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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto e biografia: http://www.letras.ufmg.br/

 

JAMU MINKA

(pseudônimo de JOSÉ CARLOS DE ANDRADE)

 

natural de Varginha - MG, desde jovem reside em São Paulo. Jornalista, formado pela ECA-USP, conquistou uma consciência positiva de sua ancestralidade africana ao se interessar pelas idéias e mobilizações que fortaleciam populações negras do mundo, como as guerras de libertação africanas e o Movimento Black Power.

A partir de então, participou de projetos político-culturais que agitavam a juventude afro-paulistana na década de 1970. Escreveu nos jornais Árvore das Palavras, Versus, Afro-Latino-América e Jornegro. Militou no CECAN - Centro de Cultura e Arte Negra - e no Quilombhoje. Integrou o grupo que traz a público em 1978 o primeiro número da série Cadernos Negros.

 

 

De: Cadernos negros 15, 1992.

 

 

         Papel de preto

 

Eu me pretendo inteiro

não papel carbono da branquice imposta

na entrada, no meio, na saída

sou traço

letra, sílaba, verso

vírgula, título e talento

pingando pretume vivo

no papel de branco

       dos livros-latifúndios dò Brasil

 

 

 

 

    De: Cadernos negros 19, 1996.

 

 

 

Racismo cordial

 

A negromestiça que não se gosta
se gasta em ânsias
alisamentos
talvez na infância
só boneca branca

 

Negros que se negam
anestesia nos nervos
Brasil banal

 

Mestiço que se mente
disfarça a tez

desfaçatez com o escuro primordial.

 

 

 

 

   De: Cadernos negros: os melhores poemas, 1998.

 

 

 

Raça &c classe

 

Nossa pele teve maldição de raça
e exploração de classe
duas faces da mesma diáspora e desgraça

 

Nossa dor fez pacto antigo com todas as estradas do mundo

        e cobre o corpo fechado e sem medo do sol

 

Nossa raça traz o selo dos sóis e luas dos séculos
a pele é mapa de pesadelos oceânicos
e orgulhosa moldura de cicatrizes quilombolas.

 

 

In: Cadernos Negros 25, 2002.

 

 Escurecendo

 

Corre-corre de quase noite
o burrinho do metrô envolve tudo
e não impede sensual balé de dedos
na barbicha do namorado negro
a bela mulata esquece o dia vira Oxum cheia de dengos

meus pensamentos fotografam um Brasil
real tão fora de nossas telas que parece filme
from USA

sob peles pretas,

identidades e vidas se multiplicam
é nosso amor sendo guerrilha
contrariando ficções e mídias da dominação

                                               daqui

que vende a mistura conveniente aos negócios
da brancura.

 

 

CADERNOS NEGROS.   Volume 23.   Poemas Afro-Brasileiros.   Organizadores: Esmeralda Ribeiro  e  Márcio Barbosa.  Capa: Foto J.C. Santos.  São Paulo: Quilombhoje, 2000.   120 p.  14 x 21 cm.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Adiantamos aqui três poemas:

 




I M P O S T U R A

O Brasil do invasor que nos pariu
não é página virgem
o domínio inquestionável da brancura
nosso história, foda
não contos de fada
dedos de trapaça desenham opressão
e seus disfarces

Brancura tatuada em nós pode ser
berço de loucura
que se cura
na crioulação escrita
da vida em luta
com as foices da impostura.

 

 

L U Z   P R Ó P R I A



Incapacidade nossa é engodo
não engulo
reinvento-me
ferro a ferro que nos ferrava
no espelho, agora, talento e tranças

Minha bíblia tem mestres de pele escura
Biko inspira e dá luz própria
não nos serve a servidão

Ei, Nzinga; ei, Nzambi, abençoai mandinga
se há miséria, haja quilombo
e quizomba pra saudar Mandela
lembrar Martin, Malcolm, Machel, Marley,.
Barreto,
Gama, Gandhi,
Neto,
Tambo
e todas as letras do alfabeto
de nossas libertações.

 

 

 

                E S P I C H A I M

      
Desejo ardente, a cara
a coroa, inveja
a gestação do trauma
o extremo oposto de detestar-se
branquificar-se
o alvo absoluto daquela ânsia negromestiça
mesmo agora, tempo de intensas tranças
e belezas afro

Vale tudo
posturas postiças
e o vício compulsivo de cabelos henecrescidos.

 

 

 

Página publicada em fevereiro de 2020; Página ampliadas em setembro de 2020


 

 

 
 
 
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