FRANCISCO JOSÉ DE SALES
(1735?-1800/1801)
Existem controvérsias quanto à nacionalidade do autor — se brasileiro ou português — e também quando às datas de nascimento e morte. Vamos ficar com a informação constante do catálogo elaborado por Francisco Morais (1934), dando a cidade de Serro Frio, em Minas Gerais, Brasil, como provável local, segundo os documentos consultados pelo autor.
[ SALES, Francisco José de ] TOPA, Francisco. Poesia dispersa e inédita do setecentista brasileiro Francisco José de Sales. Porto, Portugal: Edição do autor, 2001. 173 p 14x21 cm. Col. A.M. (EA)
Nota: escolhemos os sonetos publicados em vida pelo autor. Toda a obra atribuída ao poeta encontra-se no livro citado acima, que merece uma visita por quem estiver interessado na nossa poesia setecentista.
Soneto Ou leve as armas a País remoto
testemunho impresso: Licença, p. 12
Aos Faustíssimos Anos do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor
D. Tomás José de Melo, Governador e Capitão-general de Pernambuco,
Paraíba e mais Capitanias anexas
Soneto I
Ou leve as armas a País remoto
E impávido sulcando os altos mares,
Ousado afronte os inimigos ares
E o Bóreas fero vença e o bravo Noto;
Ou do Régio Conselho enchendo o voto,
Do novo Mundo nos distantes lares,
Acções ilustres, feitos singulares,
Vá produzindo com valor ignoto;
É prudência e valor tudo o que encerra
O grande Herói dos Meios Eusitanos,
Que os seus anais ilustra e ilustra a terra;
Dizei, Confessai vós. Pernambucanos...
Políticos heróis, heróis da guerra,
Aprendei de TOMÁS a contar Anos.
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ABBA/ABBA/CDC/DCD.
Domina o decassílabo heróico, mas são sáfícos os v. l, 3,6 e 8, ao passo que nos v. 4 e 11 é usado o pentâmetro iâmbico.
Soneto Pôr duro freio ao dissoluto vício
Testemunho impresso: Licença, p. 13
Soneto II
Pôr duro freio ao dissoluto vício
Que as entranhas da Pátria devorava,
Promover a abundância que faltava,
Punir aos maus e ser aos bons propício;
Fazer universal o benefício,
Que a indolência culpável denegava;
Tomar feliz o que infeliz se achava
E desterrar até do mal o indício;
São, Grande Melo, as nobres fidalguias
Que ilustram já do teu Governo a história
Mais que os brasões das Régias Jerarquias.
Assim do Tempo alcançarás vitória;
Que de uns marcam-se os anos pelos dias;
Mas os teus por acções de imortal glória.
ABBA/ABBA/CDC/DCD.
Domina o decassílabo heróico, mas são sáficos os v. l, 7, 10 e 12, enquanto que no v. 4 é utilizado o pentâmetro iâmbico.
Soneto Que vejo, ó Céus! É este o desgraçado
Testemunho impresso: Licença, p. 14
Soneto III
Que vejo, ó Céus! É este o desgraçado
Pernambuco que a Fome devorava?
Que a todo o instante em lágrimas banhava
A dura algema e o grilhão pesado?
Agora exulta alegre congregado
Onde coro brava força o Mar rolava;
E no vale em que a morte ameaçava,
As Ninfas folgam, voa o Deus vendado!
Que braço, ou antes Nume alto e poderoso,
Em bens nos converteu os fatais danos,
Fez deste Povo um Povo venturoso?
Foi quem cumpre os Decretos soberanos,
Quem é Sábio, Prudente e Valeroso;
TOMÁS, que hoje domina sobre os Anos.
ABBA/ABBA/CDC/DCD.
Domina o decassílabo heróico, mas são sáfícos os v. 4 e 6, ao passo que no v. 8 é usado o pentâmetro iâmbico.
Soneto O extenso Pernambuco aos Céus erguia
Testemunho impresso: Licença, p. 15
Soneto IV
O extenso Pernambuco aos Céus erguia
A triste face em lágrimas banhada;
Vendo a moça Viúva desolada,
O Inocente, a Donzela, em agonia.
Quando o Augusto Ceptro revolvia
A ínclita Rainha sublimada;
E logo, dividindo a azul Estrada,
Vem Melo, que mil ditas prometia.
Entra logo a reinar grande abundância,
Desterra-se a Fome; e os fatais danos
Dela fogem então sem repugnância.
Parece enfim que os Numes soberanos
Aqui desceram da celeste Estância,
Quando TOMÁS numera novos Anos.
ABBA/ABBA/CDC/DCD.
Domina o decassílabo heroico, mas é sáfico o v. 13.
Página publicada em novembro de 2013.
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