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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: http://www.carmovasconcelos-fenix.org/

 

 

HELENICE MARIA REIS ROCHA 

 

Possui graduação em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (1997) e mestrado em LETRAS: ESTUDOS LITERÁRIOS pela Faculdade de Letras (2000), atuando principalmente no seguinte tema: Amazônia, Vida. Especialista em música, área de Concentração: Educação Musical.

Nasceu em 1955,Faleceu dia 31 de julho de 2019,

 

 

O GRITO DO NADA

 

Sobre o nada regateio os

meios dias

sapateando nos espinhos

das valas

Quando calas, me desvaneço

Tu, rosto sem face que

me espreita

Sou esse rosto sem rosto

que me observa

Indigno ser errante de

um erro sem nome

Batizo as estradas

com meus pé voantes

revolvendo terra

beijando o pó da

minha espera.

 

 

 

A RIMA

 

Joana não tem dentes

Maria espera um noivo

Clarinha está doente

Joaquina não tem parentes

Julinha baila nas avenidas

e João ficou demente

Entre tantos desatinos

o que mais me assombra

também me desafia

Entre tantos rumos só

um me desatina:

como atravessar o

trapézio equilibrando

         a rima?

 

 

 

O ÓCIO

 

Despetalar o ócio

esse o ofício de

quem cria

informando o rumo de

um trabalho sem preço

Desmascarar o ofício

esse o rumo de quem

oferta sua cria no

altar da consumição

Desamarrar os rumos

esse o gosto de

quem sentencia o

doce exercício de

vaticinar as horas

Desarmar a verve

esse o dever de quem

arruma palavras em

verso

explicitando a vida.

 

 

 

A FUGA

 

De outro tanto a outrossim

escapei da lábia de Caim

Não caí no poço fundo

da amargura

Arquitetei bem a fuga

No lado obscuro

da armadilha finquei minha geração

plantei meus dias vazios

dormi sem preocupação.

Na cova do desenredo

enterrei as sementes do

medo e gritei por

precaução.

 

 

 

A PASSAGEM

 

O adro da igreja se desmancha

no ar

As reuniões de família

são trituradas no pó da

lembrança

Dança minha intacta intuição

do fim na garganta

A poesia toda me consome

Sem nome, perambulo pelas ruelas

do tempo.

Onde, os talheres do almoço

O passo miúdo de Belinha?

O canto da mãe?

No âmago do esquecimento

que tudo passa

Até as risadas dos colegiais.

 

 

AS FLORES E A PRAÇA

 

Flores silenciosas roçam as linhas do vento

rosas brancas na Praça de Santa Tereza

Belo Horizonte

Flores são seres que marcam o tempo

A indispensável primavera

e as flores

rosas,sempre vivas,tulipas,margaridas

em jardins,em bouquês,nas janelas

sempre silenciosas marcam as linhas do tempo

as flores,sempre flores,para sempre flores

a imortalidade do silêncio

 

 

AI-5. Belo Horizonte, MG: Baroni Edições, 2016.  72 p.   14 x 21 cm.  Inclui poemas de Biláh Bernardes, Helenice Maria Reis Rocha, Irineu Baroni, Petrônio Souza Gonçalves, Rogério Salgado.   72 p.  
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Sol

Eis que faliram os desígnios da morte
e a gota de sangue que batiza o cristal
fez-se flor
Naqueles tempos tudo era sombra
o sofrimento purifica
dizia meu pai
e Oscar Wilde também
não há prisões para o espírito
dizia meu pai
e ficávamos naquele escritório
docemente sombrio
fazendo Análise musical
Bach, Stravinsky, Khulau, Zanetovich
presos, de madrugada
e livres
ninguém nos alcançava
desprezávamos os exércitos de loucos

 

 
No meu ventre...

Nas noites silenciosas de minas
várias vezes sonhei comeu irmão Claudio
assistíamos a terríveis rituais incas
como inocentes e indefesas
testemunhas da história
algumas vezes beijávamos altares cristãos
no silêncio da noite
em velhas aldeias
e pequeninas igrejinhas locais, sempre
como indefesas testemunhas da história
assistimos as lutas das hordas germânicas
deixamos nossa carne no coliseu
e nosso perfume nas encruzilhadas de sangue
para consolo de almas aflitas
e oferecemos doçura para o gozo dos amantes
não fomos amados
como indefesas testemunhas da história
que nunca nos foi permitida
fundimo-nos no único silêncio possível
com toda a ternura necessária
inventamos amigos, inventamos amantes
eternos amigamantes que somos
da história e das gentes que passam
no silêncio destas minas
viajamos para as estrelas
anjos denegados
singelos pastores de territorialidades trágicas
sem nenhum interesse para nós
a esse Claudio que me sabe a Luís, Rocha
Manoel da Costa, Daufen
e minha sofrida homenagem
eu, também, inocente e indefesa
testemunha da história
inconfidente, nem tão ingênua
da nossa eterna e trágica
esperança

(Homenagem a Claudio Manoel da Costa, reencarnado como
Claudio Luís, meu irmão consanguíneo)

 

 

 

 

Página publicada em dezembro de 2019


 

 

 
 
 
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