LUCAS GUIMARAENS
Belo Horizonte, MG, consultor jurídico especializado em direito internacional e direitos humanos; especialista em filosofia pela Universidade de Paris VIII, mestrado em direitos humanos Universidade de Paris X; conferencista sobre a obra do filósofo Michel Foucault e sobre Dignidade da Pessoa Humana. Autor de vários artigos e editor da revista Faculdade Milton Campos em BH-MG, "O Aberto do Círculo". Jovem bisneto do conhecidíssimo poeta mineiro de Mariana, Alphonsus de Guimaraens. Alguns livros ainda inéditos na gaveta.
TEXTO EN ESPAÑOL
GUIMARÃES, Lucas. Exílio: o lago das incertezas. Apresentação de Edmilson de Almeida Pereira. Belo Horizonte, MG: Relicário Edições, 2018. 68 p. 11 x 18 cm. ISBN 978-85-66786-64-4
Ex. bibl. Antonio Miranda
Nudez
vivo com pouca roupa
o peso que carrego
é do tamanho de
pés descalços.
negríndio na bateia das pepitas
de Portugal: as palavras.
não há força ou motivo ou asas
para mais paramentos paramédicos
- qual o dia do fim ou da nova flor? –
ou assim: um parapeito para ultrapassar,
pular.
a xícara de café mata solidão com seu sabor
[de adrenalina,
ato palavras para distanciar-me dela.
em casa estou nu.
a cidade é nua
- ainda que a maquiem -
ninguém acredita na nudez do asfalto.
dois homens mortos
somos dois homens mortos
costurando a noite
em caminhos retalhados
de navalha e contas a pagar
somos dois homens mortos
pulando pixels
em telas de computador
de construir navios & fantasmas
somos dois homens mortos
e não sabemos da vida mais
do que tragédias póstumas
(manuel, os filhos que nunca tive
inalam o cheiro de chernobyl em
máscaras de oxigênio
debaixo de escombros?)
somos dois homens mortos
ou duas mulheres mortas
ou duas crianças mortas
e nossos olhos brilham
poeiras de esperança
ANTOLOGIA MENINOS ME Mulheres Emergentes. Organização: Tânia Diniz. Belo Horizonte: Anome Livros, 2009. 63 p. ISBN 978-85-98378-44-2 Ex. bibl. Antonio Miranda
Foucaultidianamente
Foucaultidianamente
gritemos não. Contra a fraca filosofia burguesa
dos poderosos ternos do panteão.
Foucaultidianamente
nem esquerda nem direita:
dar voz às vozes.
Canto era perfeito e luzes ondulavam no carro estacionado
refletindo néon do bar
músico não tocava respirava e seu sopro
seu fato ser melodia criava expectativa no mundo
desencantado.
Barco que nunca vi
no entanto substrato de metáforas
havia naufragado ao constatar silêncio da amada.
que nunca existiu.
Nem palavras.
apenas sentimentos de palavras
alheias : troco dos avessos
dos vazios homens que angustiam
no ar impossibilidade factual de ser o outro.
Coroa de ouro. O piano soa como ela.
Força bruta forjada por ratos em trapos
repousando oniricamente sobre cãs de dama intocável.
Saio do sonho e no momento de minha versão da vida
ranjo dentes, abro janelas a vela não é fogo em potência?
vento consome a luz de um pavio inexistente.
Ralo e leve:
vôo.
Encontro-me esvoaçante contra ornamento dourado que se esvai não somente cai despetala o lírio poderoso dos templários que há muito esqueceram que o chão é feito de sangue
e mancha o caminho onde passa com gritos ocos de não.
ESPEJOS DE LA PALABRA / ESPELHOS DA PALAVRA 3 (POEMAS EN DOS IDIOMAS– POEMAS EM DOIS IDIOMAS) Org. Roberto Bianchi. Montevideo: aBrace editora, 2013. 120 p. Inclui os poetas brasileiros: Angela Togeiro, Brenda Mar(qu)es, Christina Hernandes, Claudio Márcio Barbosa, Clevane Pessoa, Dymythryus Padilha, Fátima Sampaio, Fernando Braga, Gacy Simas, Giselle Serejo, Kydia Mateos, Lucas Guimaraens, Marcelo de Oliveira Souza, Marco Llobus, Marcos Freitas, Maria Angélica Bilá Bernardes, Mariney Klecz, Neuza Ladeira,Nida Chalegre, Nilza Amaral, Nina Reis, Noralia de Melo Castro, Novais Neto, Oleg Almeida, Pedro Franco, Roberto Ferrari, Rodrigo Marinho Starling, Rozelene Furtado de Lima, Tânia Diniz e Tarcísio Pádua. Col. Bibl. Antonio Miranda
O MUNDO NÃO BASTA
pássaros parecem acompanhar ossos do futuro
carcaças espinhosas de dinossauros eletrônicos.
querosenes rouquejam liberdades
a carne queimada é diamante de olhos secos,
homens submersos flutuam asas pesadas em uma cidade
de avalanches e guaranis perdidos em labirintos de cegas pragas
feirantes prometem plenitude de produtos chineses
e imagens piratas distorcidas replicam sonhos embuçados.
carros velozes cerceiam campos
sobre escombros moscas de olhos humanos ainda enxergam:
um amor sem estilhaços
uma manhã de sol
um abraço sem pretensão de falsa paz
um assovio de multidão em jogos sem rivais
e o sangue estancado dos anjos,
o mundo é o bastante para sonhar.
EL MUNDO NO BASTA
pájaros parecen acompañar huesos del futuro
carcasas espinosas de dinosaurios electrónicos.
querosenes ronquean libertades
la carne quemada es diamante de ojos secos.
hombres sumergidos fluctúan alas pesadas en una ciudad
de avalanchas y guaraníes perdidos en laberintos de ciegas plagas.
feriantes prometen plenitud de productos chinos
e imágenes piratas distorsivas replican sueños empanados.
carros veloces cercenan campos.
sobre escombros moscas de ojos humanos todavia ven:
un amor sin astillas
una mañana de sol
un abrazo sin pretensión de falsa paz
un silbido de multitud en juegos sin rivales
y la sangre estancada de los ángeles.
el mundo es lo bastante para soñar.
Extraído da revista POESIA SEMPRE, Número 36, Ano 18, 2012. (Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro).
DULCINEIA
espero suas fotos na gaveta do escritório
seu perfume ou densa nuvem de cóleras e bravas chuvas
seus pingados pingentes rubros deixados entre a cama e o criado mudo.
aguardo histórias para contar e porres de decepção.
aguardo ingressos amassados no bolso da luz do filme
do fio telefone e promessa de ausência de solidão atrás da linha.
espero o frio da escandinávia nos travesseiros
e a luz do laptop aceso ao meu lado às cinco da manhã.
espero a falta de grana e whitman na sua grama
de arestas hipnóticas e olhos futuros de reprovação.
levanto-me e despeço-me de você com sua pele embaixo das unhas
e o batom que não mais deixará traços de anos de arqueologia a dois.
arranco do sofá maduro a estopa de assentos vários
e aguardo sua existência nos meus sonhos.
aqueço-me com faca, esperança e olhos atrás da tela do computador.
espero insaciadamente dulcineia e horas de terapias em megabytes.
TEXTO EN ESPAÑOL
Poema extraído de
http://www.vallejoandcompany.com/soledad-tras-la-linea-13-poemas-de-lucas-guimaraens/
Que?
que tocha de aldebarã brilha sobre dias cinzas?
que proa de barco afogado repensa trilhos das águas?
que estrelas de cais entornam mistérios na tela
do computador ou na tatuagem alada do homem caído?
que liberdade que cidade pensada que poema que cinema que pintura?
que pele que escama que couro que casco?
pássaros sibilam notas de desarvorado
poeiras choram nas cerdas da vassoura
nascentes retomam correntezas de escuros caminhos de pedra e barro
manhãs têm olhos vidrados de pérola pixel e espasmo
crianças nomeiam nuvens
palavras aparam a grama do jardim da casa
livros incendeiam lareiras de inverno
cosmopolitas leem à luz de bytes.
serpente de mil dentes ancora presas na nuca do não.
que castelos erguemos na palma da paz?
¿Qué?
¿qué antorcha de aldebarán brilla sobre días grises?
¿qué proa de barco ahogado repasa estelas?
¿qué estrellas de muelle vierten misterios en la pantalla
de la computadora o en el tatuaje alado del hombre caído?
¿qué libertad de ciudad pensada qué poema qué cine qué pintura?
¿qué piel qué escama qué cuero qué coraza?
pájaros silban notas de desolado
polvos lloran en las cerdas de la escoba
manantiales retoman corrientes de oscuros caminos de piedra y barro
mañanas tienen ojos vidriosos de perla pixel y espasmo
niños nombran nubes
palabras cortan el césped del jardín de la casa
libros incendian hogares de invierno
cosmopolitas leen a la luz de bytes
serpiente de mil dientes ancla colmillos en la nuca del no
¿qué castillos erguimos en la palma de la paz?
Página publicada em fevereiro de 2014; ampliada e republicada em agosto de 2015. Ampliada em novembro de 2017
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