JOÃOZINHO DA VILA
João Roberto Costa Júnior, o Joãozinho da Vila, a cidade mineira de Unaí,
mudou-se para Brasília em 1960, ano de inauguração da capital federal. Aos 16 anos, estreou no teatro com a peça O último rang de Jota Pingo, que teve participação especial da banda Aborto Elétrico.
O legado do artista está distribuído também na música. João criou o Bloco Violões da Vila. Ao lado do amigo Yuli Hostensky, o grupo ensaiava todas as manhãs de sábado debaixo de uma mangueira na Vila Planalto.
Além do teatro e da música, o artista também era escritor. O primeiro livro publicado foi em 2005, ano em que se mudou para a Vila. 50 anos de obra em apenas um volume reúne 50 poesias do autor e fez o artista ser figura constante nos saraus de escolas públicas do DF. Lançado em 2014, Meu masculino é feminino é coletânea marcante de poesias do artista.
Faleceu vítima de um acidente de moto, em 2017.
Meu coração
Para usá-lo
agite-o bastante:
depois use-o sem
moderação.
***
Feminino
Eu quero ser o feminino
que nunca fui,
eu quero ser o feminino
que sempre existiu em mim,
eu quero ser o feminino
que penetrou o meu
útero imaginário.
(assim como feminino
poeta Reynaldo Jardim),
desejar ter outro feminino.
Ficarei vulgarmente
conhecido
como
sapatão.
(do livro Meu masculino é feminino.)
1ª. BIENAL DO B – A POESIA NA RUA. 26 a 28 de Setembro de 2012. Brasília: Açougue Cultural T-Bone, 2011. 154 p. ilus. col. 17x25 cm.
Eu não vou chorar os meus
espermas derramados
em teu útero,
não à procura de um óvulo
mas em busca de um coração
para fecundar o amor.
Eu não vou chorar os meus
espermas ejaculados
à procura do seu íntimo prazer
encontrando a
minha desastrada solidão.
Eu não vou chorar os meus
espermas reprimidos
que estavam cheios de razão
pois o amor é um sentimento
que não se encontra somente
no tesão.
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VILA, Joãozinho [João Ribeiro Costa Júnior) - 50 anos – Obras Completas em Apenas um Volume. Capa e Ilustrações : Luigi Pedone. Prefácio: Noélia Ribeiro. Brasília: Apoio cultural: Multivistos – Assesoria em Turismo Ltda., 2010. 82 p. No. 10 100
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda, doação do amigo (livreiro), Brito, em outubro de 2024.
AVENIDA DAS NAÇÕES
Meu trabalho é transitar
pela Avenida das Nações
todos os dias.
Já consigo fazer atalhos
por onde passam
embaixadores, cônsules
e vários outros diplomatas.
Vejo uma senhora branca
e espalhafatosa,
anônima mas percebida
desfilando por essa avenida.
PALÁCIO DA ALVORADA
Moro na Vila Planalto,
próximo ao Palácio da
Alvorada.
Esses dias faltou
café lá em casa,
deu uma vontade
danada de pedir
um “cadinho”
de café para a
dona Marisa,
mas acabei não
tendo coragem.
Hoje faltou de novo,
vou lá.
Cheguei à porta
e disse:
Dona Marisa, por
favor peço
paz, tranquilidade,
felicidade e menos
sofrimento para o
povo brasileiro.
MÃEGNÍFICA
Meus filhos acham que a mãe
deles é magnífica,
isenta de culpas,
com muita razão
e sem perdão.
Será mesmo importante ser
MÃEGNÍFICA?
SARAU LUAU
Em noite de lua cheia
o lobisomen não aparece
Aparecem pessoas
maravilhosas.
O Lajão do João
fica cheio.
Fala-se poesia, canta-se, dança-se,
sempre acompanhado de uma
boa comidinha e bebidinha.
Espumante para a amante,
vinho tino para o amigo.
Ouvimos uma música do
amigo Tovar, pedindo
para rolar, rola para cima, rola para
baixo.
E assim nos divertimos.
AUUUUUUAAuuuuhhhhhh,
aparecem lobas.
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Página ampliada e republicada em outubro de 2024.
Página publicada em novembro de 2020
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