LUCIA FREIRE
Nome literário da Sra. Lúcia Maria Guedes Freire. Nasceu em Belo Horizonte, MG, residindo desde a adolescência em Juiz de Fora, onde fez seus estudos. É professora-normalista, já tendo exercido o magistério. Atualmente é funcionária da UFJF. É casada com o cirurgião-dentista, Dr. Gustavo José Passarella Freire.
Começou a escrever em 1969, estimulada pelo artista plástico João Guimarães Vieira, Guima, e, a seguir, pelos companheiros da Associação de Cultura Luso-Bra-sileira. É colaboradora da imprensa juiz-forana e da de outros municípios. Seus trabalhos compreendem crónicas, ensaios, contos e poesia. Também já fez experiências apreciáveis no romance e em literatura infantil.
Declamadora, tem participado, com êxito, de Festivais de Poesia Falada. Em 1978, foi distinguida com Menção Honrosa no Concurso de Contos promovido pela Caixa Económica Federal e Academia Mineira de Letras. Em 79, conquistou outra Menção Honrosa no certame de literatura infanto-juvenil, realizado pela União Brasileira dos Escritores — UBE, Rio.
Tem inéditos : "Almas Nuas" e "Os Cães Gemem à Noite", romances; "Sinfonia às Hortênsias", contos; "O Potro do Meu Coração", narrativa infantil, e "As Mil Faces da Humilhação", Estudos de Poesia.
ENCONTRO 55 (Coletânea de Poetas da Associação de Cultura Luso-Brasileira). Seleção e introdução de MÁRCIO ALMEIDA. Capa e ilustrações de CEZAR GUEDES. Juiz de Fora, MG: Associação de Cultura Luso-Brasileira, 1980. 204 p. 14 x 21 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda.
Reúne 25 anos de atividade da ACLB e ressalta a renovação que estava acontecendo com a poesia de Minas Gerais em particular e do Brasil em geral.
Aqui vamos divulgar alguns poetas que ainda não figuram no nosso Portal de Poesia — no momento já incluímos mais de 7.000, mais da metade de brasileiros. E edição reitera a questão dos “Direitos autorais reservados”, mas esperamos contar com a aprovação de nossa iniciativa de divulgar alguns poetas da coletânea, 40 anos depois da edição (de 1980).
Como o livro “Encontro 5” inclui vários poemas de cada poeta, aqui apresentamos apenas 3 ou 4 de cada um, dependendo da extensão dos textos. Os interessados poderão continuar a leitura no volume original, certamente disponível em algumas bibliotecas e livrarias, inclusive sebos, se estiver interessado (e com sorte!)
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E S T U D O S
I
quando florir a imaginária curva
do meu caminho
em cujas bordas replantei antúrios
lembrar-me-ei
do passo vacilante do destino.
quando frutificarem as romãs
do meu caminho
cujas bordas pincelei cal viva
lembrar-me-ei do tempo novo, despreparado.
quando vier o ocaso perfumado,
meu caminho
cheiro de lã e chá e creme craquer
recolherei a rama verdolenga do cipreste
será então que o futuro
se compreenderá
com mais justiça e menos pressa
que sou agora.
VI
minha amiga
fui de carne
no ventre de minha mãe.
fui de ossos
na saudade
minha amiga,
que doía
que doía.
fui de dedos
que sangravam
no piano de meu irmão.
minha amiga
fui só lágrima
nos braços que me embalaram
minha amiga
fui sereno
na noite do amor vadio
cerveja, amendoim,
sanduiche de galinha
fui essência de maçã
com perfume nas mãos.
fui cantata/assim bondosa
cavo os olhos da areia
e o passado lambe
a pedra sabão
desta escultura
que sou.
VII
move-se o fastio que me cerca
tudo é novo
e velho como o ouro dos trigais
tudo e nada
massa de angústia
risos de animais dormidos
ventura de arestas polindo
ruídos nos temporais
tudo e nada nunca mais
cores sempre acalmando
as orlas serenas do rio
no entanto há tanta calma
na voz de alguém que passa
que a brisa insolente traça
ainda esperança na alma
nada e tudo
se tudo é nada
anula-se o verso contido
apenas o pranto ferido
na face da paliçada
ouve...
é a voz de alguém que passa
é a brisa insolente que traça
tudo o que tira do nada.
Página publicada em janeiro de 2020
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