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JORGE EMIL
Nasceu em Caratinga, Minas Gerais, em 1970. Ator e poeta, formado pelo Teatro Universitário da Universidade Federal de Minas Geris. Participa de espetáculos teatrais e filmes, além de livros de poesia.
EMIL, Jorge. O olho itinerante. 2ª. Edição. Rio de Janeiro: Editora Record, 2013. 13,5x21 cm. ISBN 978-85-01-40065-9 Ex. bibl. Antonio Miranda
BAILE DE MÁSCARAS
A alma humana não vê beirada
nem boia nenhuma para apoiar-se.
Solta na bruma, no espaço nebuloso,
no mar de sargaços revolto de espuma.
Foge o tempo, num átimo foge o
braço que transportava o relógio.
Cada minuto afoga um disfarce.
Ninguém chega ao ponto de conhecer-se.
O PRONTO ATENDIMENTO
Vento fraco, barco a vela,
navego e divago
devagar.
O mar revela não mostrar,
tão cedo,
terra.
Acendo a velha
e boa vela
que invoca "um tempo novo".
Vêm nove nuvens.
Cai negra neve.
Ai: chove navalha.
A FESTA DO ANTAGONISTA
I
É um jogo! — descobriu. Sem folheto explicativo,
segue às cegas. É preciso consertar, não, destruir
um secreto mecanismo que vem brincando consigo
de inimigo. Mês a mês indo atrás do prejuízo,
munido de crença até o último nível,
será impossível que vença uma vez?
II
Ele bem que se aplica, se dedica,
porém nunca identifica o vulto.
O estulto vai ajuntando dicas
e mais dificultoso tudo fica.
ESCAPADA
A alma, fumaça fujona, abandona
a carcaça que ainda funciona.
Vitória? Ligeira, pois não se demora.
E, enquanto pervaga sobrevoa sobrepaira
(morta de medo de desertar).
a carne em segredo comemora
essa libertação provisória.
CLÍNICA PARAÍSO
Esta é nossa primeira, última
conversa; e já vai longa.
Bem-vindo: e já vou indo.
Relaxe: relatos
estão descartados.
Descanse; discursos,
aqui — como ursos
bipolares de grande porte
à caça de jugulares —,
são caçados até a morte.
CONFIDENCIAL
Espero que não me ouçam
os poucos que me leem, mas
não esperem contar comigo.
Meu verso melhor, mais pródigo,
será redigido em código,
não vai entrar para a história
ou escória literária.
Vou dizê-lo em teu ouvido,
afagando teu cabelo.
Escreve o que te digo,
guarda isso que te falo:
minha glória verdadeira
é que tu queiras guardá-lo
— de primeira, mas é claro —
numa privilegiada
clareira de tua memória
à prova de violação.
Página publicada em outubro de 2017
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