finalmente stabilì dissomiglianze
tra sabbia e onde, tra rovine e sostanze;

il muggito delle giovenche che annunciava l'alba;

un cane di nome Perì, un altro, Velluto;

vicine spiritose, vicine austere;

la comare che se ne andò a San Paolo.

 

Le sue mani ustionate dalla candeggina
non collezionarono mai ritratti o sorrisi.
Custodivano immagini, che si smarrirono
incendiando le nuvole di questo pomeriggio limpido,
che tutto ignora, eterno nel suo mutismo.

 

 

1. O pai

 

Nasceu meu pai do ar e com os ventos se criou.
Foi tempestade, aragem, borrasca, placidez, estio.
Ninguém o ouvia, sua voz rouca pregava o livro santo
para insetos e pássaros que inundavam as matas
calcinadas da minha infância mais que obscura.

 

Seus passos miúdos vasculhavam a cidade
e, às horas mortas, exausto, compreendia
a invisibilidade de seu corpo inútil e vazio.

 

 

2. Il Padre


Nacque mio padre dall'aria e con il vento crebbe.
Fu tempesta, brezza, burrasca, bonaccia, estate.

Nessuno lo sentiva, la sua voce rauca recitava il libro santo
agli insetti e agli augelli che invadevano i boschi
calcificati della mia infanzia più che oscura.


I suoi passi minuti perlustravano la città e,
nelle ore morte, esausto, comprendeva l'invisibilità
del suo corpo inutile e vuoto.

 

 

3. O irmão

O rádio chovia a noite toda ondas curtas
que meu irmão insone sintonizava.
As estrelas chuleadas no azul escuro
fascinavam bocas cobiçosas de idades. Ronronavam as horas quietas em seu colo
e formigas escalavam a parede pacientes carreando fragmentos de conversas do quintal.
 

Meu irmão acreditava em galinhas e alfaces,
e mantinha, sob a cama, agrilhoado,
um deus feroz, vingativo e rancoroso.
Ignorava relógios e ampulhetas, imerso
o corpo nas águas límpidas do presente.
 

Por inveja, ciúme ou ingratidão, explodiu
numa cinzelada manhã de gatos baldios,
cicatrizes a envenenar estes dias vulgares
que se abatem como látegos em meu dorso.

 

Il fratello

 

La radio pioveva tutta la notte onde corte

che mio fratello insonne sintonizzava.

Le stelle sopraffilate sull'azzurro scuro

incantavano labbra bramose di età.

Ronfavano le ore quiete al suo petto

e formiche scalavano la parete pazienti

trasportando frammenti di conversazioni del giardino.

 

plio fratello credeva in galline e lattughe,
e manteneva, sotto il letto, soggiogato,
un dio feroce, vendicativo e rancoroso.
Ignorava orologi e clessidre, immerso
il corpo nell'acque limpide del presente.

 

Per invidia, gelosia o ingratitudine, esplose
in una scolpita mattina di gatti abbandonati,
dcatrici che avvelenano questi giorni volgari
che si abbattono come flagelli sul mio dorso.

 

 

 

4. A avó

 

Amortalhada em seu quarto, minha avó enxaguava
os longos cabelos grisalhos em bacias de estanho,
aspirando com sofreguidão o fim inevitável.
Mirava-me perplexa, como se eu, e não ela, o fantasma,
murmurando sentenças a ninguém mais compreensíveis.
Seu corpo frágil desconhecia sombra e, secretamente,
cultivava antúrios, margaridas e rosas de plástico.
Nas madrugadas, excomungava os pesadelos,
agarrando-se a rosários, fiando promessas incumpridas.

 

Nunca conheceu a felicidade, minha avó, e a alegria, substantiva,
acariciou-a certa feita, quando, inerte,
na cama, primavera entrada, balbuciou o nome
daquele pássaro que, erradio, debatia-se com vigor
contra as paredes e as telhas que o asfixiavam.

 

 

 

4. La nonna

 

Ritirata nella sua stanza, mia nonna sciacquava
i lunghi capelli brizzolati in catini di stagno,
aspirando con affanno il fine inevitabile.
Mi osservava perplessa, come se io, e non lei, il fantasma,
stessi mormorando sentenze a nessuno più comprensibili.
Il suo corpo fragile ignorava l'ombra e, segretamente, coltivava anturi,
margherite e rose di plastica.
Alle albe scomunicava gli incubi,

aggrappandosi ai rosari, confidando in promesse inadempiute.

 

Mai conobbe la felicità, mia nonna, e l'allegria,
sostanziale, l'accarezzò una volta, quando, inerte,
nel letto, primavera inoltrata, balbettò il nome
di quel passero che, smarrito, si dibatteva con vigore
contro le pareti e le tegole che lo asfissiavano.

  

 

 

 

 

 

Página ampliada em setembro de 2019

 


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