JOSÉ VIRGÍLIO GONÇALVES
Um exemplar de “ Pedra Menina (intenções poéticas)”, de José Virgílio Gonçalves, foi-me oferecido e dedicada por Júlia Silveira, com a intenção de divulgar os textos do poeta, de onde extraímos os seguintes poemas:
MOCIDADE
Você, a gaiola.
Eu, passarinho.
Você, a fruta.
Eu, o desejo.
Você, a água.
Eu moço.
o que posso ser
além da ânsia
de sede
do poço?
BROA DE FUBÁ
Sou mineiro
há tanto tempo, ai, ai!
Broa minheiro,
caminheiro.
Minha idade,
mineiridade, uai.
Eu cá,
a mó
que mói
na pedra
o milho
pra mo´de
o fubá.
Ah! a mó
que amola
a faca,
o aço,
a vida,
a gente
assim...
MEA CULPA
Na missa das sete,
o padre prega
o Sermão dos Sete Pecados.
Sete ouvintes
sentados
se entreolham
sentenciados,
senticulpados.
MEDITAÇÃO
Quando já te for dito tudo,
sem te convencer o bastante,
nada melhor que ouvir, mudo,
o silêncio de agora em diante,
pois o que é mau para o bem
tampouco é bom para o mal.
PERDAS E GANHOS
Amiúde
me urde
o sentimento
das coisas que perdi.
Este é
o meu ganho.
O amanho
de tamanho
do que
não tive.
REFLEXÃO
Lá está um boi
a ruminar minha idéias.
Enquanto penso,
é ele que parece
estar pensando.
Caro poeta, Prof A. Miranda. Muito bem elaborado, elucidativo, provocante o seu" Faz Sentido?... "Sou muito grato ao bom amigo, sempre. Você me indexou neste nosso "santo ofício" através de seu dicionário singular.Tenho feito e refeito alguns rabiscos. Escrever é preciso. Mas depois dos 70, na verdade, mais faço traquinagens.Batizei de Aforemas ( poemetos, quadras aforísticos) coisas assim:
Para o poeta,
razão
é imaginação.
Pois o poeta
só tem razão
quando bem usa
a imaginação.
*
Enquanto vivo, versejo.
E neste modo de ser
o que mais desejo
é da vida entender
o mistério, o ensejo
da razão de viver.
*
No compasso da mágoa
o tempo do sentimento.
Assim como na gota dágua
o limite do cabimento.
*
Audicidade
Já viví a idade da fala:
a loquacidade.
Hoje, na idade da sala,
vivo de ouvir dizer.
*
Saudade. Esta palavra
só existe no português.
Como se fosse duma lavra
única gema que se fez.
*
Pelé
O moleque
dá um breque
e um salamaleque
de mestre-sala.
Mole, mole,
o moleque
desabala.
Ele é pé.
Ele é pele.
P.E.L.E. (soletrar)
O negro Pelé.
Um feliz 2011 , junto aos de sua estima.
Com admiração e amizade
do
José Virgílio Gonçalves
Ferros MG Jovirgon@hotmail.com
Página publicada em dezembro de 2008; ampliada e republicada em janeiro de 2011. |