POESIA MINEIRA
Coordenação de WILMAR SILVA
JOÃO VALADARES
Poeta, ator, cineasta. Nasceu em Sete Lagoas, Minas Gerais, em 1982.
No dia da criação Deus nosimainou assim:
Exatamente como não somos.
De
HIPOTECA
Belo Horizonte: Anome Livros, 2006
BURACO NA CABEÇA DE OZÔNIO
Buscando uma forma honesta de não ser burocrático
O poeta planta ideias
Dedica a realidade para fazer fantasia
E mesmo que pareça absurdo vai pintar seu telhado de branco
Devolver para o sol o calor que dissipa na terra
Sabe que cada carro vendido e cada gota d'água pelo ralo
E mais um buraco na sua cabeça de ozônio:
Recurso infinito,
Amor por um só,
Lei de incentivo,
Hormônio animal,
Responsabilidade social,
Democracia representativa
E todas as outras verdades mentirosas que trepam por aí
Geram filhos e o faz de bobo,
Faz-se de cego.
Deve temer a fragilidade humana:
Domina a natureza, a tecnologia, a criação,
Domina a lua e os outros homens.
Aí vem o Tsunami, a inteligência a artificial, o desemprego, o mistério
divino e o vento onde não há gravidade.
O domínio maior é sobre si mesmo.
Então mesmo que pareça absurdo vai plantar uma árvore
Transmutar o dióxido que escapa do pensamento
Vão chamá-lo de farsante, mameluco, maluco, cafuzo, confuso e até
de brasileiro.
Vão pregá-lo em uma cruz,
Mas ao fim do terceiro dia a árvore vai dar frutos.
SOBROU UM
Pela terceira vez nesse século o mundo acabou!
Acabada está a pós pós-modernidade
A liquidez das relações sociais
Algo escorregadio, mas ainda palpável
Gasificou-se.
Gente altamente capacitada transita rotineiramente
E o aprendizado é injetado organicamente
Nas lojas prateleiras de DNA são artigo dissoluto
Mas quem precisa de mau exemplo?
Experiência perdeu valia no mundo em que tudo é novo
O up-grade genético possibilita a maleabilidade da mente
E a opinião é uma questão de sorte
A hora exata em que se liga a TV
O mundo acabou
É o fim da modernidade líquida
Uma vassoura virótica varreu a terra,
E o organismo foi reorganizado
Desconfio que sobrou um
Eu juro. O mundo acabou e ninguém me avisou
Eu fiquei para trás!
Página publicada em janeiro de 2009
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