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LEONARDO DAVINE DANTAS
LEONARDO DAVINE DANTAS é mineiro de Lavras, tem 39 anos, e vive em Campinas. Bacharel em Letras pela Unicamp, atua como servidor público do Estado de São Paulo.
VERSAL – Revista de Poesia. Ano 1, Número 2, Agosto 1997. Campinas, SP. Editor: Gabriel Antunes. 14,5 x 20,5 cm. Tiragem: 100 exemplares. Ex. bibl. Antonio Miranda
À musa morta
Não sei por que eu te matei assim.
Quis o meu barco buscar outros portos.
Terias tu saudades de mim?
Que, se não tens, meus versos são mortos.
De mais a mais, que é o marfim,
senão lembrança de elefantes mortos?
Assim teus ossos riem para mim,
chamando ao porto o que buscou os portos.
Que de novo restou para mim,
senão o rastro de teus dois pés mortos?
Por isso vago nas águas sem fim:
eu busco um vivo no porto dos mortos.
*
sempre-viva arrancada
do chão do meu pio jardim
morre morte-matada
algum moço a arrancou
para dá-la à namorada
não pôde leva-la e a deixou
no chão do meu pio jardim
sorte que ela morreu sem dor
mas ficou a pena em mim
para sempre a pena em mim
morta a minha sempre-viva
morto eu, triste meu bem, perto meu fim...
*
Quem não tem paz,
que tenha pá:
o tempo é propício a cavar.
Cava comigo hoje mesmo:
quiça tu aches paz.
Cava certeiro e também cava a esmo,
que pá não há de faltar
a quem foge de si mesmo
e paz não é capaz de achar
na alma que escapa em segredo.
Cava comigo hoje mesmo
com o peso dessa pá,
que a paz é pedra em pó negro,
e o tempo é propício a cavar.
Página publicada em setembro de 2019
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