JOSÉ RENATO DE PIMENTEL E MEDEIROS
poeta e artista plástico, prêmio cidade de belo horizonte 1961, exilado em Lagoa Santa, olhos verde/azul, é mais um caso de abandono na poesia brasileira, com uma poesia estranha, extemporânea até, o poeta de "Madrugada sem Lua" 1958, "Vitral de Fogo" 1959, "O Julgamento do Rio" 1961, "O Sangue e o Sal" 1965, "Pão Poema Gume" 1969 e "Parábola em Cinco Falas" 1985, hiberna longe da História do Brasil, trazendo a metáfora como língua poética e a palavra como a terra do sexo, para o primeiro convívio basta pensar a madrugada sem lua, o vitral de fogo, o julgamento do rio, o sangue e o sal, o pão poema gume e a parábola em cinco falas, o lenitivo de serpente no "meu grito de herói, meu sangue guerreiro, minha voz de poeta", eu convido você a prenunciar 5 poemas suspensos de "Parábola em Cinco Falas". WILMAR SILVA
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MEDEIROS, José Renato de Pimentel e. O sangue e o sal. Capa e ilustrações de Mércio de Paula. Belo Horizonte, MG: Edições Saci Ltda, 1961. “Prêmio Cidade de Belo Horizonte, 1960”. Livro inconsutil (folhas soltas) “ José Renato de Pimentel e Medeiros “. Ex. com a assinatura do autor, na bibl. Antonio Miranda.
POEMA N° I
Os açougueiros salgarão nossas carnes
pisadas pelos pés do mundo.
O sangue e o sal,
branca neve sobre o campo,
rosa, carmim ou manhã de outono?
— A cor e a luz triturando angústias.
Estaremos estendidos em varais de arame,
as mãos em garras sem firmarem nada,
a decomposição dos pés feitos penumbra,
o sangue e o sal manchando a noite.
Branca luz de noite calma
virá sorver os nossos olhos.
Olhos do mundo, pés do mundo,
muitas mãos em elegias.
Ninguém se esconderá nas trevas
que o dia já vai raiar.
Só nossos corpos estarão retidos
na cor do sangue, no sabor do sal.
POEMA N° XIX
Haverá urna solidão imensa
— quase penumbra.
Os sacristãos irão queimando incenso
nos enormes olhos das paredes.
Eles marcarão os compassos nos paralelepípedos das
[ruas.
Cada pedra terá sua marca muito rubra
— sinete da verdade —
e nada será esquecido.
Os sacristãos falarão através os compassos
quando a noite perguntar inagestosa:
— Quem foram que assim me chegam?
Página publicada em julho de 2014
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