JORGE ALBERTO NABUT
Nasceu em Uberaba, em 1947, cidade onde estudou e se diplomou em economia e engenharia civil. Colaborador assíduo do extinto Suplemento Cultural do Correio Católico e da revista Convergência.
Colunista Social durante 6 anos do jornal Lavoura e Comércio, e desde muitos anos, do Jornal da Manhã, onde também colaborou com reportagens semanais sobre temas da cidade e da região.
Obteve, em 1969, o lº lugar com o poema Well Gin X Ultra-M-Atic, na I SEMANA DE ARTE DE DIVINÓPOLIS. Tem participado intensamente dos acontecimentos culturais e artísticos de Uberaba, seja fazendo parte da Comissão de Seleção dos Melhores Filmes do Ano, seja compondo os júris dos desfiles das escolas de samba locais.
Escreveu e dirigiu, em 1971, o espetáculo Good GinX Bad People, adaptando-o, em 1972, para o teatro. Escreveu e dirigiu, em 1973, a peça Good GinX Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse.
Dirigiu, em 1974, o filme Clarinda e Anastácio, média-metragem colorido. Escreveu o texto e participou, em 1975, do espetáculo teatral sobre Desemboque.
É membro do Instituto de Folclore do Brasil Central e da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ocupando a Cadeira nº 6.
Obras publicadas: Coisas que me Contaram, Crônicas que Escrevi, ensaios históricos; Paisagem Provincial, poesia; Desemboque: Documentário Histórico e Cultural, (Org.); A Igreja de Uberaba, (Org.); Fragmentos Árabes, memória histórica; Sesmarias do Corpo, poesia.
NABUT, Jorge Alberto. Geografia da palavra. A obra poética de Jorge Alberto Nabut 1965-2010. Uberaba, MG: Edição do Autor, 2010l. 320 p. ilus. ISBN 978-85-911532-0- ISBN 978-85-911532-0-6 Ex. bibl. Antonio Miranda
DE RAPINA
riscam o céu em espirais
as asas abertas em raias
se cruzem se entrecruzam
nas vagas dos ventos
que assopram movimentos
e a eles basta flanar no ar
a longa distância não lhes força a vista
restrita
mas as ardentes correntes
do olfato
fato que os faz ascender
e descender
em círculos velozes
à guisa de conteúdo
que acelera o cheiro
por inteiro
mas se o olfato se engana
- cana ao invés de carne -
as barbatanas das asas
recompõem os acenos (abanos)
e logo a ave recupera a altura
e o voo retoma a estrutura
esses módulos que voam alto
não se restringem ao palco aéreo
querem o cenário sideral
voo sem limite espacial
negros e leves nas alturas
parecem pipas em sua urdidura
mas se baixam à terra
ao encontro de carcaça
a cara de peru, o corpo de águia
aí se (re)conhece o urubu
empoleirados nas arquitraves das torres
nas cumeeiras ensopadas de sol
à guisa do escudo negro de penas
aquecem a carne fria; tingidas alfenas
se espreitam a presa
já entregue e com as vísceras viradas
avançam sobre o restolho do animal
cravam-lhe as garras (os ganchos)
o bico de anzol
e dele arrancam o fato (visceral)
devorada a carcaça
o bicho medonho da infância
arma as barbatanas das asas
encolhe o pescoço plissado
e retoma o espaço astral
os ventos então lhe propiciam
outras vias aéreas; aladas moreias
(2007)
ZERO ABSOLUTO
Para Marcelo Gleiser
a 273° negativos - zero absoluto - o cientista escava informações
colhendo impressões digitais
dos processos que marcaram a infância cósmica dando nascimen-
to às primeiras galáxias e estrelas; os fósseis de nossas origens
o Universo tinha então 400 mil anos uma fração de seus 13,73
bilhões atuais relembra Harvard à Era Glacial *
- quais flutuações de temperatura permeavam a chamada radiação
cósmica de fundo?
oscilações de humores astrais
no berçário de estrelas
cristal grávido de diamantes
cosmogonia pensante
curiosidade parindo
cunhais de luzes
na escorreita escuridão
picolés de energia
meninice cósmica
brincadeira com a temperatura
a pura aventura de varar o tempo
ciente de saber a ciência
ser o caminho salubre
entre o velocípede
arcaico e veloz
e o definitivo (infinitivo) computador
armazém dos idos e das ideias codificadas
as comensuráveis distâncias cósmicas
não são previsões bíblicas
do Big Bang ao Big Ben *
a fina informação das horas
marca compassos do tempo que
- vira e mexe -
vai do ancião à criança
temperança de quem não tem pressa
-embora voe-
nem a pontuação do termómetro sideral
ou apreço por ponteiros
e pontadas do
relógio
*Baseado em artigo de Marcelo Gleiser -
abril 2008
NABUT, Jorge Alberto. Livro das chuvas. Uberaba, MG: 2015. s.p. 17,5x24 cm. Apoio: Fundo Municipal de Cultura, Prefeitura de Uberaba, Fundação Cultural, 2015. Designer gráfico: Thales Vilela Nunes. ISBSN 978-85-911532-1-3. “ Jorge Alberto Nabut “ Ex. bib. Antonio Miranda
o submerso universo
cisterna cheia lagoa na vazante lua
na minguante mergulhada espera a
estiagem pra subir inteira e grávida de
submerso plenilúnio
na rua uma poça d'água tremeluz o espelho
da minha mágoa transporta o céu nublado
para o chão barrento
um raio de luz traduz
o momento
a imagem flou
do submerso
universo
sol e chuva casamento da viúva parou de chover cabelo molhado botina ensopada terra encharcada sol e chuva casamento da viúva parou de chover cabelo molhado botina ensopada terra encharcada
BILHARINHO, Guido. Literatura e estudos históricos de Uberaba. Uberaba, MG: CNEC Edigraf, 2015. 192 p. ilus. 15x22,7 cm. (Trilogia sobre Uberaba) Edição Fundação Cultural de Uberaba. “Guido Bilharinho “Ex. bibl. Antonio Miranda. Livro de ensaios com ênfase na poesia de Uberaba, de 1940 (Modernidade) até as últimas vanguardas poéticas, da p. 31 à 79. A foto do poeta Jorge Alberto Nabut aparece no início do livros, como “Iniciador da Poesia de Vanguarda”. “Guido Bilharinho “Ex. bibl. Antonio Miranda
BILHARINHO, Guido. A Poesia em Uberaba: do Modernismo à vanguarda. Uberaba: Instituto Triangulino de Cultura, 2003. 336 p. Ex. bib. Antonio Miranda
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Página ampliada e republicada em maio de 2022
Página publicada em novembro de 2014; ampliada em dezembro de 2015.
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