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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA ERÓTICA  

LÍVIA TUCCI

LÍVIA TUCCI

Poeta e cantora mineira. Bela mulher, bela poesia. Felina. "Desdobra o sangue e orgasmo" como escreveu Claudio Brahdão, e arremata:" Erótica, doce, cruel,"

"O Avesso do Cristal é uma leitura criativa, sensual, sob intensa emoção das metáforas do corpo a conspirar as tramas da sedução da palavra. Nele, como vetores do êxtase, as epígrafes funcionam como condicionantes temáticos, sobre os quais Lívia Tucci imprime seu ritmo próprio, marcante como a sístole - diástole do amor se fazendo na física das palavras."  MÁRCIO ALMEIDA 

De
Lívia Tucci
O AVESSO DO CRISTAL
Belo Horizonte: 1999.

Streptease

Anoiteço árida,

adormeço úmida,

no emergir dos pêlos,

no arrepio dos passos,

quando a noite tece em nós

a opala túrgida.

 

E no dia seguinte,

sanguínea e dilatada,

outra vez, anoiteço.

E atenta a essa festa, recomeço.

Mostro, cubro,

desnudo a curva casta,

minhas partes mais pudendas,

as mais brancas,

ao som de um blue.

E entre véus

e a fina blusa, entreaberta,

o lado claro do cenário

é a luz de um abajur.

 

Enquanto tento despir estrelas,

te dar um amor imenso,

dentro de minha blusa, entreaberta,

constróis a Via Láctea em silêncio.

 

 

Hermafrodita

 

Que eu me envolva,
que eu me em vulva,

que eu me em verve.

Do corpo adormecido,
a saliva acorda-nos em tempestades,
lava-nos, em cântaros, a cidade.


Do animal desordeiro,
as ancas trêmulas e góticas,
cavalga-nos, o potro em soluços, os cheiros.

 


Que eu me envolva
na verve de tua vulva,
que eu me inflame
no fluído de teu falo,
que silente calo, calo, calo.

Da boca,
que a reparto em duas,
em desmedida e assexuada gula,
sugo, de uma só vez, ambíguos lagos.


 

Marí(n)tima

 

Teu corpo alagado

é um porto selvagem e inconstante,

quando tudo fora é sequidão e estio.

Eu, enchente de rios, matas, peixes,

que teimas represar em mim.

 

Na incessante busca e entrega,

por sobre a pele alva e salina,

voa-me, albatroz, em doce agonia,

flecha-me o alvo, o túnel, o arco.

 

Inunda, finalmente, em espumas gotejantes,

a branca praia, deserta e encantada,

e ávidos ao mastro, redescobrindo terras,

a posse será lenta, a invasão armada.

Serei em teu corpo a mulher que insisto,

serás em minha mão

meu pássaro em extinção.

 

 

Posfácio

De todas as formas,

a que mais emana,
a que mais lateja
é a brecha sumarenta,
a que impele
a secreção da trama,
nau de placenta.



Úmida urdidura,
ninho de lagos,
em vão,
a esperar no porto

mil caravelas de náufragos.

Ávida tessitura,
nauta sideral,
a implodir
estrelas,

pelo avesso do cristal.

 

 




MELLO, Regina.  Entre o Samba e o TangoOrganização: Regina Mello e Olga Valeska.     Belo Horizonte, MG: Munap e Arquimedes, 2018.   160 p.   15 x 21 cm.  Diagramação e arte final: Eugênio Daniel Venâncio. Fotos: Israrel Ferreira. Produção Museu Nacional de Poesia.    ISBN  978-85-89667-57-9  
Ex. bibl. Antonio Miranda, enviado por Regina Mello.

 

 

 

Verdes guiriris

O que guardo em minha voz,
Vou cantar-te em dias, em noites calmas.
Vou cantar-te agora, sempre, nestes versos,
Linhares tantas que acalentam almas.
Versos que acordam o corpo, a bailarina,
A gruta, a orquídea, a minha foz infinda.
O que guardo nesta voz,
Vou cantar-te, lírica e insana
Vou abrir-te a porta, outra vez,
Da minha casa, casta e profana.
Adentra esta alma, tão minha, tão nua,
Que muito visitastes, quando sol
E quando lua.
O que guardo em meu coração de gueixa, amor,
Vou soprar-te ao ouvido, no arrepio dos pelos,
Vou deixar-te cicatrizes por todos os sentidos.
Lamber, em fontes, o teu templo samurai.
Te ofertar um jarro de porcelana com haicais.
Vem, acolhe tua branca libélula que adeja,
Represa minhas águas em tua boca de cereja.
Que eu seja o rio que te busca, permanente...
Que sejas o mar que me recebe, afluente...
Rio doce, mar de sal em corpos-de-leite,
Poços de caldas, bambus e licores,
Ventos uivantes, serra de amores.

 

 

 

Simbioses

Beijo teu dedo anular
Teu anular da mão esquerda
Em íntima e cúmplice comunhão
Porque compartilho contigo as cicatrizes.
Beijo teus olhos
Pois que és minha íris
Meu cajado cristalino
Que me guias e me abres veredas
Onde ainda estou vendada.
Sorvo a singular metáfora
De tua boca amada
E devolvo-a, sôfrega,
Líquida, adrenalina
Em língua inquietante
Traduzida em falo úmido
No encontro de outras águas.
Sorvo teu cheiro de homem
Poros, peles, feromônios
Teu perfume de nômade
Pois que és meu cavalheiro andante,
Pois que sou tua dama infante,
Tu, meu quixote errante.
Sou a mulher, aquela que procuras?
Sou a platônica fêmea que atiça
Tua mente, teu espírito, teu corpo.
És o homem, aquele que garimpo?
És meu guerreiro complacente
O doce ouvidor dos meus cantares
Consumando a fusão ímpar
Dos nossos universos indecentes.

 

 

 

*

 

POESIA ERÓTICA

 

 

Página publicada em fevereiro de 2021

 

Página publicada em julho de 2010

 

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